30 de junho de 2009

Publicações na Feira Laica


Se podemos, por um lado, dizer que Portugal não tem um mercado de banda desenhada e/ou ilustração condigno em relação aos seus autores de qualidade, quer comparativamente a países como a França ou Espanha, quer em termos mais gerais do mercado livresco e editorial, quer até em relação às plataformas que mais garantias económicas e de divulgação poderiam avançar, a verdade é que temos observado nos últimos tempos pequenas mudanças, sobretudo no que diz respeito a uma verdadeira estruturação de um mercado alternativo ou independente. Ambas as palavras aqui dizem respeito à inscrição, ou melhor, à não participação naqueles círculos mais comerciais, mas em nenhum caso dizem respeito aos propósitos das publicações em si, dos autores em particular, que podem muitas vezes almejar atingir o maior público possível, mesmo através de estratégias de clareza e tipologia narrativa e estilística, jogos de publicidade alargados, etc. Em grande parte, concorrem para essa situação uma crescente sinergia entre vários grupos de autores, editores, entusiastas, a criação de pequenos elos em cadeia de amizades, interesses comuns, etc. Penso que, actualmente, o Festival de Beja concorre para esse papel, tal como os certames organizados pelos ou em torno dos colectivos Laica (Lisboa) e Mula (Porto); a Bedeteca de Lisboa, no seio da sua modorra institucional, consegue ir mantendo alguma vida, sendo esta Feira um dos momentos altos (este ano coroado pela exposição e pela presença dos autores finlandeses da Boing Being). Mas concorrem para esta situação mais generalizada não só aqueles nomes que mais imediatamente se associam a estas acções (Imprensa Canalha, Chili Com Carne, A Mula, Opuntia Books, etc.), mas também outros círculos, como os livros El Pep, e uma mão-cheia de fanzinistas encartados (entre os quais José Lopes, Lucas Almeida, Paulo Lima, colectivo Hülülülü), já para não falar dos comparsas de outros círculos, sobretudo musicais (Thisco & Filipe Leote, sobretudo). Assim, esta é uma oportunidade para alguns dos mais activos e interessantes produtores de publicações fazerem alguns dos lançamentos mais importantes do ano. E para obtermos, frescos das prensas respectivas, os nossos exemplares.
Não nos demoraremos em demasia neles, por razões que se prendem sobretudo com espaço e tempo, mas sem quaisquer desejos de displicência para com as publicações em si... Muitos dos autores dão continuidade aos seus trabalhos e investigações individuais, e noutras oportunidades já havíamos falado dessas pulsões, aqui mantidas, infleccionadas, revistas... (havíamos feito o mesmo exercício na Laica anterior)
Da Imprensa Canalha cumpre-nos anunciar a edição do tão-esperado Derby, uma colecção de vinte desenhos de dez artistas portugueses (dois cada), criados através do método directo (um desenho directamente feito sobre a matriz, o ecrã de impressão da serigrafia): juntaram-se Filipe Abranches, José Cardoso, Miguel Carneiro, Jucifer, Luís Henriques, André Lemos, Marco Mendes, Carlos Pinheiro, João Maio Pinto e Nuno Sousa. A divisão dos artistas nos grupos “do Porto” e “de Lisboa” prendia-se com uma leitura desportiva, mas que acabou por não ser explorada, nem na factura da obra, nem no texto de aprensentação, deste vosso criado. Ainda vieram dois fanzines. Em primeiro lugar, As Raças Humanas, de José Feitor, cuja verve humorística de semblante sério se desvia pelos discursos ultrapassados em torno das razões últimas das diferenças culturais e étnicas entre os seres humanos. Empregando textos do contemporâneo Jared Diamond, Feitor cria uma curta banda desenhada antropológica, e com textos do mais vetusto Ernesto Granger, num português dos anos 30, cria como que ilustrações de enciclopédia jovem da mesma altura (aliás, a edição original de Granger, como informa Feitor, era de uma colecção dessa natureza), algumas cujos “erros” de interpretação se tornam hilariantes, outros procurando antes ganhar a força de comentário político. Em segundo lugar, Blues Control #1, de Pedro Lourenço, contendo alguns dos desenhos animalescos, totémicos, mandalescos e epifânicos que o autor publicara nos seus blogs (* e *).
Da Opuntia Books, três novas publicações. Dry and Free from Grease é uma colecção de variadíssimas colagens de André Lemos; esta é uma outra linguagem que o autor tem experimentado há algum tempo, e poder-se-á identificar duas vertentes, sendo a primeira “infantil”, digamos assim, no emprego de largos pedaços de folhas com cores primárias para a criação de criaturas minimamente antropomórficas, e a segunda a que aqui se cultiva, utilizando as mais díspares fontes de material, para a criação de pequenas estruturas de associações, que tanto têm de Ernst como de Baldessari, como de Kirby e de Dada. A legibilidade destas colegens não é o propósito de Lemos, mas o encerramento das figuras que compõe no interior de linhas geométricas faz pensar num qualquer desejo de circunscrever a sua acção. Cult Pump, do dinamarquês Zven Balslev, faz pensar no que teria sido se Philip Guston tivesse continuado na exploração da fragmentação das figuras da sua fase mais tardia. O martelo da capa parece ser não apenas m comentário mas uma explicação do que se encontra no seu interior: os restos de imagens anteriormente completas, as vítimas de uma qualquer violência que não conseguimos identificar e somente temos o prazer, ou o horror, de contemplar os resquícios deixados atrás, os quais, todavia, já prometem leituras diversas. A associação a nomes tão dispersos como os de Dice Industries ou Sue Williams é inevitável, na procura de uma cartografia de significado. Finalmente, Time Life Life Time, de Luís Henriques, na qual, por essa ordem consequente, o autor recria capas de ambas as famosas revistas norte-americanas numa técnica de pontilhados, linhas, tramas, manchas, que parecem “traduções” do material original através de uma maquinaria quaquer defeituosa, talvez um pantógrafo perro, ou uma lente distorcida e embaciante... Mas como me conta o artista, "no fundo a mão está lá sempre, um tanto autista, um pouco cega, um pouco hábil, um pouco bruta, um pouco subtil, entre uma coisa e outra". As suas re-interpretações remetem a uma espécie de interrogação ontológica sobre a validade do mundo que é veiculado por aquelas revistas, dúvida que acaba por escoar para o próprio mundo, levando a uma sua eventual dissolução. Algumas das superfícies criadas por Henriques recordam como que doenças possíveis do papel ou da visão. Perturbante.
Jucifer, com o seu selo Bela Trampa, providenciou duas pequenas publicações, A mãe de todos os agarrados e Heavy Metal. Se bem que esta segunda apresente duas a três curtas bandas desenhadas pós-surrealistas, ou onírico-punks, a autora oferta-nos sobretudo uma colecção heteróclita de desenhos de personagens e criaturas, parecendo como que um catálogo de teratologias, medos urbanos, comportamentos de desvio que cada vez menos são desvio mas padrão, num misto de violência e humor... É como se a família dos Barbapapa subitamente se rebelasse contra o seu delicodoce universo e se virasse para uma chacina sem fim. Por razões mais pessoais e de posse, fico contente em ver publicado o desenho do homem bebendo o mijo de um sagui como se de um odre de vinho se tratasse, original o qual ornamenta uma casa-de-banho, apropriadamente.
Mas a maior surpresa, a grande diferença, a palma de ouro, vai sem dúvida para Pepino. Esta é uma “revista feita por pais e filhos” e a eles devolvida. Na verdade, o corpo editorial é composto pelas “mães”, mas é uma publicação associada às famílias em crescimento das pessoas dos Ateliers de Santa Justa, e poder-se-á dizer que é uma revista infantil alternativa: tem desenhos (de miúdos e graúdos), passatempos, poeminhas e poemãos, reportagens e receitas, dicas e histórias. Encontrando aqui material de André Lemos e José Feitor, e crendo que virá a incluir outros trabalhos de mais autores, mas inflectindo na direcção de um público infantil, faz-nos pensar em toda uma série de outras experiências, desde os livros de ilustração de Taro Gomi a Pee-wee Herman’s Playhouse (na qual colaborou Gary Panter), passando por séries como Sardine de l’espace e Ariol... É curioso ver as transformações ou adaptações desses estilos familiares mas num contexto de divertimento relativamente simples e relativamente tolo. Mais importante, porém, é a inclusão real dos trabalho, ideias e pensamentos das meninas e meninos envolvidos. Uma das partes mais interessantes são precisamente os pensamentos deles. E se o Martim, de 5 anos, acredita que as dores de cabeça “servem para não pensarmos alguns pensamentos”, só se pode desejar que não tenham quaisquer dores para puderem aceder a todos os pensamentos possíveis. Acredite-se, e confirme-se junto ao blog do Pepino, que o que está aqui em causa é uma educação pela exposição a tudo (sem distinções do que deve ser para crescidos) e pela atenção às personalidades dos pequenos. Se a ilustração e a banda desenhada é ainda por vezes vista por muitos sectores como “coisas para miúdos”, será interessante ver a criação consciente de “coisas para miúdos” com algum grau de liberdade, frescura, originalidade e loucura.
Notas: agradecimentos a José Feitor e Mike Goes West pelo convite relativo ao texto, a André Lemos pelas ofertas, e tip’o the hat a Filipe Abranches pelo que fica visível no Derby.

