Este número parece ser um número único, fora da vida mais regular da Canicola, apesar da numeração, reunindo os suspeitos do costume deste grupo mais ou menos coerente de autores italianos (ou de outros países trabalhando nesse grupo) na criação de pequenos relatos com contornos legíveis pelos leitores mais novos. Não há em nenhum dos pequenos contos uma maneira redutora de responder a esse desafio, procurando formas simples de seduzir esses leitores. Muitos dos autores mantêm mesmo os instrumentos que costumam empregar nestas suas histórias, apenas com subtis adaptações. E todos eles mostram nódulos brilhantes da sua inventabilidade e generosidade em o focar para outros leitores, novos de fio a pavio.
Amanda Vähämäki tem uma história belíssima, “Clã”, em torno de uma menina que se tem de habituar a uma nova casa, uma nova família e novos hábitos. Uma visita a uma loja de doces transforma uma página numa montra de cores e formas que psicadeliza totalmente o espaço de composição, roubando-o quase da linearidade da narrativa. Anke Feuchtenberger não abandona a sua pesquisa da feminilidade, colocando em “A caixa holandesa” o protagonismo numa cadela e o seu relacionamento forçado com uma nova companheira. Questões de espaço, posse e partilha expressam-se de uma forma alegórica e divertida. Giacomo Nanni apresenta uma breve rábula em torno de uma bola de neve, numa linguagem gráfica altamente estilizada que nos poderá recordar alguns autores das tiras de jornal clássicas de banda desenhada norte-americana. Anete Melece constrói um poema rústico, com tons ensorianos, sobre a nova vida da Morte. Michelangelo Setola. E Brecht Vandenbroucke espalha páginas duplas pela publicação com cenas improváveis, que parecem ser retiradas de um eventual diário gráfico estranho.
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