No vigésimo-oitavo programa com Gabriel Martins, André Oliveira e quem agora escreve pouco aqui, leu-se Eight Lane Runners, de Henry McCausland (Fantagraphics: 2020), "EM BUSCA DO SENTIDO", auscultando as categorias literárias do nonsense, absurdo e surrealismo (que não são, de forma alguma, sinónimos) para compreender formas mais ambivalente e livres de construir significados. Querelas de bolso e desejos natalícios algo patéticos seguiram-se. Apresenta-se igualmente um terror de pêlo.
25 de dezembro de 2020
20 de dezembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 27: MITOLOGIAS
No vigésimo-sétimo programa de André Oliveira, Gabriel Martins e Pedro Moura, lemos Battling Boy, de Paul Pope (First Second, 2013) para falar de um entendimento da palavra "MITOLOGIAS", enquanto sistemas complexos e integrados de narrativas, em relação à banda desenhada. Várias interrupções felinas domésticas e diminuta paciência, mas chegamos ao porto.
18 de dezembro de 2020
"Espectros do vivente" na REII
Tenho o prazer de anunciar a publicação de um pequeno artigo, menos académico do que deveria ser, intitulado "Espectros do Vivente na Banda Desenhada", na Revista de Estudos de Identidade e Intermedialidade, Vol. 2, no. 2 (2020), cujos frutos advêm de uma apresentação no colóquio Figura do Pós-Humano: Limiares do Corpo e da Máquina, que foi organizado pelo CEHUM, e teve lugar em Junho de 2019.
Poderão aceder ao pdf directamente aqui.
9 de dezembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 26: ADEQUAÇÃO DA FORMA
No vigésimo-sexto programa de André Oliveira, Gabriel Martins e este criado, partimos de Jolies Tenèbres/Beautiful Darkness, de Vehlmann e Kerascoët para discutir a questão da "adequação" entre a forma e o conteúdo. Citaram-se dois conjuntos - Tatanka dos espanhóis Cava e Raúl, e Woyzek de um trio de autores francófonos (cujas imagens surge no final do video), e o autor Roy Sikoryak. Houve mais ou menos controlo. Faz-se o que se pode.
25 de novembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 24: DESENHAR, DEPOIS ESCREVER
No vigésimo-quinto programa de André Oliveira, Gabriel Martins e este vosso, lemos Beneficio, da dupla polaca Krzystof Gawronkiewicz e Michael Kalicki (Timof/Europe Comics 2018). É provável que o ponto de partida - a ideia de um livro construído a partir de imagens pré-existentes à qual depois se acresce matéria verbal e, com ela, a ideia de uma "história", "intriga" ou "narrativa" - possa ter desequilibrado a leitura, mas foi o norte da conversa. Mas depois lá perdemos o fio à meada, como de costume. Agradecimentos ao Jakub Yankowsky pelo apoio em informações. Fãs do Jean Graton, é melhor dispensarem este episódio.
18 de novembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 24: DESARRUMAR O TEMPO
No vigésimo-quarto programa com Gabriel Martins, André Oliveira e este vosso amigo, quisemos falar sobre modos de altear a ordem cronológica de uma narrativa, pelo que eligimos o tema "DESARRUMAR O TEMPO", mas sem livro central. André Oliveira falou das suas estratégias de escrita em vários livros, e depois surgiram outros exemplos, leituras específicas, dúvidas e contradições, como manda a boa lei das discussões. E houve acidentes domésticos, disfarçados o melhor possível.
10 de novembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 23: O OUTRO LADO
Vigésimo-terceiro programa com Gabriel Martins, André Oliveira e este vosso. O livro lido em comum foi "The Other Side" (de Jason Aaron e Cameron Stewart, publicado pela Vertigo). A noção que presidiu à conversa foi "PERSPECTIVA/O OUTRO LADO", como contar uma história de dois pontos de vista, e depois para a baralhação habitual. Habituem-se.
8 de novembro de 2020
Adeus, Eduardo.
Tive o enorme privilégio de me sentar nesta cadeira que agora estará duplamente vazia. Tive o prazer de conhecer o Eduardo Salavisa. Não fomos amigos íntimos, mas sim amigos por interesses comuns, na arte e na vida e no desenho. Conhecemo-nos graças ao seu trabalho, enquanto editor sobretudo, escavador do quotidiano através de desenhos breves como apontamentos, um "pintor da vida moderna" na mais próxima acepção de Baudelaire e, com efeito, com muitos dos mesmos gestos que Constantin Guys. Fizemos uma banda desenhada juntos para a revista Cais. Segui os seus livros, colecções, participámos em palestras, fui convidado por ele, convidei-o a ele a encontros destes temas. Aprendi com ele.
