19 de dezembro de 2005
Mome 1. AAVV (Fantagraphics)
Incorrendo no perigo de me repetir, digo-o porém: muitas vezes o valor de uma antologia está mais no nome do editor (e pela sua provada capacidade de reunir uma “escolha” – é o que significa etimologicamente a palavra “antologia”) do que propriamente nos efectivos autores presentes, passando a aura desse nome a contagiar as dos demais. Tal como sucede nas artes visuais, com alguns comissários, e isto tudo apesar de apenas os especialistas se darem ao trabalho de o ler, como é evidente e natural. Por isso, ao saber uma nova vindima surgiria pelas mãos de Gary Groth e Eric Reynolds, e tendo em conta o trabalho editorial da Fantagraphics, por um lado, e as preocupações conceptuais de Groth, expressas contudentemente em The Comics Journal, esperava estar perante uma nova publicação marcante como foi, nos seus respectivos tempos, a Raw, a Zero Zero, a Snake Eyes, etc. Bom, não exactamente: primeiro, porque a preocupação de inventabilidade formal presentes nessas publicações citadas está (quase) ausente de Mome, mais centrada na narrativa (não obstante as pequenas torções de Anders Nielsen e David Heatley, este último mencionado por mim aquando da Bête Noire); segundo, porque a selecção recai em valores circunstanciais seguros, artistas cujos trabalhos anteriores já atingiram um bom nível de sucesso crítico, como Jeffrey Brown, Paul Hornschemeier, ou Gabrielle Bell, mas sem haver nenhuma aposta numa “novidade” ou numa “voz díspar”. Aliás, encaixam-se todos mais ou menos em simples “famílias” de estilo, exemplificado pelo grafismo de Bell, confundível com o do casal Matt Madden-Jessica Abel.Ou seja, infelizmente a escolha que se apresenta em Mome é de facto mais próxima do MoMA do que numa galeria mais fresca, interessada em de facto divulgar novos caminhos... O segundo número está quase pronto, mas os nomes dos contribuidores repetem-se. Já a Blab!, excelente produção do trabalho editorial de Monte Beauchamp, por ter atravessado vários patamares, está nos seus últimos números um tanto ou quanto estagnada nos mesmos autores (mantendo numa linha a direito, ainda que alta, a sua qualidade). Mas não esperava que um novo título se “cristalizasse” quase de imediato. A menos que se trate de uma vernissage bem-comportada, na qual não se desejavam grandes estragos na primeira noite, convidando artistas conhecidos e servindo um bom catering, e preveja maiores riscos nas próximas exposições.
Nota: Entretanto, algo mudou...
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