27 de junho de 2009

Stonecutter. Jon J. Muth e John Kuramoto (Feiwel and Friends)


Este pequeno grande livro deve ser aparentado não com os “livros de bolso”, mas com os “breviários”. A razão pela qual alertamos em primeiro lugar para a exclusão da primeira categorização deve-se ao facto de Stonecutter ser uma obra que Muth havia publicado em 1994 sob a forma de uma edição limitada, desta série de pinturas suscitada por um conto tradicional sino-japonês, sendo esta a sua primeira edição em livro. E num formato pequeno, daí a designação “livro de bolso”. Todavia, o cuidado desta edição, desde o tipo de papel à impressão ligeiramente em relevo dos pretos das tintas, passando pela distribuição das breve linhas de texto, uma ou duas curtas frases, a um leve cinzento no topo da página da esquerda, leva a querer colocar antes este livro nas mesmas estantes onde encontraríamos, por exemplo, os livros de horas medievais, o também pequeno Songs of Innocence and of Experience, de William Blake, e até mesmo o estranho e multímodo The New Sins, de David Byrne. Quer dizer, se bem que mais rapidamente se procuraria inscrever Stonecutter nos pequenos grandes livros ilustrados da classe de um Masereel ou mesmo Gorey, a verdade é que o propósito deste é bem mais espiritual, e não tanto narrativo, independentemente das vontades, humores e papéis ideológicos dos exemplos assinaláveis. Trata-se menos de um livro para ler somente (se “somente ler” for entendido enquanto uma acção física e perceptiva que se esgota rapidamente) do que para degustar lenta e repetidamente. No momento em que sabemos qual a história, passa a ser visitável em qualquer das suas páginas, fora de ordem, ou melhor, abertas numa qualquer ordem que nos diga respeito, a nível pessoal.
Pela figuração, estilização, o emprego das aguadas, o balanço entre as poses estáticas e as expressões mais dramáticas, e as ruborizações dos rostos, não é de estranhar que o seu estilo de desenho, aguarelas ou pintura seja aproximado do do seu colega e amigo Kent Williams, o que, provavelmente, leva até mesmo a contínuas confusões e enganos nas atribuições dos seus trabalhos, na qual, confesso, eu próprio incorro por vezes, apesar dos pormenores distintos entre os dois. Poder-se-ia aproximá-lo(s) ainda de Georges Pratt, outro colega, amigo e colaborador (também aluno do Pratt Institute como Williams, mas sem qualquer relação entre os nomes), mas com menos semelhanças imediatas; assim como de o aproximar das estilizações da História da Arte que poderiam recuar até ao movimento da Secession vienense, mas o que importa notar neste, como noutros trabalhos, é a sua requalificação através da pintura-caligrafia sino-japonesa zen. A sua obra no território da banda desenhada não é incomportável, mas compreende um trajecto que parte do pós-hippie Moonshadow (dos anos 80, escrito por J. M. DeMatteis) ao Meltdown (precisamente com Williams, numa história de super-heróis com o Wolverine e o Destrutor/Havok, escrita pelos Simonson, e que serviu de introdução a toda uma geração de portugueses e brasileiros a estes artistas), passando pelo excelente e infelizmente pouco debatido The Mystery Play (escrito por Grant Morrison) até a “Exiles”, um dos episódios “soltos” do último volume da saga de The Sandman, de Neil Gaiman. Esta última história interessar-nos-á na medida que em Muth emprega a mesma técnica pictural de Stonecutter (há uma coincidência do período de criação, igualmente).
Um outro conjunto de trabalhos do autor é na literatura gráfica infantil, no qual se destacam Stone Soup (sim, essa sopa de pedra!), Zen Shorts e The Three Questions, nos quais se destaca a inclinação do autor em, bebendo de fontes tão díspares quanto os contos tradicionais da Ásia Oriental ou Tolstoi, se entregar a uma busca profunda que se encontra na equação simplicidade-da-narrativa/profundidade-da-lição típicas da filosofia zen.
Pois é aqui que convergem os interesses de Muth e que levam a Stonecutter: a aliança entre o domínio de uma técnica e uma opção por uma certa natureza de narrativas. Por um lado, nota-se na sua carreira de escritor uma predisposição para estes singelos contos, aparentemente simples mas nada inocentes, surpreendentemente lineares na sua estrutura narratológica mas solevando as questões mais fundamentais da existência humana, sobretudo da possível felicidade de nós mesmos e da complacência para com os outros. Por outro, mas que não deixa de ser uma dimensão artística, de um fazer, dessa mesma predisposição, há este domínio de Muth pela pintura caligráfica chinesa, com os seus instrumentos típicos, pincel, papel e tinta-da-china. Desde já, aconselharia acompanharem parte da explicação deste projecto e mesmo a testemunhar parte desse trabalho no vídeo criado a propósito desta edição, aqui. Quando Muth afirma que “cada imagem é como se fosse uma exalação concentrada”, e do movimento das linhas e do emprego total do corpo e da mente, não está longe do pensamento estético filosófico que o artista chinês do século XVII Shitao deixou nos seus escritos. A distinção de pintura e de caligrafia é uma matéria típica da categorização disciplinar ocidental, já que no entendimento clássico chinês, ambas fazem parte, com a poesia, da acção holística da criação das “três perfeições”. Nas palavras de Shitao, que tanto tem de mantenedor das tradições que herdara como de revolucionário, “o Gesto Holístico do Pincel existe antes de tudo: a caligrafia e a pintura são as suas aplicações consequentes”. O “Gesto Holístico do Pincel” quer dar conta do termo de Shitao que pode ser traduzido de outro modo, por exemplo, “a linha primeva” ou “única”, e tem a ver com essa união espiritual, física, tornada patente nesta pequena obrinha em todas as suas dimensões. No Japão, essa união da caligrafia e da pintura é conhecida como sho, a qual Muth estudou, juntamente com escultura em pedra, nesse país (o título caligrafado em kanji, nas páginas iniciais do livro, é do autor).
Muth aplica sobretudo essa aprendizagem na gestão dos vazios. Pela figuração precisa e representativa, é óbvio que Muth é um artista ocidental, não seguindo as múltiplas técnicas da pintura clássica chinesa, com toda a sua tipologia de pinceladas e traços, cada qual correspondendo não apenas a um objectivo de representação como de conceptualização do mundo. Não obstante, a forma como emprega o pincel (veja-se com atenção o modo como, no vídeo, ele elabora um círculo) permite a emergência desses vazios ou “brancos” que concorrem em larga medida ao preenchimento da imagem (curiosamente, se bem que sem qualquer relação com as ideias propostas pela estética chinesa, Töpffer acaba por dizer o mesmo a propósito da forma como desenha, i.e., “incompletamente” na figura mas holisticamente na percepção, entendimento e fruição). O maior teórico no mundo ocidental desse conceito do vazio na arte chinesa continua a ser o escritor sino-francês François Cheng, sobretudo com Vide et Plein. Le langage pictural chinois. Uma forma de entendermos essa relação é aquela entre o wu, o “vazio”, e kong, o “espaço” (logo aqui entendemos que a dicotomia básica cheio-vazio ocidental não corresponde na totalidade àquela chinesa, ou sequer, mais próximo talvez da de nada-alguma coisa, como se se tratassem de duas classes ontológicas de “vazios”...): mas o que se procura não é uma oposição, mas antes a construção de um balanço harmonioso (tal qual no famossíssimo símbolo do yin e yang). Se bem que o vazio primordial, taoísta (note-se na insistência do círculo neste livro de Muth, represente algo ou não), tenha sempre uma predominância, como se se tratasse de um virtual sempre presente, anterior ao gesto da pintura, ou a qualquer gesto.
Em termos dos desenhos de Muth, isso é claríssimo nalgumas das suas instâncias em Stonecutter, como nas da cadeira, da lâmpada (o artista não se coíbe de construir uma amálgama ocidental-oriental na sua interpretação do conto), dos pombos, da chuva, dos blocos de pedra ainda por esculpir... Há uma técnica clássica nesta pintura: mergulham-se os pêlos do pincel apenas até metade na tinta, e quando se o aplica sobre a superfície a pintar, pressiona-se até quase ao cabo (a posição do pincel é sempre perpendicular à superfície na pintura chinesa) de forma a que quando se move o pulso acabem por surgir troços sem tinta, “buracos”, “vazios”, plenos de sentido. Muth cumpre-o.
O conto, tradicional, e que conhece muitas versões – das quais podem encontrar no youtube algumas em animação, inclusive a do animador e ilustrador infantil Gerald McDermott, e o qual é aparentado com algumas lenga-lengas ocidentais - foi reescrito por John Kuramoto num estilo austero, simples, sem grandes engalanamentos e acrescentos. As frases, separadas a cada folhear de página, e acompanhadas pelo ritmo das imagens, torna a sua leitura e releitura num exercício análogo ao da respiração, da recitação de um mantra, de uma oração.
E é esse, penso, ser o último propósito desta versão de Stonecutter, agora às mãos de todos.

