A leitura
da capa far-nos-ia pensar numa intriga em torno de uma sociedade num
futuro próximo mas nos moldes das distopias: sinais visíveis da
decadência urbana, ciborgues, personagens fantásticas, mistério,
alienação estão ali prometidas. Mas Futuro Proibido lança
mão de muitos outros elementos ou tropos da ficção científica num
frenesim de assalto ao super-mercado. Ficção militar, magia,
missões espaciais, espécies alienígenas, colonialismo, navegação
sideral, guerras interestalares, tudo isso está presente.
Pepedelrey,
que tem cultuado uma assinatura muito próxima da improvisação
pura, encontra aqui um veículo para conduzir a sua bílis, sarcasmo
e verve política (a divertida prancha dos soldados a declarar “nada”
assinala-o solidamente), sinais indeléveis da sua obra, num projecto
que poderá vir a tornar-se mais denso. Mas este primeiro volume está
mais próximo precisamente de um exercício livre. O que significa
que nos recordarmos das primeiras páginas de A garagem hermética,
de Moebius, não seja de todo descabido. Não falamos (ainda?) da
saga completa do autor francês, que acabaria subsumida a um género
de aventuras particularmente domesticado, por mais elementos que
acumulasse, mas da aventura sem rede processual dos primeiros números
da Métal Hurlant. Moebius avançava sem saber muito bem para
onde ir e, diz o autor, chegou mesmo a enviar páginas sem se
recordar bem do que havia entregue anteriormente.
Não
diremos que o autor português não saberá onde ir, mas neste
primeiro volume joga com as actas junto ao peito, e não permitirá
criar expectativas domesticadas ainda sobre o desenvolvimento da
saga. Tudo está em aberto.
Pois
também em Futuro Proibido atravessamos várias “etapas”,
digamos assim, que são ocupadas por grupos de personagens bem
distintas entre si, e sem qualquer cruzamento claro, que nos impede
de os agregar numa visão coerente. Um quartel-general entra em
alerta devido à fuga de uma prisioneira. Tudo destruído,
descobriremos uma espécie alienígena pronta a colonizar a Terra, e
parece que a colheita de cérebros humanos ajudará a uma agenda
secundária. Uma missão num satélite sobrevive durante uns
momentos, mas são debelados outros agentes da invasão. Depois,
testemunhamos o “renascer” ou “regresso” de um humano, numa
outra colónia militar. Confuso, a personagem diz “...não
entendo...”
O leitor
tampouco, lançado nesta tempestade de acções e personagens. O
capítulo que se seguirá virá trazer elementos de explicação e
condução. É esperar por esse próximo futuro.
Nota
final: agradecimentos à editora, pela oferta da publicação.
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