Esta
nova série de livros do autor faz já parte de um corpo de trabalho
mais alargado. Trata-se de um projecto de longa duração que entrosa
a autobiografia com interrogações de cariz político sobre a
história da Japão, nomeadamente uma crítica acerba e musculada de
um posicionamento insustentável de uma certa superioridade e
excepcionalidade do povo japonês face às suas relações históricas
com outros povos, desculpando o seu imperalismo e nacionalismo,
violento, e cujas consequências ainda se fazem hoje sentir nas suas
relações bilateriais com as antigas colónias ou países agredidos,
como a Coreia, a China ou a Tailândia. A desresponsabilização do
Japão em relação a esses crimes (até certo ponto, similar à
desculpabilização que Portugal ou os portugueses fazem às suas
antigas colónias), muitas vezes expressas pela sua classe política
e alguns sectores da cultura popular, faz com que a missão de Mizuki
seja urgente. (Mais)
31 de julho de 2015
25 de julho de 2015
VERBD. Episódio 1.
A partir de hoje, e ao longo das próximas semanas (ou talvez dias), estará disponível finalmente online todo o programa televisivo Verbd, um documentário em cinco episódios sobre a banda desenhada portuguesa que o realizador Paulo Seabra e este vosso criado criaram em 2007, para a RTP2 (numa co-produção externa da Black Maria). A sua publicação em formato DVD estava planeada, mas por vários escolhos, acabou por não se verificar. A bem da divulgação e do acesso livre à informação, aqui fica. Eventualmente, publicaremos online também alguns "extras".
O documentário tinha ou tem um blog-companheiro próprio, aqui.
Há coisas que, em alguns anos, se transformaram profundamente: autores que pararam de produzir, outros que mudaram a prática, plataformas que se alteraram, circunstâncias que se reestruturaram. Mas esperamos que a pertinência da maior parte dos assuntos ainda se mantenha. E não perdemos ainda a esperança de que "venham mais cinco"...
Episódio 2.
Episódio 3.
Episódio 4.
Episódio 5.
Episódio 2.
Episódio 3.
Episódio 4.
Episódio 5.
Vacancy. Jen Lee (Nobrow Press)
Quando mencionámos a série de webcomics Thunderpaw, da
mesma autora, tecemos uma série de considerações em torno do estilo “furry” (ou
“semi-furry”) a que esse trabalho pertenceria, assim como a que territórios
deveria algumas das suas características formais e estilísticas. Remetemos a essas
breves notas para complementar esta outra breve nota, a um pequeno comic book publicado no programa da
Nobrow em providenciar um espaço de expressão, circulação e experimentação a
novos e jovens autores, uma experiência que havíamos debatido com Fish, de B. Bagnarelli. (Mais)
23 de julho de 2015
Richard Stark e Darwyn Cooke. Parker, O Caçador (Biblioteca de Alice)
No
seu estudo agora clássico, Qu’est-ce
qu’un genre littéraire?,
Jean-Marie Schaffer discutia os géneros literários para além (ou
aquém?) do seu projecto de definição, afirmando que “seja qual
for a função comunicacional última dos nomes genéricos, têm eles
sempre a pretensão de identificar os textos em relação a um nome
colectivo”. Ora, nesse sentido, o que significa é que a decisão
de um leitor em ler um determinado texto sob a ideia de um género
colocá-lo-á imediatamente numa rede de relações intertextuais,
isto é, uma leitura comparada com outros tantos textos. Nunca se lê,
portanto, um texto “sozinho”, mas num cadinho de sucessivas e
re-formuladas integrações. Parker,
O Caçador é
um livro que se lerá nos sucessivos descritivos de “adaptação
literária”, “banda desenhada de crime”, “obra de Cooke”,
“volume da Biblioteca de Alice”. (Mais)
22 de julho de 2015
Quarto Interior. Exposição de Francisco Sousa Lobo.
Gostaríamos de informar todos os interessados que esta Sexta-Feira, 24 de Julho, inaugurará às 18h a exposição retrospectiva do artista Francisco Sousa Lobo, Quarto Interior.
Esta exposição integrar-se-á numa nova programação da Bedeteca da Amadora, sita na Biblioteca Municipal Piteira Santos, sob a minha responsabilidade. Intitulada Os 5 sentidos da banda desenhada, esta programação contará com grupos de leitura, acções de formação, exposições e debates. Sendo esta exposição uma experiência "beta" (no sentido informático, não de classismo social), prevê-se que a apresentação oficial do programa seja feita em Setembro.
Quarto Interior conta com a apresentação de dezenas de pranchas da arte original dos títulos do autor de O desenhador defunto, sobretudo de trabalho mais recente, inclusive várias curtas e mesmo trabalhos inéditos.
