O meu amigo João Paulo Cotrim morreu hoje. Pronto. Não há outra maneira de o dizer. É mesmo à bruta. Não éramos íntimos, mas éramos camaradas. E era como um primo mais velho, lá à frente, muito à frente, a chamar-nos e tínhamos de correr muito, que a passada dele era maior que a vida e a nossa, por mais que desejássemos, era sempre manca. Mas lá seguíamos.
O João Paulo é uma daquelas personagens, como algumas na minha vida, que me influenciou muito e a quem devo muito. Era um miúdo, a espreitar para dentro da casa da banda desenhada, e ele escancarou as portas. Escrevia eu umas resenhas curtas e tímidas, em revistas aqui e ali, e chamou-me para a "Quadrado". E desafiou: "escreve à larga". E escrevi, e como foi à larga! Nunca mais parei. Ultimamente, cruzávamo-nos ora no metro ora ao de longe, ia sabendo desta notícia e daquela, lia os livros editados por ele, lia-o (e sempre que leitura!), consultava-o, e ele acenava. Ultimamente, tenho escrito menos. O João Paulo Cotrim acena sempre, a chamar ao trabalho. Vou escrever mais, homem.
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