Estes últimos meses foram de espera, inevitável, mas com uma franqueza, frontalidade e abertura desarmantes. Outra lição.
Obrigado, Eduardo. Os que ficamos sentirão a tua falta.
28 de outubro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 22: A BD E O SOUTHERN FOLK BLUES
Vigésimo-segundo programa com Gabriel Martins, André Oliveira e Pedro Moura. O livro lido em comum foi "Lomax. Collectors of Folk Songs" (originalmente da Dargaud, lemos a edição americana da Europe Comics). A ideia foi pensar um pouco sobre a música na banda desenhada, mas focados neste livro em particular e outras questões que ele desencadeia. Houve concentração e alguma análise, mas depois, o costume...
20 de outubro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 21: O FUTURO POR VIR
Vigésimo-primeiro episódio do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e Pedro Moura. O tema que queríamos discutir era "O FUTURO POR VIR", e tínhamos um foco. Escolhemos "Ghost in the Shell", um clássico, quer da mangá, pelas mãos do seu criador Masamune Shirow, e depois refundado por Mamoru Oshii em animé. Mas falámos de uma catrafada de coisas e nem sempre organizados nas ideias. Por fim, enganei-me e falei de "Lomax" quando deveria ter dito "Frantz Duchazeau"! A desculpa é que... não, não há.
3 de outubro de 2020
A menina dos olhos ocupados. André Carrilho (Bertrand)
Será inevitável que todos os autores de banda desenhada, ilustração, literatura, música, teatro, ou empadas de galinha, no momento em que se tornam pais e começam a enfrentar a necessidade de participarem na educação de uma criança quer para a cidadania quer para a liberdade da imaginação, sentem a responsabilidade de criarem algo nesse sentido? Haveria muitos exemplos a apontar, uns movidos por uma certa capacidade em encontrarem caminhos comuns entre um território e as suas disciplinas de trabalho, outros talvez até por um certo egoísmo e egotismo, julgando-se capazes de fazer algo melhor do que aqueles que se dedicam a essa mesma tarefa. E haverá projectos que, nutridos por um movimento ou outro, trazem um contributo indelével a esse campo, mas muitos mais em que há um claríssimo falhanço, alimentado por uma pífia compreensão do que é preciso fazer, ou pior, empurrado pela tal arrogância cega aos demais exemplos. (Mais)
1 de outubro de 2020
Adeus, Quino.
Sei que é um cliché, mas é um daqueles "valores" - que tantos gostam de denegrir em posições cínicas e arrogantemente fingidas de uma certa superioridade cultural - que importa sempre defender - mais ainda AGORA! Lia Quino em miúdo, provavelmente percebia pouco, mas foi ensinando muito. É possível que seja mentira, mas porque não imaginar(-me) que a minha obsessão por etimologia tenha começado aqui?
Adeus, Quino. Em cada esquina te encontro.
29 de setembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 19: BD PARA A INFÂNCIA
Episódio dezanove do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e este que parla. O tema deste programa, sem textos propriamente de partida, foi "BD PARA A INFÂNCIA", uma fatia de produção que, apesar da mantida expressão e percepção social, tem sido preterida nos últimos anos... Não foi assim tão concisa a conversa, mas esperamos ter dito alguma coisa... O próximo episódio focará o primeiro volume da série Stray Bullets, de David Lapham.
[procurem a etiqueta "infantil" para encontrarem neste blog recensões a alguns dos livros que cito no programa"]
23 de setembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 18: GUERRA
Episódio dezoito do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e o autor deste blog. O tema deste programa foi "GUERRA", o livro comum, "O POEMA MORRE", [remeto ao texto que havia escrito quando foi publicado] de David Soares e Sónia Oliveira (Kingpin Books). Houve mais concentração sobre este título e os seus mecanismos temáticos do que um passeio pelo(s) género(s), mas lá chegámos. Um problema de gravação tornou tudo mais lento e por isso as vozes parecem mais graves.
16 de setembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 17: RIR PARA NÃO CHORAR
Episódio dezassete do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e este vosso criado. O tema deste programa foi "RIR PARA NÃO CHORAR" e o objecto que nos concentrou a a tenção foi a série "MEGG AND MOOG" de Simon Hanselmann, a qual ultrapassa títulos individuais, mas leu-se em comum dois dos volumes da Fantagraphics e o volume publicado em português pela Chili Com Carne.