O título é tirado de um poema curto de Fiama Hasse Pais Brandão.
Contamos com a vossa presença!
Esta exposição integrar-se-á numa nova programação da Bedeteca da Amadora, sita na Biblioteca Municipal Piteira Santos, sob a minha responsabilidade. Intitulada Os 5 sentidos da banda desenhada, esta programação contará com grupos de leitura, acções de formação, exposições e debates. Sendo esta exposição uma experiência "beta" (no sentido informático, não de classismo social), prevê-se que a apresentação oficial do programa seja feita em Setembro.
Quarto Interior conta com a apresentação de dezenas de pranchas da arte original dos títulos do autor de O desenhador defunto, sobretudo de trabalho mais recente, inclusive várias curtas e mesmo trabalhos inéditos.
O título é tirado de um poema curto de Fiama Hasse Pais Brandão.
Quarto interior
Na cómoda algumas gavetas
com os caprichosos guinchos
da madeira
não só entoavam sons como
aspergiam
o ar de antiquíssima
alfazema.
Moviam-se devagar para o
regaço,
aceitavam escassamente a luz,
gemiam até estancarem
abertas e exalarem
por fim a plena
onda de aroma.
20 de julho de 2015
But I Just Found Out that my house is in flames. André Catarino (Célula & Membrana, etc.)
Podemos
entender cada uma da categorias ou descrições de livros –
fanzines, álbuns de banda desenhada, livros de
artista, livros ilustrados, etc. - como “modelos”,
como indica Pascal Lefèvre. Isto permite duas operações a um só
tempo. Por um lado, o emprego de uma (ou outra) dessas expressões
cria de imediato um horizonte de expectativas, um intervalo de
pré-determinações, de modos de aproximação e de protocolos de
leitura, que convida a um uso do objecto em si. Por outro, já no
interior desse mesmo uso, ou leitura, o confronto com todos os
aspectos que se apresentam como desviantes e, por isso,
particularmente significativos. Se bem que criar uma associação
quase mecânica entre o número de desvios à sua potência
interpeladora, ou até mesmo inovadora”, seja um perigoso
fetichismo, sobretudo se sub-argumentado, adivinha-se que qualquer
escolho à sua fruição “natural” ou “normativa” aponte para
a necessidade de um esforço maior de interpretação. Isso ocorre
precisamente com este objecto. (Mais)
17 de julho de 2015
QCDI 3000. Autores do Clube do Inferno (Chili Com Carne)
Este projecto da CCC
nasceu desde o primeiro momento como um diálogo com uma nova geração
de autores de banda desenhada que têm trabalhado no mundo dos
fanzines mas abertamente integrados numa economia de circulação de
ideias e práticas global. Se a nacionalidade ainda faz sentido em
termos de solidariedade e esforços de produção, em termos
temáticos, políticos e de método artístico, já nada os
enclausura nesse descritivo. Se o primeiro número era dos “meninos”
e o segundo das “meninas”, este recupera alguns dos autores,
concentrando-se no colectivo Clube do Inferno: Astromanta, Mao,
Hetamoé, e o único autor a dispensar nom de plume, André
Pereira. (Mais)
16 de julho de 2015
The League of Regrettable Superheroes. Jon Morris (Quirk Books)
Corre
a ideia feita de que o género dos super-heróis é o único género
que nasceu em exclusividade no cadinho do meio da banda desenhada.
Não nos compete a nós contestar nem defender essa ideia, que peca,
a nosso ver, por, paradoxalmente, misturar forma e conteúdo mas não
tomar em atenção especificidades formais e expressivas do meio,
cristalizar um conceito apesar das suas constantes reformulações e
todavia estender em demasia a atenção por campos diversos e até
mesmo incomparáveis. Aceitemos, porém, essa ideia. Por mais que
seja um conceito de que se goste, por estar embebido em toda a sua
cultura (os super-heróis são uma “cultura holística”, e não
propriamente um campo alargado no qual depois se possam escolher
intensidades), eles são um modelo de uma fantasia algo estrambólica.