IJOCA Vol. 11, no. 1

Serve o presente post apenas para indicar que ja está disponível o último número do International Journal of Comic Art (Vol. 11, no. 1, Primavera de 2009), ou IJOCA, no qual o editor John Lent foi gentil em publicar três resenhas minhas, que os leitores já leram em português, a propósito do livro de Lavanchy sobre Juillard, e as publicações MEI e CIRCAV, nos recentes números dedicados ao estudo da banda desenhada.
Depois da leitura deste mastodonte de mais de 550 páginas de texto, voltarei aqui a dar notícia dos seus artigos, que prometem, tendo em conta o dossier sobre banda desenhada checa, um artigo de David Kunzle sobre Gary Larson (!), uma reminscência da filha de Alberto Breccia, um artigo sobre o gibi brasileiro mítico e de curta duração Crás!, entre muitos outros...
Agradecimentos aos editores desta publicação. Much, much obliged!

Children's Literature, de Seth Lerer, e A Infância é um território desconhecido, de Helena Vasconcelos. No Cadeirão Voltaire.

Por vezes, jamais por acaso, mas por contínuo crescimento ou obrigação intelectual, o estudo do campo da banda desenhada e da ilustração leva-nos a leituras académicas ou de divulgação mais ou menos felizes. E se na maioria das vezes nos ficamos pelo sublinhar, o apontamento e a preparação das sebentas, outras tantas leva-nos a uma reflexão um grau mais cuidada.
Na continuação das minhas "notas à margem mais ou menos organizadas" (que deveria ter sido o subtítulo do lerbd), escrevi uma resenha crítica a duas publicações ligeiramente análogas nos seus objectos gerais. O primeiro é um título norte-americano, académico, Children's Literature: A Reader's History from Aesop to Harry Potter, de Seth Lerer, e o segundo uma obra portuguesa, de notas de leitura em torno de livros sobre o conceito da infância, da bibliófila Helena Vasconcelos, A Infância é um território desconhecido.
No entanto, para o lerem, deverão dirigir-se ao blog da Sara Figueiredo Costa, Cadeirão Voltaire, assento o qual teve portas abertas a este texto, e no qual se está muito confortável entre tantos livros e bibliotecas. Os meus agradecimentos à Sara, por tudo, que é tanto.
Ligação directa ao artigo, aqui.

25 de junho de 2009

The Life of Christ in woodcuts. James Reid; e Vertigo. Lynd Ward (Dover)