Estávamos cansados, e com energia baixa, mas genuinamente interessados na discussão e até nos rimos ao relembrar algumas das horríveis anedotas dos livros... A ideia é compreender o mecanismo do humor negro para melhor revelar questões muito, muito incómodas e que desejamos manter à distância...
8 de setembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 16: TENET
Décimo-sexto episódio do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e Pedro Moura. A estrutura da discussão foi bem distinta, pois em vez de um livro de banda desenhada, discutimos o filme "TENET" de Christopher Nolan (2020), passando por vários elementos. Porém, houve uma tentativa de nos centrar em questões do storytelling, da estruturação narrativa, dos truques de aparência complexa, do desenvolvimento de personagens e criação de um fundo empático, enfim, da velha questão do equilíbrio entre histórias "plot-oriented" e "character-oriented", etc. Esticámo-nos um pouco, pois era sem rede.
2 de setembro de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 15: ADAPTAÇÃO
Décimo-quinto episódio do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e este vosso criado.
O tema deste programa é "ADAPTAÇÃO", e falámos de "No Longer Human", de Junji Ito (Viz Media 2019), o qual adapta a novela de 1948 de Osamu Dazai (publicada em Portugal como "Não-Humano", pela Cavalo de Ferro 2014). Conversa com mais um uísque, mas correu ordeiramente, para variar.
25 de agosto de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 14: RETRATO DA SOCIEDADE
Décimo-quarto episódio do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e Pedro Moura. O tema deste programa é "RETRATO DA SOCIEDADE", um tema algo geral, tendo-nos virado para um clássico moderno, "Ghost World", de Daniel Clowes (Fantagraphics, 1997; trad. port. "Mundo Fantasma", Devir 2005). A ideia era discutir a forma como os livros estão ancorados no seu tempo, podendo ser vistos como retratos mas igualmente como "datados". Mas depois destrambelhou. Que querem? Mais férias precisas...
24 de julho de 2020
Desvio. Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho (Planeta Tangerina)
Este
título poderá vir a tornar-se num importante contributo para a
literatura gráfica portuguesa, menos pelas suas conquistas estéticas
ou reinvenção da arte, relativamente calma, mas por o que ele
poderá representar em termos de espelho das emoções mais vigentes
nas gerações jovens dos nossos tempos. Desenganem-se aqueles que
procurem aqui uma “plot-oriented story” à la Harry Potter ou
outra bodega YA que ande por aí à espera de adaptação
cinematográfica. Desvio não é bombástico. Sussurra com
compreensão. (Mais)
21 de julho de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 13: DIÁRIO DE BORDO
Décimo-terceiro episódio do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e Pedro Moura. O tema deste programa é "DIÁRIO DE BORDO" e, partindo de "Propaganda", de Joana Estrela (Plana, 2014), discute questões que têm a ver com os géneros-irmãos do diário de viagem, reportagem, autobiografia e outras paragens e movimentos. Mantivemos o rumo, fomos mais concentrados e até conseguimos partilhar leituras presentes.
20 de julho de 2020
A época das rosas. Chloé Wary (Planeta Tangerina)
São estes gestos editoriais que
garantem ainda alguma felicidade de uma verdadeira contribuição
para a diversidade de vozes e acessos à banda desenhada em Portugal.
Já o repetimos em várias ocasiões, e aqui mesmo neste espaço, que
atravessamos um momento relativamente estável e interessante de
editoras especializadas que vão alargando o leque de vozes. Mas a
meu ver, seria ainda mais feliz se editoras generalistas abrissem um
pequeno espaço à banda desenhada que fosse ao encontro dos
assuntos, abordagens e tratamentos estilísticos que lhes interessam
nos seus catálogos – por hipótese, o romance contemporâneo, a
ficção historiográfica, a reportagem política, a poesia, a
literatura para jovens ou para a infância, o diário de viagem, etc.
Não tem de ser necessariamente uma colecção especial (se bem que a
coerência ajudaria à consolidação de um corpus, o que a
Bertrand/Contraponto não conseguiu fazer, apenas a título de
exemplo), tem de ser coerente com um programa.
