Esta não será uma leitura crítica do livro, mas apenas uma pequena chamada de atenção à existência deste objecto. Este é um projecto do Teatro Aveirense que publica um pequeno conto do dramaturgo argentino Claudio Hochman, que vive em Portugal há alguns anos. O conto em si voga em torno da dita impossibilidade de traduzir com correcção e, o mais importante, de a viver, a palavra portuguesa "saudade". Apesar de, a título pessoal, discordar dessa visão, e temer por vezes que essa óptica linguístico-nacionalista revele antes uma falta de entendimento dos outros, a ignorância da existência de, noutros povos, palavras-sentimentos julgadas impossíveis de partilhar, e tudo poder desembocar numa espécie de orgulho vazio, a verdade é que ela, e outras palavras, se prestam a exercícios poéticos interessantes. Desde que não caiam em essencialismos nacionais, poderá abrir espaço a projectos de pensamento criativos. (Mais)
A história é relativamente simples, mostrando um rei sabichão, que sabe todas as palavras, e um pequenino homem, chamado Fernando, "com o seu fatinho, a sua gravatinha, os seus bigodinhos e os seus óculos pequeninos", sombra do poeta, que traz uma palavra-enigma que o rei terá de descobrir, não nos dicionários, mas vivendo-a, tornando-a sua experiência. O conto de Hochman espraia-se pelos sete dias da semana tal como ditos em espanhol, o que guarda ainda as raízes mitológicas, diferentemente do português, que as erradicou por completo; há portanto um encontro entre duas especificidades linguísticas de sinal contrário... A existência de duas edições, uma em português e a outra em espanhol, valoriza o pequeno intervalo, significativo, entre as duas línguas. Mostro a capa da segunda versão (textualmente, a original), uma vez que a opção para a portuguesa não é a mais feliz.
Nota: livro pertencente à biblioteca da ESAP-Guimarães.
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