30 de abril de 2018

Best of 2017: para Paul Gravett.

Desde 2011 que participamos na chamada de Paul Gravett em contribuir para a "Perspectiva Internacional" do seu site, em que se mostram algum dos mais interessantes títulos de banda desenhada saídos no ano anterior de uma série de países, um trabalho muito interessante e bem mais diversificado do que o usual, por todas as limitações imagináveis.

Uma vez que já nos explicámos várias vezes sobre o que pensamos de listas e tops, continua a ficar apenas a nota que desejamos tão-somente que alguns destes livros tenham uma atenção mais alargada para além das nossas fronteiras e língua, e possam ser vistos como bons gestos no interior dos seus territórios, por mais distintos e incomparáveis que sejam entre si.

Este será o último ano em que participamos, passando a responsabilidade para o Gabriel Martins, a quem desejamos um bom trabalho. E ficam aqui também os profundos agradecimentos ao Paul Gravett e a sua amizade.

Link para a lista de 2017 aqui.

17 de abril de 2018

O reino. Ruppert & Mulot (Douda Correria)

Este será apenas um pequeno recado. Foi lançado recentemente uma edição portuguesa do magnífico objecto-jornal O Reino, da dupla experimentalista de banda desenhada Ruppert e Mulot, projecto este de que já havíamos dado conta na sua edição original há uns anos, aqui.

As mais das vezes, a existência de edições portuguesas não são propriamente motivo de júbilo, sobretudo se se seguirem os caminhos mais normalizados de sempre... Porém, neste caso não estamos a falar dessas máquinas comerciais já instituídas, mas tampouco de "apostas" em obras históricas ou significativas por plataformas editoriais sólidas, ou sequer das também agora usuais colaborações entre editoras nacionais e estrangeiras na publicação de um título. Trata-se, desta feita, de uma acção feita de paixão, risco e coragem.

A edição portuguesa deste jornal é feita pela Douda Correria, uma editora afecta sobretudo à poesia contemporânea e a outros objectos literários não-identificados. Não deixa de ser curioso que, para encontrarmos atenções particulares ao que ocorre na cena contemporânea mais afecta à experimentação, à verdadeira invenção da linguagem, e não apenas a sua clássica confirmação, não se possa contar propriamente com as plataformas mais comuns, mas sim de sectores inesperados. Ou, na verdade, não é nada curioso, é condição sine qua non dessa distribuição de atenção. Seja feita a sua vontade. 




15 de abril de 2018

Futuro proibido. Pepedelrey (Escorpião Azul)


Primeiro capitulo do que se adivinha ser uma longa saga de ficção científica, este volume de 60 páginas não irá satisfazer modos clássicos e contidos de constituir uma acção narrativa. Se começamos num local, rodeados de personagens que mal criam relações entre si para o leitor e começa a emergir uma possível intriga concentrada, logo há uma rasteira que impele todo esse mundo para segundo plano. Mas quando julgamos ter atingido um outro nível, que nos permitisse cartografar a dinâmica, dá-se outro salto. (Mais)

14 de abril de 2018

A leoa. Anne-Caroline Pandolfo e Terkel Risbjerg (G. Floy)


A longo prazo, será produtivo pensar na colaboração desta dupla de uma forma mais analisada. Tentar compreender como é que atingem uma fórmula de fundação sólida tal que a factura dos seus livros não pode ser considerada do ponto de vista de uma “história com desenhos” nem de “desenhos historiados”. Todos os factores contam na sua estruturação prístina, inconsútil, enquanto banda desenhada. A leoa é uma biografia da escritora dinamarquesa Karen Blixen, autora da famosa autobiografia África Minha (graças igualmente ao filme de Sydney Pollack de 1985), A festa de Babette, e de Contos e Inverno. Uma biografia que vai além desses instrumentos, pra devolver uma vida profunda, imaginativa e vivida dessa personagem. (Mais) 

11 de abril de 2018

Quireward # 03.

O terceiro número da Quireward está finalmente disponível. 

Com histórias em inglês, este número inclui: o terceiro e último episódio de "Matias", desenhado pelo Sérgio Sequeira; um capítulo auto-suficiente de uma série de ficção científica, "David Kino", desenhada pelo André Pereira; uma curta história desenhada pela Marta Teives; duas das peças antes publicadas na Cais desenhadas por Vasco Ruivo e Catarina Coroado - todas elas escritas por mim -; e uma história de Nuno Fragata à qual acrescentei texto. 

A capa é de Wagner Willian e o design de Playground Atelier. Impresso a uma cor em risografia. Será agora lançada em Portugal na Feira Raia, este fim-de-semana, no Anjos 70. 34 páginas. 100 exemplares.