Independentemente das questões económicas, cruciais e basilares, há
também o esforço e o conhecimento e a sensibilidade. Ora, a Planeta
Tangerina, enquanto plataforma quase de auto-edição, ou
cooperativa, já havia com Finalmente, o Verão, das primas
Tamaki (recentemente re-publicado) feito uma aposta num projecto de
banda desenhada internacional que fazia falta na oferta em língua
portuguesa. Agora, com dois livros, um de autores portugueses e esta
tradução de uma autora francesa, arranja novamente um espaço
fulcral. (Mais)
17 de julho de 2020
Planície Pintada & Floema Dorsal. Diniz Conefrey e Maria João Worm (Quarto de Jade)
Perdoar-nos-ão os autores colocar num
mesmo texto a apreciação dupla dos seus últimos títulos, apesar
de tamanha disparidade. Queremos acreditar, ainda assim, que tal como
as respirações criativas, partindo do mesmo ponto, se podem depois
consubstanciar em ventos tão diferentes, que novamente esses
movimentos se possam vir a unir numa força comum, a da leitura
conjunta. (Mais)
14 de julho de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 12: FORMATOS DO PRAZER
Décimo-segundo episódio do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e Pedro Moura. O tema deste programa é "FORMATOS DO PRAZER" e tem a ver com as diferentes formas de envolvimento cognitivo, emocional e até físico com os formatos diferentes em que a banda desenhada é publicada. Falou-se de serialização, de tempos e gerações, e um pouco do digital. Não houve texto em comum, e navegámos mais por memórias e hábitos de leitura.
8 de julho de 2020
A Assembleia das Mulheres. Aristófanes e Zé Nuno Fraga (A Seita)
7 de julho de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 11: HUMOR LIVRE
Décimo-primeiro episódio do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e Pedro Moura. O tema deste programa é "HUMOR LIVRE". A leitura comum foi "Dolphin e Dolphino", de Afonso Ferreira, uma série de tiras que estiveram na internet e existiram como um pequeno fanzine. Mas a conversa navegou por muitos territórios criativos e muitas questões pesadíssimas que, naturalmente, não respondemos de forma alguma... Mas colocámos boas perguntas? Vocês o dirão.
5 de julho de 2020
O Penteador. Paulo J. Mendes (Escorpião Azul)
30 de junho de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 10: FICÇÃO HISTORIOGRÁFICA
Décimo episódio do programa com Gabriel Martins, André Oliveira e Pedro Moura. O tema deste programa é "FICÇÃO HISTORIOGRÁFICA", e foi escolhido como livro de partida "Vil: A Tragédia de Diogo Alves", do próprio André Oliveira e Xico Santos (Kingpin: 2015). Interessou-nos interrogar a relação entre a ficção e a "verdade histórica" e a plasticidade desse encontro. O nome de David Soares esteve em destaque enquanto elemento de contraste com a obra de Oliveira, mas falámos noutros exemplos também, não apenas da banda desenhada. E introduzimos a ideia de falarmos do que estamos a ler. Provavelmente não é útil. Enfim.
11 de junho de 2020
Lerbd/Tinta nos Nervos - Conversa com os editores de "AWOBMOLG"
Conversa com Dois Vês e João Carola, os dois editores da antologia «All Watched Over By Machines Of Loving Grace» (Chili Com Carne: 2019). Com trabalhos dos editores e ainda de Amorim Abiassi Ferreira, Ana Maçã, André Pereira, Cátia Serrão, Cláudia Salgueiro, Félix Rodrigues, Vasco Ruivo, e design de André Vaillant. Uma colecção de curtas de banda desenhada "experimental" em torno de questões de como as tecnologias cada vez mais ubíquas reinventam a relacionalidade humana (#hightechlowlife). Relações familiares, amorosas, precariedade, navigabilidade do espaço, tempo e memória, a dimensão onírica e maquínica, a tensão imaginativa entre Ballard e Dick, "Ghost In The Shell" e "Black Mirror".
A Tinta nos Nervos apresentou uma exposição de curta duração ("Mata Borrão") dos trabalhos originais, esboços e estudos deste projecto, com venda dos originais, entre 10 e 17 de Junho de 2020.
26 de maio de 2020
3 Graus de Carequice - Episódio 05: TENSÃO
Quinto episódio do pseudo-podcast de Gabriel Martins, André Oliveira e Pedro Moura. O tema, desta feita, é "TENSÃO". O livro de partida é o volume, já com algum sucesso crítico, de Nick Drnaso, "Sabrina" (Drawn and Quarterly: 2018; ed. portuguesa Porto: 2019). Um termo-chave e particularmente paradoxal neste drama contemporâneo...
