Abrindo-se mais uma excepção neste espaço, serve o presente post para anunciar a estreia, para muito breve (dia 21 deste mês), do filme Persepolis. E fazer uma oferta (ver abaixo), entretanto terminada.
Este filme de animação é uma adaptação da excelente obra homónima de banda desenhada da iraniana Marjane Satrapi, publicada pela francesa L'Association em quatro volumes, entre 2000 e 2003. Entretanto, saiu faz pouco uma edição num só volume. Foi traduzida para várias línguas, inclusive a portuguesa, tendo saído apenas (ainda?) o primeiro volume, pela Polvo.
O filme é co-realizado e co-escrito por Vincent Paronnaud e a própria Satrapi, centrando-se mais no crescimento da jovem Marji por entre a Revolução Islâmica e a sua chegada ao "Ocidente", e necessárias dores e crises que lhe estão associadas, do que nos excursos e considerações que valorizam maximalmente esta obra, que passou desde logo a pertencer àquele limitado grupo de "obras maiores" da banda desenhada de discernimento. Não obstante, é uma animação seguramente bem conseguida e rara nos tempos do "much CGI about nothing".
As imagens que aqui se encontram (retiradas, como é óbvio, de outros locais na internet) mostram cenas de dois diálogos: entre Marjane e a sua avó paterna, mulher de um carácter forte e surpreendente (veja-se, ainda, Broderies) que em muito contrasta com as morais e as políticas entretanto (re)instituídas pela Revolução Islâmica, e entre Deus e Karl Marx, dois pensadores que em algo influenciaram o mundo.
O filme é distribuído pela Midas Filmes e, através do blog lerbd, poderiam ganhar acesso a um dos 10 convites duplos para a ante-estreia do filme. No entanto, estes já foram distribuídos pelos vencedores. Esta sessão terá lugar no dia 20 de Fevereiro, próxima Quarta-feira, numa das salas do cinema Alvaláxia, no estádio do Sporting, Alvalade, às 21h30m.
Para isso, basta responderem à seguinte pergunta (quem leu Persepolis, terá acesso à resposta): qual o nome do tio favorito da pequena Marjane, e que é executado pelo regime? [A resposta era Anouche, conforme o volume 1, que foi igualmnte publicado em Portugal].
De preferência, respondam por email, deixando o nome, morada e/ou telefone (para receberem os convites, e nada mais). Até Segunda-feira, 12h, máximo. Escrevam para pedrovmoura-arroba-gmail.com
Boa sorte, e bom filme.
Nota depois do visionamento do filme: continuo a julgar que ver este filme é uma obrigatoriedade, sobretudo para aqueles espectadores que apenas consideram os filmes baseados em personagens da Marvel ou da DC (ou quejandos azimutes) como os únicos dignos de atenção, publicidade e discussão quando se fala das relações entre a banda desenhada e o cinema (aliás, já quando apenas se reduz essa questão à mera adaptação), ou ainda aqueles que se dizem interessados pela animação, mas limitam as suas escolhas a Miyazaki, mono-CGIs ou experiências de cosmética superficial (Scanner Me Darkly, por exemplo). Não obstante, há que dizer que o filme está, em termos de força, ns quantos pontos abaixo dos livros. O carácter episódico, até mesmo espontâneo (que cria essa ilusão, melhor dizendo), da obra de banda desenhada é passível de se plasmar com o acto individual da sua leitura, raramente contínuo e ininterrupto. No entanto, como é de esperar, o ritual do cinema e a imposição da velocidade do cinema sobre a fruição do espectador implica uma relação totalmente diferente, tornando essas acções episódicas - imitadas do livro aqui nominalmente ali literalmente, e ainda que colocadas num interior semi-disfarçado, uma moldura maior feita de espera e rememoração - em pouco mais do que elementos desirmanados, dissolvendo a unidade que seria possível.
Um efeito dessa falta de unidade, e apresentação de segmentos separados, impede a que haja uma entrega emocional completa, apesar do carrossel de emoções, de alegrias súbitas e comédias, de tristezas que rasgam a terríveis eventos... Não há tempo para que se desenvolvam as entregas necessárias à leitura e compreensão das emoções retratadas, logo, impede a nossa aproximação.
Há uma maior preocupação comercial, naturalmente, mas talvez esperasse um encontro que se inclinasse mais para Kiarostami do que para uma série de animação televisiva...
Sob um aspecto formal, somente, pequena violência de análise por vezes necessária, parece-me que não estando perante um uso inédito das suas técnicas, nem de uma capacidade de representação e estruturação genial, é porém um filme mais do que competente, com um ambiente muito coeso (formalmente, lá está), que estabelece relações directas com os antigos teatros de marionetas e de sombras da riquíssima - visual! - cultura persa.
12 de fevereiro de 2008
Persepolis. Filme de Paronnaud e Satrapi (oferta de bilhetes)
Publicada por Pedro Moura à(s) 10:11 da tarde
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2 comentários:
Olá! Ganhei Persépolis no dia 14/02, meu aniversário, e no dia 15, folheando o livro já lido, fiquei com aquele gostinho de "quero mais", e espero ansiosa pelo lançamento no Brasil de seu segundo livro, pela Cia. das Letras, prometido para 2008. Espero que seja em breve, e enquanto espero gostaria de assistir o filme...
Abraço
Rita
Olá, Ri.
Sabendo que a edição é da Companhia das Letras, tenho a certeza de ser uma boa edição, e espero que continue a ser editada aí no Brasil, apesar de ter ouvido que a CL tinha sido vendida (é verdade?) a uma multinacional, com outros interesses... Aqui em Portugal, infelizmente, apenas saiu o primeiro volume e foi interrompido.
Bom filme! E boa continuação de leitura!
pedro
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