Há toda uma tendência contemporânea em retornar a uma forte estilização, figurativa e cromática, estrutural e objectual, narrativa e imaginativa, da parte de cultores de trabalhos vincadamente autorais e dirigidos a um público muito jovem. A banda desenhada infantil não tem de ser infantil, portanto, e pode recobrir-se sempre de vias exploratórias, como o fez continuamente em momentos-chave em que autores, plataformas editorais e leitores curiosos se uniram nesse fito. A NoBrow é um caminho, a Pepino foi outro, e aqui temos outro projecto comparável. (Mais)
Este número parece ser um número único, fora da vida mais regular da Canicola, apesar da numeração, reunindo os suspeitos do costume deste grupo mais ou menos coerente de autores italianos (ou de outros países trabalhando nesse grupo) na criação de pequenos relatos com contornos legíveis pelos leitores mais novos. Não há em nenhum dos pequenos contos uma maneira redutora de responder a esse desafio, procurando formas simples de seduzir esses leitores. Muitos dos autores mantêm mesmo os instrumentos que costumam empregar nestas suas histórias, apenas com subtis adaptações. E todos eles mostram nódulos brilhantes da sua inventabilidade e generosidade em o focar para outros leitores, novos de fio a pavio.
Todos os artistas, de uma maneira ou outra, parecem trabalhar com materiais riscadores muito simples, comuns, familiares: lápis de cor, lápis de cera, marcadores, papel de cor (provavelmente de manteiga, de embrulho, corrector… As badanas e as guardas têm imagens ilustrativas. O índice e as biografias dos autores são escritas a lápis, em letra cursiva. As próprias biografias apresentam-se como se de curtíssimas histórias se tratassem, revelando informações pessoalíssimas curiosas (descobrir que Feuchtenberger é avó é surpreendente, confessemos).
Canicola bambini parece-se com uma pequena caixa de surpresas e doces, todos com segredos diferentes e há que mergulhar em todos, egoístas, para os saborear.
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