22 de abril de 2006

The Greedy Story of Six Hungry Men. Bendik Von Kaltenborn (Dongery)


Desconheço os outros livros de Bendik Von Kaltenborn, autor norueguês (e não dinamarquês, como disse antes), com a excepção de um fanzine mais recente, Friends for Fighting. Porém, este fanzine, formal, gráfica e fisicamente muito simples mas muito bem produzido, faz-me ver um autor, o qual, não obstante trabalhar num território livre em termos narrativos e artísticos, parece querer criar um trabalho de grande acessibilidade e competente para chegar a um público muito alargado, sem cair em facilitismos, clichés ou qualquer pendor comercialista. O outro trabalho, de que aqui não falarei, é bem mais livre, com pequenas anedotas (nunca ultrapassando as três páginas) semi-narrativas mas absurdas, num exercício completamente diferente de The Greedy Story...
Homens obesos, desenhados de um modo estilizado mas realista, reúnem-se numa casa afastada de todo o resto do mundo para emagrecerem, numa mistura de dieta radical e um culto esquisito, dirigido por um tal Folino (avatar do qual surge no Friends for Fighting, mas apenas em corpo e nome), personagem caracterizada por um estilo apenas coincidente com o do lenhador da floresta – as peles deles parecem revestidas de um hatching que tanto quererá recordar o efeito do pergaminho como o da madeira (muito análogo aos homens-árvore do Elvis Studio). Um deles, Rupert, cruza-se com o lenhador cego e cai na tentação de comer carne. Esse gesto fá-lo-á cair numa espécie de encanamento e maldição que o lançará num ataque sub-reptício aos seus companheiros, desencadeando as peripécias do livro. É uma espécie de mistura de conto moral, de aviso, mas logo transformado num conto amoral, mesmo absurdo, muito próximo com as versões mais antigas, as mais originais, dos contos tradicionais europeus, cuja violência e estranheza são inegáveis, não obstante a tentativa de dulcificar todo esse imaginário através da Disney (para um "retorno", veja-se a recolha de Consiglieri Pedroso, para Portugal).
Em muitos aspectos, este livrinho de 32 páginas faz-me recordar um comic-book tradicional(apesar das dimensões mais reduzidas), uma vez que a esmagadora maioria dessas páginas apresenta seis vinhetas numa grelha regular, optando por desvios à norma quando narrativamente necessário. Mais, existem momentos em que um enquadramento é mantido, com as personagens alterando as suas posições, e não necessariamente para dar uma descrição completa de um movimento, mas antes para abrandar ou enclausurar o tempo (como quando a personagem Thor se tenta desenvencilhar do tronco de árvore). Muitas vinhetas passam “em silêncio”, mas os diálogos são bem escritos, credíveis, competentemente estruturados. Se bem que o estilo gráfico seja totalmente diferente, faz-me lembrar as competências narrativas de Harvey Kurtzman, como se se tivesse começado uma das aventuras humanas em tempo de guerra de Two-Fisted Tales, mas terminasse num dos absurdos da Help! ou da Mad. A meu ver, a página que aqui se apresenta como exemplo é excelente nessa competência em estruturar uma página e todos os seus elementos actanciais. Todas as linhas diagonais mostram a diferença e dificuldade entre o baixo (onde está o perigo) e o cimo (a casa, a segurança); a direcção do olhar de Thor para o resto dos elementos, o “diálogo” entre este olhar a onomatopeia: Thor vê quem a provoca, mas a nós não nos será dada essa oportunidade. A simplicidade é a mais legível, sempre.
Nota: agradecimentos a Nuno Franco, que me emprestou o livro, antes de o ter nas mãos.Posted by Picasa

1 comentário:

Pedro Moura disse...

Dear Bendik,
Thank you so much for your kind words. I’ve recently bought “Friends for fighting” and also enjoyed it very much, although I have to say that, being a fan of “artistic” endeavours and experiments, I’ve preferred this more narrative “Greedy Men”… I’ve translated a few of my articles into English, and sent them to Marko Turunen, in Finland, at http://www.daadabooks.com/daada/2005/articles/ I guess Pitchu, whom I know (I have a few of the SUBs, and they're whacky-great), translated it for you, but I’ll also text-translate it and post it in Daada.
I guess the longer version of "" is the one with the reddish tones cover, right? How can we buy it? How much is it (with European postage too)?
It’s a little idiotic that I bought this book from an American site, but we have to reach each other somehow. From now on, I’ll check your site regularly and I’ll try to follow your work as closely as possible (if in English, of course).
Your reader,
Pedro