12 de julho de 2005

O Escapista/The Escapist. Tim Morris/T.M. (Campo das Letras)


Não tem absolutamente nada a ver, mas é curioso que este título coincida com uma nova série de super-heróis, baseada num romance de Michael Chabon que teve algum sucesso entre os fãs desse género de banda desenhada, que as mais das vezes, e nesse caso a que me refiro abertamente, não são mais do que repetidas fórmulas inanes e inócuas. O Escapista de "Tim Morris", por outro lado, é daqueles pequenos objectos que se reveste com uma patina de forças que o fazem escorregar das possibilidades de generalizar. Um homem, com uma vida, um trabalho e relações que ao autor pouco importa detalhar, escapa do mundo plano em que vive sempre que lhe é permitido, usualmente fugas despoletadas por palavras dos outros. Essas fugas mostram-se sob a forma de objectos estranhos, que fundem aspectos ou dúplices ou que misturam o objectual e inanimado ao orgânico e vivo (como em Dirty Mind).
Estes são os dois últimos livros e avatares de T.M. (que já editara na Assírio & Alvim e Bedeteca, por exemplo; e se não revelo o nome é porque quem o conhece sabe, quem não sabe não precisa de saber). Digo "avatares" e não "heterónimos", o que seria uma facilidade a resvalar pelo tolo, porque T. M. não procura ser um Outro, alterando os estilos drasticamente ou mesmo a linguagem empregue de livro para livro. Existem diferenças, claro; existem semelhanças, claro. Nada de mais. Digo avatares, porque T.M. experimenta-se, procurar apalpar o terreno que vai ocupando aos poucos. Não parece avançar sem medos e com uma segurança de soberba, apesar do seu currículo como ilustrador e já como autor de banda desenhada, se bem que uma bd que vive sempre no limiar de o ser. Provavelmente sem o desejo sequer de o ser. É um trabalho que parece querer valer-se por si próprio, e não como subordinado a categorias, géneros, expectativas de estilo, etc., não obstante lançar pontos de contacto numa série de outros territórios pela sua própria existência.
É um livro que se escapa, como disse, e nos escapa à leitura. E assim, a todo o gesto de o prender à Terra. Tal como o protagonista se parece demorar desnecessariamente em busca de um livro qualquer no interior de uma divisão escura, perguntamo-nos porque se demorará este livro a responder-nos e a aviar-nos o pedido, para entender, para júbilo da nossa inteligência, que esse último desejo jamais será cumprido.Posted by Picasa

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