[sobre # 01]

[sobre # 02]

8 de abril de 2018

Noite estrelada. Jimmy Liao (Kalandraka)


Como ocorrem nos casos de alguns dos projectos de Maurice Sendak, Shaun Tan, Brian Selznick e António Jorge Gonçalves, por exemplo, também alguns dos livros de Jimmy Liao vivem numa fronteira algo esquiva entre a banda desenhada, o livro ilustrado, e a literatura tout court. Noite estrelada tem apenas umas poucas páginas com texto isolado, mas depois desdobra-se em spreads, ilustrações por página, com texto ou sem ele, e pelo menos uma sequência dividida em vinhetas. Tipologias e divisões que, para além disso, têm explorações formais no interior das próprias imagens, que apresentam planos distintos, texturas, espaços com objectos repetidos (sejam padrões no chão, bibliotecas, jardins, florestas ou os telhados de prédios cheios de néons). (Mais) 

6 de abril de 2018

Santa Camarão. Xavier Almeida (Chili Com Carne)


A possibilidade de escrever uma “autobiografia” de uma outra pessoa, em que um artista “empresta” a sua linguagem para dar voz e corpo à biografia de outrem mas contada na primeira pessoa, não é de todo inédita, se nos recordarmos do projecto de Emmanuel Guibertcom Alan Cope. Os modos de produção são diferentes, porém, já que Guibert colhia a biografia de Cope a partir de conversas gravadas, directas e ao vivo, ao passo que Xavier Almeida estará a trabalhar à distância. O pugilista José Santa “Camarão”, nascido em Ovar e famosíssimo durante as décadas de 1920 e 1930, morreu em 1965. Almeida, instado por um artigo de jornal e criando laços com a sua terra (é também vareiro), criou este pequeno livro de banda desenhada a partir da pequena biografia escrita pelo próprio boxeur. (Mais) 

5 de abril de 2018

Do Inferno. Alan Moore & Eddie Campbell (Biblioteca de Alice)


A palavra “autópsia”, na sua acepção moderna e médica, formou-se no cadinho da emergência do pensamento científico, já no século XVII. Originalmente, a palavra significará tão-somente “ver com os próprios olhos”, “testemunhar” (e isto implicará sempre a ideia desta visão ser a de um terceiro sobre um evento que lhe é externo). Apenas na modernidade passa a significar “a dissecação de um corpo morto para determinar a causa da morte”. 

Como muitos outros críticos já o disseram, e acima de tudo, o próprio protagonista deste imenso romance – e esta será uma das poucas instâncias em que o emprego deste termo técnico literário não é enviesado – em banda desenhada, From Hell/Do Inferno é uma investigação dolorosa, cruel, e violenta ao corpo morto que daria origem ao século XX. Ao contrário do que se poderia imaginar a partir de uma mera descrição, ou pior, através da miserável adaptação cinematográfica de 2001 pelos irmãos Hughes, From Hell não é um “whodunnit”. Focado nos assassínios de prostitutas em Whitechapel, Londres, no estertor do século XIX, que ficariam conhecidos como o caso de “Jack, o Estripador”, o livro assinado por Alan Moore e Eddie Campbell não se interessará tanto pela identificação do assassino, já que parte desde o primeiro momento pela sua revelação: o Dr. William Gull. O que interessa aos autores é a pesquisa do como aconteceu e, até mais, o porquê íntimo dessas acções. (Mais)

4 de abril de 2018

Desolation.Exe ESP. Berliac (Fosfatina)

Serve o presente post tão-somente para indicar que a edição profissional e em língua espanhola de Desolation.Exe, de que faláramos anteriormente na sua primeira versão, foi publicada. O texto que tínhamos escrito foi transformado em prólogo, o que muito nos honra. 

Em breve, daremos notícias do novo projecto do autor, que tem tido alguma recepção complexa, Sadboy.
Nota final: agradecimentos ao autor pelo volume.

2 de abril de 2018

Ermal. Miguel Santos (Escorpião Azul)


Miguel Santos apresenta aqui aquilo que se chama na indústria de entretenimento um projecto “high-concept”, isto é, algo que se concentra de forma potente numa premissa, em si mesmo pejada de implicações narrativas. Neste caso, trata-se de uma história alternativa, passada numa província colonial portuguesa em que a guerra colonial terá encontrado uma continuidade terrível por estar associada a um confronto nuclear no hemisfério norte. Como está indicado no próprio livro, numa espécie de sub-título, neste universo a Guerra Fria “aqueceu”. (Mais)