17 de setembro de 2004

Enfants C’est L’Hydragon qui passe. Jean-Claude Forest (Casterman)


Das várias definições de Calvino, um clássico pode ser "o que tiver tendência para relegar a actualidade para a categoria de ruído de fundo, mas ao mesmo tempo não puder passar sem esse ruído de fundo". O ponto importante é o pólo "actualidade-ruído de fundo"; Calvino não explicita se se refere à nossa (leitores actuais) contemporaneidade ou à da obra. Seja como for, é justo que na (desiquilibrada) colecção Classiques a Casterman inclua este álbum dos anos 80 do autor de Barbarella. Como todo e qualquer livro, este também tem a sua dimensão de virtuosismo técnico, de propósitos estéticos e de âmbito político, mas talvez não sejam muitos os livros de banda desenhada que alcancem este equilíbrio interior desses propósitos que parecem claros e por isso mesmo mereça esse nome de "clássico". Superficialmente, é a história de um jovem rapaz, Jules (quase-andrógino, nas feições e nos comportamentos), e as relações tempestuosas com uns (a mãe, os "inimigos"), cúmplices com outras (o pai, o velho Original), e outras ainda mais dúbias (com Lili Tambour, uma "andrógina"?). O que se busca é compreender o jovem? Ou os caminhos desaparecidos de uma Europa feita de canais? O por que razão um pássaro de cabeça de vidro pode significar algo mais que um sonho concretizado? Uma obra contida, textualmente densa e de temporalidade curiosa, mas ainda assim uma interessante reminiscência de um tempo que não se dá como perdido.
(publicado em Mondo Bizarre no. 20) Posted by Hello

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