Havia escrito sobre este livro aqui.
8 de maio de 2020
«Para que serve?» Conversa com Madalena Matoso e José Maria Vieira Mendes (Planeta Tangerina)
Conversa com Madalena Matoso e José Maria Vieira Mendes, em torno do livro ilustrado para a infância, e todas as pessoas, "Para que serve?" (Planeta Tangerina 2020). Baseado numa conferência de Vieira Mendes no teatro Lu.ca, "Para que serve a cultura?" e fruto de uma densa colaboração com a ilustradora, arriscamo-nos a dizer que este é um livro muito filosófico e necessário para todos nós, pois coloca-nos uma questão, a qual, menos do que saber responder, temos de saber bem perguntar.
Nota final: agradecimentos à editora, pela oferta do livro.
6 de maio de 2020
«Bestiário» #s 1 & 2.
Num momento em que a os editores, livrarias e todos os agentes associados à dita “indústria” do livro já lançam mãos de quaisquer bóias de salvamento das contínuas crises – económicas, de consumo, de confiança, educação, das plataformas digitais, alterações sociais e culturais, de sector, legislação e, mais recentemente, de saúde pública – é difícil encontrar uma solução que funcione como panaceia universal. Podemos estar no mesmo oceano de papel, mas as embarcações são bem distintas entre si, e as ondas levantam-se de maneira diferente, o marulhar afecta em variação. Uma opção, porém, se avizinha àqueles que ainda crêem no poderoso objecto que o livro é: fazê-los bem, fazê-los belos, fazê-los inteligentes. Entra a Bestiário. (Mais)
21 de abril de 2020
Tinta nos Nervos/LERBD: Apresentação da revista «Dois Pontos» # 02
Notas ? margem mais ou menos organizadas.
9 de abril de 2020
Einstein, Eddington e o Eclipse. Impressões de Viagem. Ana Simões e Ana Matilde Sousa. (Chili Com Carne)
Este
volume encerra um multifacetado e ambicioso projecto. A sua mera
descrição desencerrará alguns aspectos dessa natureza complexa.
Podemos começar por descrevê-lo como sendo um “livro-companheiro”
de uma exposição intitulada E3,
desdobrando o mesmo título. Esta exposição teve lugar no Museu
Nacional de História Natural e da Ciência, celebrando o 100º
aniversário de uma expedição astronómica científica, organizada
pelos britânicos em 1919. Por ocasião de um eclipse solar total,
dois navios partiram em direcção a Sobral, no Ceará, Brasil, e à
Ilha do Príncipe, esta segunda sob o comando científico do
astrónomo Arthur Eddington, então académico já bastante
conceituado pelo seu labor intelectual e em prol da ciência
contemporânea. O objectivo era claro: confirmar algumas das
previsões centrais da Teoria da Relatividade Geral de Albert
Einstein, propostas as quais haviam sido apresentadas meros anos
antes. (Mais)
7 de abril de 2020
Pentângulo no. 3. AAVV (Chili Com Carne/Ar.Co)
Conforme os números anteriores desta
antologia, devo começar por indicar que, de uma maneira ou outra,
estamos envolvidos no seu processo de produção. Apesar de não
participarmos activamente neste novo número, quer com um artigo ou
uma banda desenhada, ou até mesmo com “exercícios” directos, o
nosso envolvimento enquanto docentes no Ar.Co leva a que, num caso ou
outro, haja um cruzamento prévio com peças de alguns dos alunos
envolvidos. (Mais)
28 de fevereiro de 2020
Mar de Aral. José Carlos Fernandes e Roberto Gomes (Comic Heart/G. Floy)
Este livro é, de uma certa
forma, a continuidade do plano interrompido das Black Box Stories
de José Carlos Fernandes, um conjunto de histórias curtas,
talvez em forma de argumento ou talvez de outline, que seriam
desenhadas por uma série de artistas. A maior fortuna dessas
relações foi aquela alimentada pelos desenhos de Luís Henriques,
que dariam três livros bem distintos (Umbrografia, Metrópole, Estrelas). A série acabou por não ter
continuação. José Carlos Fernandes abandonou o mundo da criação
de banda desenhada, Luís Henriques também. Consta que existiram
outras “stories” começadas, mas nenhuma viu o lume da impressão.
