Um fanzine é, acima de tudo, um espaço de liberdade. Um espaço no qual os intervenientes têm toda a liberdade de expressão possível. Isso porque o fanzine, assim como outros meios de expressão existentes (nada vive sozinho), vive à margem dos vários campos de poder, sejam estes económicos, políticos, e outros, inclusive os das hegemonias culturais, insistentes em hierarquias de gostos e ou processos de criação. Isto não quer dizer que este ou aquele autor, ao criar um fanzine, não esteja a responder aos campos da criação cultural - ao fazer um trabalho de género, que procure se referenciar em trabalhos de outras pessoas, que procure chegar a um público mais alargado ou mais elitista - ou ao económico - como "trampolim" de chegar a publicações mais comerciais, ou tentando competir com elas - ou ao político - sobretudo no que diz respeito às publicações "de intervenção" ou com grande expressividade social. (Mais)
São essas grandes margens que abrem todas e quaisquer possibilidades aos autores de um fanzine. Vivendo fora da legalidade, da absoluta necessidade em apoiar a sua sobrevivência na esfera do comercial, e até de respeitar as chamadas "regras do gosto" ou "da arte", não há nada que não possam demonstrar, mostrar, exibir, reconstruir, etc.
Um outro plano do fanzine extremamente importante é o facto, muitas vezes descurado, de que é um meio, logo, os aspectos relativos da qualidade não lhe são intrínsecos. Isto é, um fanzine não é necessariamente nem mau nem bom, nem inócuo nem interessante (a menos que o interesse seja precisamente o por esse meio).
Não me interessará falar aqui das origens do fanzine, nem quantos (inúmeros, diversos!) autores começaram num, nem quais são os melhores do mundo. Se o fanzine é um espaço de liberdade, então existirá também a sua liberdade de fruição. Isto é, elas atingirão os seus objectivos imediatos no momento em que encontrem os seus leitores em particular, que pode não ser algo feito à partida, já que os leitores criam também os significados de um fanzine (e de tudo o mais) no próprio acto de leitura. Ou seja, ao passo que - e isto são planos discutíveis - outras formas de expressão, como as indústrias culturais livreiras, cinematográficas, discográficas, etc., têm de se pautar usualmente por todo um historial e regulamentos, obrigados assim a actuar dentro de limites de expressão - para que não se repitam discursos, não se plagie, não se crie algo pouco comercializável ou porque "já visto" ou porque "radical" - ao fanzine é-lhe permitido espraiar-se naquilo que bem entender. Porque o fanzine, assuma ele a forma que bem desejar (em papel ou dvd, sola de sapato ou mexilhão, pequeno ou grande, com ou sem agrafos, distribuído às centenas ou num par, vendidos ou trocados), e expresse que conteúdos desejar, acaba sempre por convergir num meio que é tão orgânico como a voz do seu autor.
Como o corpo, também o fanzine é expressividade total, ora contraída pelo desejo ora livre pela expressão.
(texto escrito para José Lopes, a integrar o seu projecto contínuo DVDzine; desenho de Isabel Carvalho para um dos encontros da Família Alternativa - Edições Independentes, que contam também com fanzines)
23 de novembro de 2004
UM FANZINE É...
Publicada por Pedro Moura à(s) 6:26 da tarde
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2 comentários:
OLÁ, MEU NOME É CARLOS E SOU EDITOR DO FANZINE EPISÓDIO CULTURAL. EU GOSTARIA DE ENVIAR GRATUITAMENTE OS TRÊS PRIMEIROS NÚMEROS EM ARQUIVO PDF. CASO VOC~E OU QUEM LER ESTE RECADO QUEIRA, É SÓ ENVIAR UM EMAIL PARA:
carlostvcdr@psa.ind.br
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carlostvcdr@yahoo.com.br
um abraço a todos
carlos
Olá,
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Até breve!
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