Um alienado social escapa do asilo onde se encontrava porque lhe serviram um prato de sopa fria, e isso tinha sido um atentado à sua dignidade humana. Na verdade, tinha sido um engano. Acompanhando a fuga desse homem, e todos os seus pensamentos, e vendo o que se passa ao mesmo tempo com as pessoas com as quais há relação (a filha, a ex-mulher, o médico, a enfermeira que servira a sopa), tentamos reconstruir o mundo que lhe sobra. Que é primeira obra de Charles Masson, médico, nota-se na qualidade do ritmo, nas desnecessárias repetições (até mesmo quando o objectivo é o esgotamento pela repetição), e até numa certa romantização do trabalho de um médico (é um quem assume a palavra no fim; o autor como personagem?). Não deixa de ser interessante colocar a banda desenhada como forma de expressão das preocupações específicas de uma profissão cujas consequências sociais são aqui exploradas. O autor parece querer-nos mostrar que o alienado é, acima de tudo, um homem, mas pergunto-me se essa compaixão é suficiente para construir um bom livro. É redimido, porém, pela sua despretensão e frontalidade.
(publicado em Mondo Bizarre no. 20)
17 de setembro de 2004
Soupe Froide. Charles Masson (Casterman)
Publicada por Pedro Moura à(s) 6:37 da tarde
Etiquetas: França-Bélgica
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