O título deste livro de bolso de mais de 400 páginas reúne trabalhos provenientes de duas séries de fanzines que Marko Turunen tem vindo a fazer nos últimos dez anos: o Super e o Normal. O autor explica: “Super era um comic book sobre pessoas com superpoderes, Normal sobre pessoas com superpoderes”. Parece de algum modo pouco natural que o que pareça mais importante, ou regra, é que tenham superpoderes, e que possam existir pessoas sem eles, e não ser o contrário aquilo que pautaria a relação (apesar da palavra “normal”), mas tendo em conta a pesquisa de formas de Turunen, não nos surpreende. Recordemos, uma vez mais, de que muitas das ilustrações que Turunen fez para publicações finlandesas (e expostas no último Salão Lisboa) utilizavam conhecidas personagens do universo Marvel para transportar conceitos ou sensações do nosso mundo, “real”.
Esta colectânea não apenas ajunta numa só publicação, e em língua inglesa, esses anteriores fanzines, como também serve de um só objecto condensando – ou dando-nos a ver o que era separado numa fórmula condensada - várias vontades expressas. Dá-se uma (contínua) oscilação de géneros, de estilos, de naturezas, de humores, de aproximações, de pensamentos, e de gestos. Uma diversidade que pretende também responder a várias necessidades do momento, a circunstâncias, a leituras flutuantes (de Chris Claremont a companheiros dos independentes europeus), e a um diálogo com a sua mulher – que em parceria participa nalguns dos “episódios” da colectânea. Há trabalhos em fotografia, manipulação de fotocópias, trabalhos mais “cinematográficos” e outros mais “íntimos”, temas mais pessoais e outros mais oníricos, desenhos infantilizados e estratégias mais complexas e cheias. Quase todas as histórias apresentam-se de um modo fragmentado, como se fossem uma pequena parcela de uma maior história, mas da qual jamais saberemos o início ou o desenlace, como se fossem meras promessas que entendêssemos, de imediato, jamais se cumpririam. Mas Super ou Normal, são promessas que preenchem um desejo estranho que não sabíamos existir, até fruirmos as histórias.
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