Até este título. (Mais)
25 de fevereiro de 2020
Filhos do Rato. Luís Zhang e Fábio Veras (Comic Heart/G. Floy)
À medida que o tempo avançar
e a esmagadora maioria dos protagonistas da guerra colonial começarem
a deixar este mundo, o processo da sua memória vai dando cada vez
mais frutos, e poderá mesmo chegar ao espaço público. É algo que
se tem verificado, como um padrão, noutras circunstâncias
históricas. Se quase se pode falar de um “pacto de silêncio”
feito por essa geração em relação àquela que imediatamente
gerou, o tempo aproxima-se em que também os objectos da cultura
popular – no caso, a banda desenhada -, começará a responder. Não
vamos fazer aqui o enésimo exercício de listar os trabalhos desta
disciplina que versaram este conflito. Nos últimos anos, OsVampiros teve algum impacto, se bem que escolheu um caminho da
narrativa de género; Filhos do Rato afasta-se dessa abordagem
mais espectacularizante, validando porém elementos fantásticos. (Mais)
3 de fevereiro de 2020
Maximum Troll On. Benjamin Bergman (Mmmnnnrrrg)
Porém, o autor está menos interessado
em criar uma variação sobre esses temas, ainda assim contribuindo
para esse edifício, no típico exercício de “resposta literária”
que constitui os próprios campos temáticos, do que transformá-lo
num quase independente exercício de retórica livre, experimental e
alucinada. (Mais)
20 de janeiro de 2020
Toutinegra. André Oliveira e Bernardo Majer (Polvo)
A noção da fé é
profundamente distinta da do conhecimento. A oposição pistis
e gnosis é um pilar histórico no crescimento da filosofia da
igreja cristã, e se ambos os conceitos indicam uma aceitação de ua
lição como verdadeira, os modos de aceder a essa verdade são
diferentes, distinguindo-se uma dimensão emotiva de uma outra
racional.
A razão pela qual arrolamos essa
discussão filosófica, ainda que não a aprofundemos, é porque nos
parece estar subjacente, de forma inconsciente, na matéria debatida
pela intriga de Toutinegra,
o mais recente livro escrito por André Oliveira, desenhado por
Bernado Majer. Penso que não será ofensivo para com o artista
assumir que este é um volume que à continuidade a muitas das
preocupações e assinaturas temáticas de Oliveira, mas que
queiramos acreditar que existirá aqui frutos de discussões entre os
dois autores e contrintuso equilibrados. Um dos recorrentes temas do
argumentista é a importância da dinâmica familiar, seja esta
composta por que elementos forem. E é quando essa unidade social se
rompe, está à beira da ruptura ou numa tensão significativa, que
as suas narrativas se tecem. Oliveira encontra aqui uma maneira
naturalista de escrever os diálogos, que com pouco caracterizam de
forma magistral as relações entre as personagens e as suas
inscrições sociais. (Mais)
17 de janeiro de 2020
Parícutin. Gonçalo Duarte (Chili Com Carne)
Pequena obra
de estreia do jovem autor para além da sua produção fanzinística,
Parícutin
é um objecto invulgar e que dificilmente se poderá categorizar.
Depois dos vários trabalhos curtos pela Lobijovem, Dor
de Cotovelo
e vários títulos colectivos da Chili Com Carne, Gonçalo Duarte
aventura-se numa narrativa mais alargada, cuja coesão se encontrará
mais numa veia poética e impressionista do que propriamente pela
organização de elementos concretos e cartografáveis. (Mais)
5 de janeiro de 2020
Blake & Mortimer: Le Dernier Pharaon. François Schuiten, Thomas Gunzig, Jaco Van Dormael e Laurent Durieux (Blake et Mortimer)
Confessemos
que não somos alheios a todo um complexo de nostalgia, que muitas
vezes suspende a razão, a aprendizagem e o desenvolvimento dos
conhecimentos, e se prende tão-somente a memórias de um tempo
diverso, protegido, de regressão infantil, no qual apenas os
prazeres epidérmicos e imediatos contavam. A banda desenhada, sendo
uma linguagem ou forma artística cuja presença era garantida desde
um primeiro momento, teve um papel absoluta e naturalmente
fundamental. Ora, dessas leituras primárias, existirão muitos
textos que foram sendo abandonados, esquecidos ou apagados
precisamente pela maturação cultural e intelectual, mas outros
deixaram os seus fantasmas. E a série Blake & Mortimer
faz parte do pequeno grupo de fantasmas que sobrevivem. (Mais)