Podemos afirmar que a história da banda desenhada, na sua máxima amplitude, ainda está por trilhar completamente. Existem, sem quaisquer dúvidas, muitos sendeiros parciais, a cartografia dos principais marcos, o sulcar das direcções a seguir e pesquisar. Mas em termos de síntese e de fluidez (quer dizer, ainda nos faz falta um The Story of Comics, à la Gombrich), existem ainda cantos por perscrutar, nichos por trazer à luz, blocos por considerar. A história, porém, faz-se no presente.
No seu livro sobre esta classe de livros – novelas sem palavras e usualmente de xilogravura, cuja maior concentração se deu na década de 1930 -, David A Beronä indicou numa pequena nota como não incluiria no seu estudo alguns dos livros que lhe poderiam ser coligidos, citando os vários livros em torno da vida do Cristo, e citando este título de Reid, originalmente publicado em 1930. A opção, parece-nos, deve-se a duas razões: em primeiro lugar, para se garantir uma maior reflexão sobre os títulos abordados, não se procurando uma dispersão enciclopédica, o autor centra-se em obras de invenção “original”; em segundo lugar, dado que a inventabilidade associada à vida de Jesus se encontra profundamente limitada, e ocorre no interior de uma história sobejamente conhecida na nossa cultura e civilização, apenas se procurariam explicações meramente estilísticas, que não garantiriam um aumento da qualidade média dos trabalhos discutidos. O acesso agora permitido pelas edições Dover - sobejamente conhecida pela garantia e acessibilidade de obras há muito esgotadas, antigas ou de difícil manejo, desde as gravuras tardo-medievais de Durer aos romans-collage de Ernst, dos desenhos de um batalhão de referências às ilustrações de grande referência – a este livro (e do Vertigo de Ward) permite-nos compreender melhor, e até aceitar, a precisão da exclusão de Beronä. De facto, The Life of Christ in woodcuts apresenta-se-nos como uma obra pouco notável.
Dividido em quatro capítulos de tamanho similar (“The Infant”, “The Boy”, “The Son of Man” e “The Messiah”), James Reid apresenta os episódios mais famosos e esquemáticos da vida de Jesus: poucos em maior pormenor, como a matança dos inocentes, sendo a sua maioria apresentados sumariamente, como os milagres dos anos da sua pregação pública. A juventude (o capítulo intitulado “The Boy”) apenas apresenta cinco imagens, com grandes saltos temporais entre si, uma vez que é uma fase da vida de Cristo sobre o qual nem há escritos nos Evangelhos nem se desenvolveriam mitos ou lendas suficientemente fortes para vir a fazer parte do imaginário com ele relacionados. As duas últimas imagens desse capítulo mostram um Jesus observando um grupo de jovens casais caminhando, e ele ficando para trás, cabisbaixo, como se soubesse ter de abandonar essa vida mundana e isso representasse algum peso e, quem sabe, arrependimento ou mesmo desejo de renúncia. É, portanto, o único momento em que Reid parece contribuir com uma ideia ou interpretação sua, mas que acaba por não se desenvolver e cuja força, assim, não pode ser avaliada. Não estamos perante uma ficção forte em torno desta personagem como em King Jesus/Rei Jesus, de Robert Graves, nem num anedotário poderoso como 2001 Après Jesus Christ, de Jean-Luc Coudray com Moebius. Não há espaço para isso.
Um outro ponto problemático é o da representação de Judas: a de um homem de tez absolutamente negra, com orelhas e dedos pontiagudos, dentes aguçados e expressões assaz melodramáticas, idênticas às do demónio que havia tentado o Cristo, umas páginas atrás (em contraste com o rosto carregado do Cristo maduro ou sem expressão dos discípulos, por estarem envoltos em grandes sombras, da barba, cabelos, etc.). Deve mais a Nosferatu do que à representação de um negro, hipótese que não é de descartar completamente, se bem que fosse necessária uma avaliação histórica mais concreta e exacta. O que se retira dessa representação, para além das óbvias conotações racistas, é a de que Judas era intrinsecamente mau... Nada de surpresa aqui, segue-se o dogma, e espera-se que venha a ser roído eternamente pelas presas do Satanás de Dante.
Para além do paupérrimo contributo de Reid ao discurso teológico possível, à invenção romanciada da vida de Jesus, estilisticamente estamos perante uma obra com pouca matéria de agradibilidade. Os corpos são demasiado alongados, e o expressionismo parece mais caricato do que intenso. Alguns dos filmes bíblicos de Cecil B. DeMiller já haviam sido feitos, mas aqui ganham uma qualidade menos heróica do que de sobras de papelão.
Não colocamos em dúvida a pertinência do estudo deste livro no quadro dos livros ilustrados em xilogravura do seu tempo (terreno ainda por resgatar nas histórias amplas da banda desenhada e da ilustração), e até mesmo dos livros em torno da figura de Jesus, cuja história iconográfica é reveladora das transformações mentais de cada época, mas por si só, The Life of Christ in woodcuts de Reid não sobrevive enquanto grande obra.
Aliás, a sua apreciação “pela negativa” leva a um reequilíbrio curioso, ou melhor, a uma asserção cada vez mais forte “pela positiva” de outro autor. Tal como estudo da vastíssima produção de ilustração dita “vitoriana” nos obriga a uma travessia por um cerrado mato de personagens sem expressão, situações sem densidade, meros décors de correcção social, e pura e simplesmente desenhos sem qualquer traço de verdadeira vida, mas ao mesmo tempo nos permite aperceber as razões pelas quais os nomes de Gustave Doré, Richard Doyle, John Gilbert, Harrison Weir, entre outros, brilham como excepções, também a leitura de livros como os de Reid e de Ward nos fazem recalibrar o peso, cada vez mais exacto e inevitável, de Masereel.
O problema de Lynd Ward não é tanto a falta de expressividade do rosto das personagens (varrendo o “expressionismo”, portanto, para apenas a angulosidade dos ambientes, o recurso às tramas de linhas paralelas para a dinamização das acções e o melodrama das situações), como ocorre nas dezenas de negligenciáveis ilustradores vitorianos, ou até mesmo de Reid. É antes da a expressão errada, ou errónea. O melodrama, a hipérbole, o bathos, são as características – apetece quase dizer “americanismos”, se no permitirem este abuso generalista e preconceituoso, que apenas dá conta das produções culturais dadas à espectacularidade, e não daquelas que partem de uma pesquisa mais pessoal dos seus autores. Ward encontra eco numa espécie de “espírito médio”. A esmagadora maioria dos rostos das personagens que apresenta jamais mostra os olhos, ora por se apresentar numa posição que não apresenta o rosto aos leitores, ora por ocultá-los em densas sombras negras. Quando o faz, como ao banqueiro assustado, o edifício da expressão rui, pois Ward não consegue transmitir pelos seus traços o modo de comportamento mais humano previsto nos olhos (e na sua representação).
Vertigo (de 1937) tem as suas forças, naturalmente. O texto introdutório de Beronä sublinha-os: a opção pela construção narrativa separada entre as três personagens, obrigando o leitor a uma re-construção dos eventos e das relações; o tamanho da obra que permite explorar várias camadas narrativas e desenvolvimentos das acções; o posicionamento político de esquerda que atravessa a “moral” da história; o desencantamento social com a modernidade e a apresentação de um final quase desesperado (se não mesmo de desistência); a “abertura” das gravuras às generosas margens brancas da página; a fina resolução do trabalho das tramas e do grão da imagem, mostrando o domínio técnico de Ward da xilogravura; a integração do texto escrito no universo diegético para concorrer e apoiar a história; a oscilação entre abandonar as personagens no centro das paisagens, urbanas ou não, demonstrando o seu fraco poder, ou aproximando-nos delas para dar a ver pormenores significativos. No entanto, muitos destes aspectos já haviam sido explorados em datas anteriores por outros autores, noutras paragens às quais seguramente Ward teria acesso, na sua aprendizagem académica. A relação entre a xilogravura e a escola expressionista (e, depois, a do Novo Objectivismo), de sinal político de esquerda e todos os valores sociais e económicos que ela representa, eram já apanágio de todo um grupo de expressão alemã que contava com Kathe Kollowitz, Kirchner ou Emil Nolde, por exemplo (a própria Dover tem um livro dedicado a esse “grupo”; e é directamente aliado à mesma veia que encontramos Frans Masereel). A sua aplicação à caricatura narrativa, ao cartoon, à banda desenhada e até mesmo ao livro de imagens, ainda que mais temático do que narrativo, era também algo detectável na Europa, pelas mãos dos autores da Simplicissimus ou da L’Assiete au Beurre (nos Estados Unidos, a publicação correspondente era The Masses). Quando falamos de livros, falamos de “álbuns de caricaturas”, ou de desenhos, como os de George Grosz, Das Gesicht der herrschenden Klasse (de 1921) e Abrechnung folgt! (de 1923), podendo mesmo recuar-se a Bordalo.
Ou seja, Ward estava na esteira de uma já longa tradição, mas apura-a enquanto forma narrativa (e modo de publicação), tornando-a mais clara, mais espectacular, quem sabe mais eficiente perante o imaginário da sua época, paulatinamente a passar a ser criado quase em exclusivo pela indústria do cinema. Beronä quer reavaliar a história da banda desenhada, considerando Ward (e Vertigo em particular) como percursor daquilo que viria a ser chamado nos Estados Unidos por “graphic novel”, formato o qual – nesse país e de acordo somente com os princípios com que lá se pautam – apenas surgiria mais tarde. Será por essa razão que a acapa deste livro é refeita para que o título e o nome do autor figurem integrados de um modo dinâmico nas estruturas dos edifícios? De certa forma, é uma recuperação e aplicação retroactiva de uma conhecida fórmula de Will Eisner (o suposto “inventor” da graphic novel, suposição sobre a qual já existe uma larga história que corrige essa ideia), para tornar ainda mais clara essa inscrição no tecido histórico. Todavia, parece-nos que é maior o esforço quanto menor a verve interna da obra... Ward não é desprovido de interesse, bem pelo contrário: deve desde já fazer parte de uma consideração maior sobre este território. Mas é curioso como a cada sua leitura se torna mais forte a presença de Masereel, incólume e crescendo.
Nota: o vídeo é de má qualidade, mas ainda demorarei a aprender a controlá-lo. Se o fim vos parecer abrupto, é porque o é: mais uma vez a interrupção deve-se à Miki.