E como sabem os seus leitores, mais até do que os não-leitores, há
variadíssimas gradações de delírio. Este livro pretende encontrar
personagens com um elevado grau desse delírio. (Mais)
Habibi/Finalmente o Verão. Craig Thompson/Jillian e Mariko Tamaki (Devir/Planeta Tangerina)
Sendo rara a nossa opção em pura e simplesmente fazer divulgação dos livros publicados em Portugal, repetindo as notas de imprensa ou tecendo duas ou três frases de circunstância e genérica, é com algum prurido que colocamos aqui a nota da existência destes dois volumes. No entanto, na senda das considerações feitas a propósito da colecção Novela Gráfica, e nos esforços, ora continuados por certas editoras, ora estreantes de novos intervenientes, nota-se e espera-se que haja de facto uma abertura na oferta e na diversidade dos títulos de banda desenhada contemporânea (mas também "histórica", claro), independentemente de pertencerem ou não a um espécie de "cânone internacional", "top mais" da crítica especializada ou sequer mesmo, importe a quem importar, a uma putativa e fechada "lista de predilectos" do indivíduo que escreve estas linhas. (Mais)
14 de julho de 2015
→ . Marc-Antoine Mathieu (Delcourt)
Poder-se-ia
argumentar que a banda desenhada nasceu (“always already”,
apetece acrescentar) num ambiente meta-textual. Quer creiamos na
teoria da origem num só ponto/autor (Töpffer) ou em múltiplas
origens (cf. Thierry Smolderen), encontraremos em muito dos exemplos
da banda desenhada da modernidade (a partir do século XVIII)
experiências que jogam com a própria forma que se foi cristalizando
no que se conheceria por esse nome. Quer se pense nos comentários
sobre o próprio desenho no interior da narrativa (de novo, Töpffer),
ou na mostra de marcas pseudo-indexicais no próprio trabalho (Doré),
ou ainda por revelar as próprias limitações do uso das imagens
fragmentárias (Christophe, Frost, Caran D'Ache, Verbeck), sempre
existiram artistas que exploram a própria materialidade do meio como
um comentário auto-reflector. Contudo, é também discutível o
facto de que, ao longo da sua história, a banda desenhada se foi
tornando mais ou menos subsumida a formas e convenções “clássicas”,
as quais contribuíram para a noção de que este seria um meio
transparente, aberto de forma simples para um espaço de
mundos imaginários. É graças a essa história (ou melhor, a essa
percepção parcial da história), ou “normalidade”, que certos
autores podem ser vistos como “experimentais”, “vanguardistas”,
“diferentes”, “artísticos”, e por aí fora. (Mais)
9 de julho de 2015
Punisher, Black Widow, Deathlok. Nathan Edmondson et al. (Marvel)
Com o seu programa
editorial Marvel Now, uma das maiores forças de produção da banda
desenhada mainstream norte-americana, sobretudo de
super-heróis (mas não só, já que a Disney e a saga de Star
Wars tem entrado aos poucos na sua produção), tentou toda uma
série de direcções novas, sobretudo apostando num grau de
(possível) diversidade autoral, humores e estilos. É possível
lermos títulos bem-humorados e frescos como Ms. Marvel ou
Silver Surfer, espatafúrdios como The Unbeatable Squirrel
Girl, de contornos cosmo-épicos como os vários Avengers
de Hickman et al. Nesta paisagem, portanto, não nos surpreende que
encontremos títulos mais “duros”, em termos de violência, e
referências ao mundo real dos conflitos bélicos, o poderio
industrial-militar, os jogos de poder político entre as potências,
e todos os ditos “danos colaterais”. Ocupando esse território,
destacar-se-iam os títulos escritos por Nathan Edmondson.
7 de julho de 2015
Segredos na floresta. Jimmy Liao (Kalandraka)
E se a noite não fosse
habitada por monstros nem inquietações ou ansiedade, e fosse
simplesmente o momento de nos abandonarmos a uma fuga por entre
paisagens, onde decorrem festas e encontros? Esta é uma pergunta que
é colocada pelo homem desde que a consciência humana emergiu,
provavelmente, e são os autores da literatura e do cinema infantil
que mais têm respondido. O livro de Liao é uma outra dessas
respostas. (Mais)
6 de julho de 2015
The King in Yellow. Robert Chambers e INJ Culbard (Self Made Hero)
Como havíamos indicado já na leitura da adaptação de The Dream-Quest of Unknown Kadath, de
Lovecraft por Culbard, este artista britânico estava a trabalhar uma outra
adaptação da literatura do horror fantástico, ou mais especificamente, da
literatura weird. Aliás, estava mesmo
a dedicar-se a um dos autores que é apontado como um dos seus progenitores: Robert
W. Chambers. Apesar da alargada produção literária deste escritor
norte-americano da passagem do século XIX, sobretudo numa veia romântica, é The Yellow Sign, de 1825, um volume de
contos, a sua obra mais famosa. Por duas razões, estamos em crer. Em primeiro
lugar, por ser uma enorme influência sobre H. P. Lovecraft, Derleth, e outros
escritores que dariam continuidade à “mitologia” de Cthulhu, de Carcosa (o
reino referido em Chambers), e as mesclas destes universos, iniciadas pelo
próprio Lovecraft; em segundo, e mais recentemente, por ser uma das referências
recorrentes, mas oblíquas, da primeira série de True Detective, de Nic Pizzolatto. Ei-la. (Mais)