6 de agosto de 2005

Bête Noire (Fantagraphics)


Tal como anunciado antes, o gesto que tinha dado à estampa a anterior antologia editada por Chris Polkki, Blood Orange, foi transformado neste novo título, com o nítido esforço de se centrar numa certa linha de produção de banda desenhada europeia e japonesa.
Uma das acusações que têm surgido quase sistematicamente na imprensa é a denúncia desta ser uma antologia mais inclinada à apresentação de trabalhos visuais ou “curiosidades visuais”, como se isso fosse à partida uma fragilidade. Em primeiro lugar, é uma consideração errada, já que de 23 trabalhos, 16 se podem considerar narrativos, sem esforço nem discussão teórica (tenham muito ou pouco texto/diálogos, e incluo o magnífico exercício composto de desenhos e onomatopeias graficamente imponentes, típicos em Yuchi Yokoyama – “baga”, “do-do-do”, “go-go-go”). Em segundo lugar, parece que escapar das fórmulas de sucesso de antologiar é um crime de lesa-majestade. Não será antes a existência de uma predominância esmagadora de antologias de estórias que permite as boas-vindas a esta nova série? Mas como o segundo número ainda está para sair, mais vale esperar para ver até que ponto será esta publicação marcante. Quanto a mim, coloco-a junto a outras, tais como a já citada Blood Orange, as primeiras Kramer’s Ergot, mas atrevo-me a ir longe e falar de Rosetta e até mesmo de uma certa fase da Blab! (com as devidas distâncias em termos físicos das publicações citadas e dinheiro envolvido).
É óbvio que para quem está atento a um mercado mais alternativo europeu ou mesmo japonês (ou japonês via França ou EUA), muitos dos autores aqui antologiados não serão uma novidade: Caroline Sury, Takashi Nemoto, Fábio Viscogliosi, Anke Feuchtenberger, MS Bastian, Helge Reumann, Junko Mizuno, entre outros. Os americanos David Heatley e e Kevin Scalzo também não serão surpresa, mas enquanto que a capa do primeiro nos mostra a crescente versatilidade do autor, já o segundo parece requentar a mesma anedota do seu Sugar Booger de 2001.
A convivência desta escolha heteróclita é salutar, enquanto ponto de partida, mas não é de nenhum modo equilibrada. A versão do Capuchinho Vermelho de Lucie Durbiano (ilustradora infantil) é convencional mas muito bela, os retratos de Renée French são liricamente assustadores, e os exempla de Feuchtenberger absurdamente reveladores sobre questões a não colocar face à existência humana. Mas, por outro lado, as quatro páginas de Quentin Faucompré não são mais do que um "visual pun" distendido de modo perigoso, o episódio apresentado por F© + Witko banalíssimo, e não estamos certamente perante os melhores trabalhos de Viscogliosi ou Reumann.
Seja como for, presumo ser as apostas em antologias deste tipo sempre felizes, pois podem elas constituir um primeiro passo de conhecimento de uma produção que se nota pouco na enxurrada comercial do costume. Posted by Picasa

1 comentário:

Marko Umorista disse...

MUITO oportuna a tua resenha, prometo reler e aprendr sobre esta ótima exposição

Abraço