21 de junho de 2009

SuccoAcido: Alan Moore. Comics as Performance, Fiction as Scalpel. Annalisa Di Liddo (UPM)

O segundo artigo na SuccoAcido já está disponível. Aqui.
Desta feita, trata-se de uma pequena resenha crítica ao livro académico da italiana Annalisa Di Liddo, Alan Moore. Comics as Performance, Fiction as Scalpel, que aconselho vivamente a todos aqueles que se interessam por Moore, pela análise da banda desenhada de perspectivas narratológica, dos estudos culturais, dos estudos femininos, pós-colonialistas e críticos em geral.
Tendo em conta algumas das questões suscitadas nesse livro, uma segunda parte do texto versa sobre a trilogia Lost Girls, com Melinda Gebbie, e a série Promethea, com J.H. Williams III e colaboradores, enquanto obras de banda desenhada "mágickas".
Dadas as limitações formais do site, o texto é apresentado de corrido, com cada parágrafo iniciado por uma frase em negrito; algumas das legendas das imagens estão trocadas ou truncadas, o que espero seja resolvido em breve.
Nota: agradecimentos a Annalisa Di Liddo, pelos dois dedos de conversa por email.

18 de junho de 2009

Várias publicações. Craig Atkinson (Café Royal)


A propósito da vinda deste artista ao Porto, para uma master class e uma exposição no espaço Dama Aflita, comissariado por Paulo Patrício (que tem aqui um informativo texto sobre Atkinson), a qual não pude visitar, chegaram-me às mãos estas suas quatro publicações, editadas pela chancela do próprio: Reward, Return whence you came (ambas de 2008), Zero Gravity e Invasion/Invasão (ambas de 2009).
A primeira ideia que me vem à cabeça é aliá-lo a artistas como aqueles encontrados na Fukt ou em inúmeras outras publicações que tomam o desenho não apenas como disciplina livre como liberta de todo um manancial de regras que lhe haviam sido impostas ao longo da sua vida e existência académica, secundarizada ou até mesmo encalhada num emprego galerístico (leia-se, mercantil). Todavia, a segunda ordem de ideias ao ver esta sucessão de desenhos é a sua falta de talento, o desleixo com que são feitos e compostos, até mesmo a feiura particular. Enfim, a sua falta de qualidades.
Aparentemente. Esta “certa falta de qualidades” observa-se em nomes tão díspares no seu peso e fama como os de David Shrigley, Ben Jones, Paper Rad ou Mauro Cerqueira. Mas esta natureza “sem qualidades” deve ser entendida como todo um programa, e não como uma fraqueza perante modelos mais disseminados. Segundo as lições de Manuel de Freitas, no prefácio que fez à sua antologia Poetas sem qualidades (Averno, 2002), que esperamos não abusar na sua aplicação ao desenho, entende-se essa natureza como que uma continuidade do que havia sido apresentado como modernidade por Baudelaire, sobretudo em O Pintor da Vida Moderna (texto no qual se discute a obra de Constantin Guys, que seria visto antes como um “ilustrador” ou mesmo um pintor “sem qualidades”): “o transitório, o fugidio, o contingente”. Repare-se que a expressão é “sem qualidades” e não “sem qualidade”, uma vez que o plural aponta para uma multifacetada e mutável natureza de permanente recriação, a “beleza passageira, fugaz, da vida presente” entrevista nos desenhos de Guys, pelo texto de Baudelaire.
É de notar que nesse texto, a modernidade é vista como “a metade da arte, cuja outra metade é o eterno e o imutável”, ideia articulada com a noção da Beleza, para Baudelaire, ser constituída por um elemento hodierno, mutável, e outro eterno, mas de um modo indissociável (em detrimento da sua total dissolução). A atenção e a execução de Atkinson está feita de modo a captar essa natureza fugidia, sendo os próprios materiais e linhas que faz fugidios, sendo não só uma tradução excelente dessa modernidade veloz, como eventualmente abrindo caminho a essa outra metade da beleza. Nada tem, portanto, a ver com rodriguinhos, ou na observação desejante de apanhar os navios de uma qualquer fama ou glória – se bem que a máquina do mundo e do mercado da arte tenha hoje outras antenas e uma voracidade que engloba mesmo estes desvios... Tem a ver, e aqui de novo retornamos a Manuel de Freitas, a uma certa ideia de “comunicação” (que menos terá a ver com as teorias académicas do que com a ideia poética de vasos despejando-se uns nos outros).
Como víramos a propósito de muitos outros autores, importa portanto olhar estas publicações em termos de taxionomia, que objectos resguardam no seu interior, que continuidades, que séries, que corpos desenham no seu conjunto. O que vemos são edifícios e figuras geométricas (drasticamente retorcidos), objectos simples (as ferramentas de trabalho, como se vê em Zero Gravity?), rostos de personagens anónimas ou de famosos desfigurados (notoriamente por um bigodinho à Hitler), criaturas mais estranhas ou pequenos monstros, apontamentos de viagem. Tudo isto feito em papel por vezes timbrado, ou arrancado a cadernos ou algo de um uso anterior. Não faltam igualmente colagens ou reaproveitamentos de material gráfico, que tanto pode ser entendido como uma reutilização irónica comentando sobre esses mesmos produtos anunciados como uma revisitação da estratégia artística do readymade, da reapropriação, ou simplesmente de uma reavaliação dos possíveis trânsitos do imaginário.
Invasion/Invasão é o maior livro, assim como aquele que se apresenta com uma forma mais acabada e rica (e mais caro, claro), provavelmente por ter sido feito por ocasião da exposição na Dama Aflita. Apesar das tipologias dos objectos representados não diferirem em muito das restantes publicações aqui indicadas, a esmagadora maioria dos desenhos apresenta-se aparentemente em papel branco “limpo”, e as figuras flutuam mais livremente nessa mancha desimpedida, havendo também uma maior número de desenhos do que parecem ser diários de observação real. Mas as mesmas tipologias livres continuam a digladiar-se por um espaço de privilégio, sem o conseguirem.
Alguns desenhos oscilam entre o mais rápido carácter do esboço e a nervosa linha do rabisco distraído, outros apresentam linhas mais seguras e buscadoras da nitidez para com a representação, ao ponto do reconhecimento, um dado objecto mais ou menos complexo (um afia-lápis, uma câmara fotográfica, uma paragem de autocarro, uma basílica, um rosto famoso). Alguns outros, a marcador grosso, fazem estruturas hipnóticas (reminiscentes ou irmanáveis a C.F.), ou padrões, outras acompanham-se de frases ora curtas ora maiores, mas sempre como se fossem máximas que são tão vazias quanto aparentemente importantes: “cordless kettles are better than corded kettles” (e daí, talvez se aprenda algo...). Alguns desenhos repetem-se de uma publicação a outra, com variações, ou em cor diferente. Alguns... Poder-se-ia continuar este exercício, sempre com o qualificativo “alguns”, jamais havendo uma consolidação da totalidade, ou sequer da maioria, uma espécie de corpo comum, de coerência, pois não é nem o primeiro nem a segunda o que se busca, mas uma imediata tradução, como vimos, das sensações modernas fugidias, contingentes, das impressões momentâneas, em marcas perenes, de uma beleza dúplice, mas que devolvem sempre essa mesma fugacidade.
Nota: agradecimentos a Miguel Carneiro, por ter servido de pombo-correio.

