
Até certa medida, podemos afirmar que Sepulturas
dos pais é uma espécie de retorno, ainda que talvez apenas a um nível
superficial, aos primeiros livros de banda desenhada de David Soares, quando
ele próprio os desenhava. Sem descurar os anteriores livros em colaboração com
outros desenhadores, a leitura deste volume recorda aquilo que, já em 2002,
escrevíamos sobre os livros então disponíveis de Soares, sobre um “chiaro-scuro
[sic!] que assume uma vitalidade ao serviço do fantástico e do terror” (flirt
no. 26). O percurso e “personalidade gráfica” de André Coelho é aquela que mais
partilha elementos com Soares-o-artista de entre os seus colaboradores, ainda
que este tenha dividido o seu percurso entre uma
ultra-estilização próxima de Ted McKeever (o dos anos 1990) e uma figuração
mais redonda. Porém, mesmo que Coelho seja um artista mais moldado e pictural,
também Soares explorava os “excessos” materiais – da tinta, das correcções, de letras
e símbolos não-diegéticos, etc. - para aumentar a textura visual dos seus
livros, aspecto que Coelho leva a um grau mais elevado. Não aqui, porém, onde
antes opera sobretudo em nome de uma paradoxal “clareza”. (Mais)