Parece-me a mim haver um divórcio entre o propósito das imagens e os textos que supostamente as complementariam. Todos e quaisquer artistas (e mesmo as pessoas) são únicos, singulares, irrepetíveis. É um facto. Mas isso não impede que nas artes não nos possamos permitir agregar famílias inteiras à volta de um determinado elemento, que nos convenha à nossa visão organizativa da mesma. É difícil fazê-lo, e eu não consigo escapar desse movimento Uma dessas linhas organizativas é o estilo: ora, esta ilustradora recorda-me alguma produção, que em Portugal tem representantes em Miguel Rocha e Filipe Abranches. Mas enquanto estes fazem reverter toda a indefinição de uma imagem para um preenchimento do que se constrói na mente do leitor/espectador, aqui surge quase como que um mero pequeno prazer do olho, superficial, portanto... Outro aspecto é o vago e o flutuante do enredo, que claramente “pretende” lançar-nos numa fronteira entre o sonho e a vigília, num entrelaçado dos diversos desejos das personagens (de amor e vida pela própria Goule, de morte pelos locais, de encontro físico pelo forasteiro Max e pela irmã do mecânico...), num movimento superficial de vitória de Eros sobre Thanatos. Mas as pretensões, quando surgem mais em forma das cordas do que das marionetas em acção, de pouco servem.
2 de maio de 2005
La Goule. Christophe Merlin e Agathe de la Boulaye (Casterman)
Publicada por Pedro Moura à(s) 3:48 da tarde
Etiquetas: França-Bélgica
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