16 de junho de 2009

Army@Love. Rick Veitch e Gary Erskine (Vertigo).

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14 de junho de 2009

Várias publicações em torno de Beja.


Por ocasião do Vº Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, e numa conversa com um bom amigo da banda desenhada, foi-me colocada a questão de porque estava ausente das minhas discussões este ou aquele título, ao que respondi que prefiro nada dizer do que montar um discurso negativo, sobre algo de que não se gosta, com que não se sente empatia, ou que não suscita qualquer tipo de discurso. Ao ter dito isto, que penso não ser revelação nenhuma, mas bastante claro no que faço, este meu amigo disse-me que era uma “posição cómoda”. Pensando bem, não o deixa de ser, de facto, uma vez que me permite não tornar este espaço numa espécie de tribuna em que faria (tentaria) derreter uma qualquer obra através de uma demolição de qualquer espécie, e assim criar dissabores ou até mesmo inimizades, as quais não desejo, já que trato os autores em primeiro lugar como pessoas e com as quais me relaciono nessa base, deixando a sua qualidade de autores em segundo lugar nessa relação, mas em primeiríssimo na construção do discurso crítico. Essa é a mesma razão pela qual não me importa revelar aqui com quem me relaciono mais ou menos intimamente, pois para além do leitor comum nada ter a ver com isso, e não merecer uma entediante exposição da minha vida privada e dos outros, essas relações a nível pessoal em nada me tornam mais ou menos capaz de discutir as suas obras, em nada elas me proporcionam informações especiais que queira empregar nos textos para demonstrar uma qualquer “superioridade” face às capacidades de leitura individuais dos leitores deste espaço, leitores também de alguns, se não todos, os textos de banda desenhada, obras de ilustração, etc., que aqui trago à discussão.
Mas a razão mais duradoura e de ouro é que estou em crer, sob os auspícios das lições de Walter Benjamin, de que a tarefa do crítico é estabelecer a ligação da obra concreta com a ideia mais abstracta, superior, de arte (ou da arte particular em que se inserir essa obra, se preferirem essa qualificação e segurança). Isto é, a obra de arte viverá a sua própria autonomia objectual, sem dúvida, e terá acesso aos seus leitores próprios, mas o leitor mais ponderado (e que poderá levar o nome de “crítico”) criará associações de vária natureza de modo a recolocar essa mesma obra num corpo maior, chamemos-lhe tradição, cânone, cômputo, lista, género, ou, enfim, com todas as bênçãos e perigos que tal palavra acarreta, arte. Essa ligação e associação só se torna possível através de uma argumentação, de uma leitura cuidada dos pormenores que compõem a obra, da sua análise e consequente síntese e aproximação a outras obras (sendo as limitações dessas associações apenas ditadas pela própria obra, em nada se obrigando exteriormente), e assim sucessivamente até ao corpo total da arte (que jamais encontrará, felizmente, contornos totalmente legíveis e nítidos). Esse processo só se torna possível na ideia de construtividade, de apreensão das suas facetas positivas, de apreciação das suas particularidades, por menores que sejam, enfim, por uma certa qualidade de aceitação a que podemos chamar, sem qualquer laivo de lamechice ou de misticismo, de amor. Temos de amar essa obra, mesmo que momentaneamente, e procurar com o seu louvor elevá-la a uma qualidade maior do aquela que tem antes da leitura.
Isto implica que é as notas de leitura mais rapidamente se suscitam na positividade do que numa situação de desagrado. E, também – e assim a ideia de “comodidade” talvez não seja desprovida de sentido – a verdade é que a construção positiva desses argumentos convida à sua discussão, à aproximação dos leitores, e assim à ideia de convergência estética possível. Tecem-se portas abertas. O posicionamento contrário, negativo, forma uma ideia de tribuna, de cátedra, de distância superior a partir da qual se “dita um juízo”, dificilmente procurando essas pontes e portas. Não é que seja impossível de fazer... Recordem-nos de Wanya. Quando abundam, em demasia mesmo, elogios que mais demonstram não ler com atenção a obra proposta, torna-se quase imperativo trazer à superfície da discussão um contraponto, que alerte às dimensões semi-ocultas dessa obra. E recordemo-nos de outros livros, aqui discutidos, cujas forças prestadas não se coadunaram com as promessas que delas se fizeram, precisamente aquilo que foi – tentativamente, admitamos – demonstrado.
Dito isto, seguem-se breves notas de leitura de algumas publicações adquiridas em Beja, bastas delas a pessoas conhecidas, mais ou menos próximas, de alianças de amizade mesmo, as quais, além de não serem da conta do leitor, em nada podem influir na leitura autónoma, independente e objectiva (isto é, com os olhos e a mente nos elementos concretos dessa mesma obra) dessas publicações. Dado que, em momentos anteriores, expliquei a minha posição em relação aos gestos relativos aos zines e publicações independentes, assim como aos critérios seguidos por cada título para a agremiação dos autores representados, escusar-me-ei a repetições. A apresentação é, de facto, sumária
All-Girlz Galore. AAVV (Arga Warga/Daniel Maia). Segundo gesto editorial de Maia em agregar nomes de várias autoras de banda desenhada, de vários quadrantes, forças e géneros, o seu editorial não deixa de ter razão, apesar do entusiasmo metafórico com que o faz, em se apresentar como mostruário destes trabalhos. Isto é, como brevíssimo olhar sobre o trabalho destas autoras (e alguns autores) aqui presentes. No entanto, quase todas as peças incluídas pecam por uma certa rapidez de execução e uma certa qualidade titubeante nas ideias. Se a qualidade gráfica, tão diversa, não é colocada jamais em causa (sobretudo Marta Monteiro, Sónia Oliveira e Joana Sobrinho, e, claro, Ana Biscaia), em quase todos os casos a capacidade de escrita é algo consternadora, ora perdendo-se em exercícios adolescentes e solipsistas, ora em géneros de aventura de acção mal desenvolvidos, ora anedotas cujo sentido escapará mesmo aos mais dados à apreciação do nonsense ou do experimentalismo formal. As excepções a partir da qual é permitido algum prazer da leitura são as histórias de Ana Biscaia, a qual nos apresenta quatro páginas do que poderíamos imaginar ser uma léria onírica, próxima de uma Feuchtenberger dada ao fado vadio, e Joana Sobrinho, que nos oferta uma curta história desagregada, composta como que de flashes ou notas de um diário da personagem “Natália”, peças desirmanadas a partir da qual construiremos esta vida urbana e deprimente, se grandes promessas de vir a entender o que é a felicidade (seja qual for a forma que venha a tomar). Marta Monteiro é uma herdeira de autores como Isabel Carvalho, Pedro Nora e Pedro Burgos, e é na mesma esteira gráfica e de escrita que opera; porém, a história parece mais fruto de um breve pensamento do que de uma estruturação aturada e ressente-se por isso. E “Annusshka, a boneca”, de Andreia Rechena, recorda muitas das curtas histórias da revista Visão, em que se nota uma aliança intrínseca entre a aparente candura do seu tema e elementos a uma mais temível avaliação da condição humana. Finalmente, a opção de algumas autoras em utilizarem o inglês (com gralhas, limitações estilísticas e pobreza de experiência humana) não se torna uma mais-valia.
O maior de todos os tesouros. Carlos Rocha (Bedeteca de Beja). Último título da colecção toupeira, este livrinho de Carlos Rocha é talvez o que mais próximo está de uma tradição vetusta de banda desenhada. Essa é a sua fortaleza e a sua fraqueza, a um só tempo. A dado momento, uma das personagens, sob os efeitos de uma pancada na cabeça e que parece enumerar “verdades”, reza o seguinte: “Há tipos que não desenham népia mas julgam-se grandes artistas, e nós sem coragem de dizer-lhes na cara a verdade, mas nas costas deles e entre amigos fartamo-nos de rir”. É claro que é um abuso da minha parte querer julgar um entendimento nesta frase mais concreto, mas é de facto uma frase daquelas típicas de se ouvirem quando se fazem, mormente no nosso país, tipologias entre trabalhos onde o espaço de manobra é exíguo, a divergência contra-producente e a falta de visão dessa perspectiva preocupante. Carlos Rocha não é dos que desenham “népia”, bem pelo contrário, tem todos os dons necessários à prossecução desta história de malfeitores numa estranha história numa Idade Média de comédia; tem também uma ideia o mais equilibrada possível para a construção de uma arco narrativo auto-suficiente e de, no seu interior, provocar pequenas tensões entre cada parte; e ponderou acertadamente nas tipologias das personagens e seus dialectos. No entanto, e como dissemos, talvez seja mesmo esse o problema. É impossível ler O maior de todos os tesouros (que se revela ser tanto um chavão que se torna a paródia final do livro, imediatamente desconstruída) sem estar a pensar e a fazer associações directas e constantes com toda a saga de Astérix ou da sua breve imitação portuguesa, Tónius, O Lusitano de Tito e André (o rosto do “intelectual” do bando de ladrões é a cara chapada de Acidonitrix, d’O Grande Fosso), ou outras bandas desenhadas (tipificadas por anos de empregar estratégias similares; e o rosto do príncipe recorda uma versão de banda desenhada de Abott, em voga em Portugal nos anos 70 em “gibis” brasileiros da Abril, na revista O Gordo e o Magro). A utilização de piadas contemporâneas (o “cala-te” a Chávez do Rei de Espanha) ou “privadas” (uma coruja passa carregando uma personagem tirada dos desenhos de Susa Monteiro), o humor linguístico (em tornos dos constantes pleonasmos do líder da bandilha, de palavras difíceis, etc.) e a ultra-tipificação das personagens (inclusivamente o politicamente incorrecto e datado “negro” no fim) contribuem para a construção de um livrito classicamente competente mas, por isso mesmo, talvez desarticulado da contemporaneidade.
