26 de outubro de 2016

Megg, Mogg & Mocho. Simon Hanselmann (Mmmnnnrrrg)

Este texto serve para dar conta de um dos livros que a Chili Com Carne & a Mmmnnnrrrg lançaram de catadupa, por ocasião, parece-nos, do Amadora BD, reunindo este pequeno caderno uma pequena selecção das histórias das personagens incómodas e delirantes do autor australiano Simon Hanselmann. Há quase três anos certos demos conta de uma leitura por atacado detoda uma série de publicações desse autor, explorando o seu universo temático, os seus ambientes, um paradoxal misto de humor negro, aventuras de desenhos animados e desespero urbano. Pouco tempo depois, a Fantagraphics agregaria a esmagadora maioria dessa produção num volume imponente. Este volume, mais modesto, não deixa ainda assim de ser um decisivo contributo para a disponibilização, em Portugal e em português, de material digno da “gente bruta” anunciada pelo selo editorial. (Mais) 
A tradução, acinte e acerba como deve ser, de André Pereira, torna a linguagem viva e acutilante destas personagens num português de guna, o que torna o seu deleite ainda mais particular. De certa forma, as aventuras da bruxa Megg, com o seu animal de estimação ou roommate ou amante ou companheiro de chuto Mogg e o roommate triste Mocho, e ainda mais um punhado de amigos de más-boas ondas, criam pequenas situações de humor que parecem sair da mistura alucinada de uma dessas séries midbrow de burguesia protegida, tipo Amigos ou Foi assim que aconteceu, com a miríade de “reality shows” nas mais díspares variações existentes. Há uma espécie de prazer doentio em estarmos presos a este exercício de voyeurismo sobre a auto-destruição massiva das suas personagens, ao mesmo tempo que há uma espécie de sedução por essa vida livre e uma repulsa (burguesa, confessamos) dos perigos a que se entrega. A simpatia para com o Mocho, por exemplo, dependerá dessa inscrição social.

Esta é uma banda desenhada cuja verve e força só pode ser compreendida no momento em que se fecham as suas capas e em retrospectiva se compreende a estranha poesia de asfalto que ela promete. Haverá algo de redentor e transfigurador na maneira como Megg vai demonstrando as formas como é capaz de sentir amor pelas outras personagens? E na forma como se tentam disfarçar para ultrapassar as percepções que os outros têm de si? E num passeio de bicicleta? Se atingir um arco-íris, não será já suficiente? 


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