Venham + 5. AAVV. (Bedeteca de Beja). Depois do gigantesco número anterior, com participações de tantos autores, esta publicação “regressa a casa”, como reza no editorial, ou melhor, à prata da casa, ainda que haja a participação de outros “forasteiros” com quem o colectivo Toupeira se irmanou ou mesmo enamorou, como Pedro Brito, com uma simples, mas eficiente e até bela, curta história, e Ken Niimura com um elíptico relato da entrada na vida adulta de uma rapariga. Por razões que provavelmente são tão claras e repetidas e sobejamente conhecidas que se tornam inócuas de salientar, ou até de indicar, sai Paulo Monteiro e Susa Monteiro, coração duplo deste. Susa Monteiro oferta-nos “O infeliz destino de Sebastião Salvador”, que parece ser uma mescla de romance de cordel do século XIX com os neo-realismos do XXº, passando pela vontade de criar ficção de acção com paisagens alentejanas: quatro páginas de uma espécie de pequeno evangelho, quiçá apócrifo mas indubitavelmente hagiógrafo, deste bandoleiro do pós-Guerra Civil Portuguesa. Paulo Monteiro tem duas páginas onde conta uma brevíssima anedota que nos faz oscilar entre o macabro e o humor, como se de dois espelhos gémeos se tratassem, cada um desses elementos exacerbando o outro. Pedro Nogueira continua a dar vazão à sua notável lavra de revisitações pós-modernos de contos tradicionais, mas em nada ganha aqui com a colaboração de duas escritoras, colaboração que não salva de erros ortográficos, estilísticos e de apresentação gráfica que se tornam ainda maior estorvo num conto que se deseja tomar de um modo mais poético que os demais. Os outros projectos aqui apresentados são mais imberbes, mas acreditemos, com o colectivo Toupeira, que se destinam ao desenvolvimento de crescimento autoral dos seus intervenientes.
Defier no. 1. Ricardo Venâncio (El Pep). Ricardo Venâncio entrega-se a uma saga que bebe de todas as características narrativas de uma certa banda desenhada japonesa contemporânea, na qual participam, por exemplo, Dragon Head, de Minetaro Mochizuki, e Blame! de Tsutomu Nihei: histórias que começam não só in media res, isto é, sem quaisquer introduções e explicações mas que nos colocam num momento de pleno desenvolvimento dos eventos desse mundo diegético, como também em meio da acção, lançando-nos num ritmo acelerado e vertiginoso de nódulos dramáticos, cinéticos, de confronto... No caso de Blame!, por exemplo, é preciso avançar uns quantos volumes desse tipo de acção, em que tudo ocorre mas em que nenhum mapa nos é oferecido para que possamos fazer as ligações necessárias à construção de um trama ou de um significado geral da história. Defier é assim, colocando-nos na senda de uma misteriosa personagem, que leremos imediatamente como um vingador, um justiceiro, solitário como manda a lei da ficção, em confronto com um bando de vilões (violentos até ao ponto do abjecto, pela maldade e imoralidade: raptam crianças, são canibais). Este episódio desenha-nos em traços gerais o mundo em que Defier vive e demonstra-nos o que poderemos contar dele, e dos seus aparentemente invencíveis poderes físicos de combate, mescla de muitas figuras da ficção (Batman/Demonlidor, monge Shaolin e John McClane). No entanto, Venâncio desvenda tanto parte da rede da backstory como do que poderemos aguardar nos próximos episódios (se levarmos seriamente que se pretende enquanto série de continuação), quer através do tom do narrador extradiegético que apresenta a história num tom paternal e bíblico quer através do suplemento no fim da publicação com sketches e um longo texto explicativo. Sempre considerei que este tipo de material é supérfluo nestas fases iniciais, correndo-se o risco de haver uma certa soberba da parte do autor nas promessas e intenções que deseja desde logo revelar (e receber elogio por elas, supõe-se) em vez de as ir concretizando e dando ao escrutínio e apreciação do público. No entanto, a máquina editorial e criativa em que Ricardo Venâncio se inscreve, assim como as suas qualidades individuais de trabalho, faz acreditar há de facto uma geração interessada em trabalhar nos círculos comercialmente independentes fórmulas criativamente comerciais, uma possibilidade de trabalho no nosso “mercado”. A opção pelo preto-e-branco compreende-se pelas razões financeiras da sua edição, mas a contrastação com o trabalho de cor da capa e a verificação que muitas das vinhetas abusam do espaço branco e dos traços cinéticos à la mangá para “fundos” das acções das personagens (isoladas assim nas vinhetas), contra algumas outras prenhes de detalhes e de ambientes visuais complexos, faz imaginar que outras opções seriam possíveis, garantindo maior “peso” visual às acções retratadas. Leitores de Kamandi ou fãs de Mad Max ou de toda a charanga pós-apocalíptica encontrarão aqui uma variação desse tema que promete um desenvolvimento singular, mas teremos de esperar pelos próximos episódios para nos apercebemos o quão singular será.
Mocifão. Untxura, Nuno Silva e Nuno Duarte (El Pep). Esta personagem tem todas as típicas características daquelas que vivem no universo relacionado com os livros El Pep, onde elas são brutti, sporchi e cattivi. É óbvio que não queremos reduzir as capacidades e trabalho individual dos autores, colocando-as sobre a sombra de Pepdelrey, mas este actua sem dúvida enquanto mentor, agregador, ou pelo menos gestor das sinergias criadas por um grupo mais ou menos organizado, que partilha espaço de trabalho, estratégias de criação, e sobretudo uma indómita vontade em concretizar os seus desejos de criar banda desenhada, sob a forma de publicações concretas, acabadas e “profissional”. Seria ou é fácil olhar para esta personagem mirrada, careca, com uma fácies de javali, e anti-social, como uma espécie de variação sobre o Skin, de Peter Milligan e Brendan McCarthy, mas onde fosse retirada a dimensão política, o retrato social, a pertinência contemporânea, e fosse introduzida uma dose maciça de humor escatológico. Entende-se, portanto, estarmos perante um rol de anedotas e não de uma obra com “preocupações”. A reacção mais esperada é a de um portentoso “Oi!” Livro feito de curtos episódios em torno desta personagem, se as primeiras histórias giram em torno de fezes, urinas, arrotos, moncos e flatulências, as últimas são antes paradoxos existenciais, em que a personagem “vive a vida ao contrário” ou “se perde a si mesma”. Os desenhos de Nuno Duarte são competentes para este tipo de trabalho, e apresentam-se sob várias formas e técnicas (cor, linhas, etc.), mas estas acabam por ser mais uma forma de demonstração variegada do que uma exactidão conforme a cada história.
Mais uma vez, tal como no título anteriormente discutido, se faz a opção pelo inglês, tendo em vista a sua distribuição, ou pelo menos venda, nos circuitos internacionais de festivais, exposições, etc., pela qual os autores e editor se movem com frequência. É desejar-lhes boas navegações.
Egg. Hard-Boiled Stories #1. Eric Skillman et al. (edição de autor). Esta publicação diferente das anteriores apenas pela razão de ser estrangeira, mas uma vez que conta com um trabalho de Jorge Coelho, e estando disponível em Beja, acaba por cair sob a força da gravidade das anteriores. Uma vez que todo o material desta pequena publicação se encontra online, no site do autor, convidar-vos-ia a lê-las para poderem apreciar as suas qualidades. Todas as histórias são escritas e coloridas por Skillman, e conta com a participação de cinco artistas, cada qual responsável por uma das cinco histórias, que nada têm em comum a não ser o facto de se integraram, por linhas muito gerais, no género indicado pelo subtítulo da publicação. No entanto, mesmo tendo em conta a vida dessa mesma tradição no campo da banda desenhada, não estamos perante em David Lapham, um Bendis, ou algo que o valha... As histórias são pequenos chavões onde o que fica por dizer não é muito, e é claro demais. Alguns dos desenhadores parecem ser clones de outros (Willumsen bebe de Paul Pope, Dellagata de vários, de Mignola ao já citado Lapham). A benesse desta publicação é termos acesso a mais uma prova do trabalho de Jorge Coelho, que não precisa (mas merece) destas incursões no “lá fora” para demonstrar o que vale. Infelizmente, há nesta história de oito páginas um número considerável de vinhetas (20 em 61) ocupadas por rostos vistos de frente, o que leva não só a um empedernimento do fluxo da narrativa, como a uma maior concentração da expressividade das personagens nesses mesmos rostos e menos no corpo, levando a uma dimensão caricata que não estaria, julgo, prevista. A história em si é demasiado linear para ter algum interesse que sobreviva à sua leitura primeira.

Nota final: agradecimentos aos compadres de Beja, da organização do Festival, pela sempre excelente capacidade de anfitriões, pelas ofertas das publicações, a Pepedelrey pela oferta das suas publicações, e a Daniel Maia pelo zine all-girlz. A todos, um bem-hajam. O vídeo é caseiríssimo e serve para "darem uma vista de olhos" em todas estas publicações. Participação/interrupção especial por Miki.

4 de junho de 2009

SuccoAcido: Waltz with Bashir

Serve a presente para anunciar o início da minha colaboração com a SuccoAcido, a qual, como reza o seu manifesto, é "uma revista internacional e multilingue de informação, opinião, análise e investigação: uma perspectiva íntima sobre formas criativas contemporâneas, uma rede entre realidades experimentais e vários projectos, sugerindo uma interpretação da criação de arte sustentada pela partilha e contaminação de ideias".
A revista procura ser actualizada no espaço de um mês, pelo que o meu ritmo de colaboração não será idêntico àquele deste blog, natural e felizmente. Tendo sido convidado para escrever sobretudo sobre banda desenhada e ilustração (ou outros territórios contíguos), preferi começar com a tradução do artigo que já havia aqui publicado sobre o filme de animação Valsa com Bashir. O novo, em inglês, na S.A., encontra-se aqui.
Em princípio, e com esta excepção, os artigos serão sempre exclusivos a cada espaço, isto é, os artigos da S.A. não serão publicados no lerbd, nem estes lá.
No entanto, sempre que os publicar na S.A. darei contas disso... Se vos aprouver.
Até breve,
Pedro Moura

2 de junho de 2009

História da Ilustração e da Banda Desenhada - CIEAM

Serve a presente para dar conta da abertura do período de pré-inscrição nos vários cursos integrados no CIEAM para o próximo ano lectivo. Entre eles, encontrarão o Curso de História da Ilustração e da Banda Desenhada, ministrado por este vosso criado. Passo a citar a comunicação:
"O CIEAM, Centro de Investigação e de Estudos Arte e Multimédia da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, informa que estão abertas a partir de 1 de Junho as pré-inscrições para os Cursos publicitados, referentes a 2009/2010, os quais são dirigidos a jovens e adultos (estudantes de arte, profissionais das áreas do cinema de animação, ilustração, banda desenhada e argumento, etc.)."
No que diz respeito a este curso em particular, o público não se cinge àquele indicado anteriormente, mas sim a todos e quaisquer interessados. Estender-se-á de 16 de Setembro de 2009 a 03 de Fevereiro de 2010, às Quartas-feiras, das 18h00 às 21h00, na sala 3.07.
Outros cursos: Animação em desenho, animação digital, animação de volumes, modelação e animação 3D, e ilustração digital.
Para mais informações, contactem a Dra. Maria Luíza Leite
CIEAM – Centro de Investigação e de Estudos Arte e Multimédia
Gabinete de Relações Públicas
Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058 Lisboa
Portugal
Tel.: + 351 21 325 21 66
maria.leite@fba.ul.pt http://www.fba.ul.pt/