Esta é a proposta de João Bragança, criador dos mais interessantes fanzines, em termos formais, de que há memória. O seu Succedâneo (e outras publicações) é, sem dúvida alguma, o fanzine menos "fã" e menos "zine" de todos, mas por isso mesmo mais pleno de significado próprio, tendo atravessando variadíssimos avatares físicos, que já saíram da esfera do papel para passarem por caixas de plástico, solas de borracha, amêijoas, livrinhos compostos de selos e, mais recentemente e como apresentado na exposição Agora...chuchai no dedo... na Bedeteca, dois exemplares de um carrozine (ver foto). Do que conheço dos muitos fanzines de outros pontos do mundo, garanto-vos que o seu (aceitam-se e agradecem-se contraposições) Pecarritchitchi no. 2 (o da amêijoa) é o mais pequeno do mundo (se exceptuarmos somente os dois grãos de trigo onde está escrita a Shema Israel). Mas não é numa questão de tamanho nem de longevidade (10 anos é muito tempo) o que torna as suas publicações interessantes. É que para além de serem objectos artísticos gráficos, ou livros de autor, ou mesmo post-zines, são um espaço total e profundo de liberdade criativa. E é esse o gesto que mais importa, parece-me. Mais, João Bragança não parece estar muito preocupado com o exercício de uma certa linha estética de fácil aceitação, o que lhe seria fácil, acessível e exequível - não só pela sua formação artística, como pelo seu conhecimento de estratégias e o esforço e dedicação a que se entrega nesse mesmo discurso. É seu território o de um gesto mais político, mais democrático, de imediata relação com o seu público, conforme os workshops e a maneira como dialoga com o seu público. Vivendo num limiar entre a publicação (não necessariamente de banda desenhada, mas as suas múltiplas incursões por este território é o que me levam a prestar atenção) e as artes visuais (a divisão é "falsa", mas penso que entendem o que pretendo dizer em termos institucionais), este autor coloca no centro da sua atenção um dos interlocutores mais esquecidos de muita arte contemporânea: o espectador, cuja existência parece ser anátema do discurso actual. Claro que essa atenção transfigura-se por uma série de outras escolhas: uma ironia cáustica mas nunca proselitista, uma referência ergonómica ao corpo humano que surge das mais diversas maneiras, uma forma de reverter a sua própria vida (ou ficções nela) em objectos passíveis de fruição estética (legíveis, visíveis, experienciáveis, etc.).
Logo, considerando-o uma espécie de Pontifex Maximus (ainda que de uma visibilidade discutível) dos ritos do Mistério dos Zines (o "fan-" começa a diluir-se pela prsença de outras forças), declaro-me seu acólito seguindo, a partir de hoje, a comemorar esta data, como Dia do Fanzine.
29 de abril de 2006
Dia Mundial do Fanzine. Bom dia!
Publicada por Pedro Moura à(s) 12:43 da tarde
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5 comentários:
Eu fiz um post num email internacional. Copiem e enviem também:
João Bragança, a Portuguese artist and creator of zines (including object-zines, check his carzine at http://fanzinex.blogspot.com/) has triggered within Portugal a movement to commemorate this very day as FANZINE's DAY.
Please join him. If you're asking yourselves about the date, it's as arbitrary as it gets. Someone must start things somehow...
Viva!
Pedro:
Foi com muito gosto que li o teu artigo sobre a minha pessoa, é com razão que dizes "Someone must start things somehow... ", máxima que se aplica a ti!
É de louvar a tua dedicação à escrita (especialmente sobre zines) usando este meio que é o blog.
És o cocheiro da nova vaga litério-bedéfila!
As únicas palavras que devo dizer neste momento são: minna omedetou gozaimashita, ou seja parabéns a todos na língua da terra do peixe cru.
Num "post" datado de 14 de Maio, no meu novo blogue "fanzinesdebandadesenhada.blogspot.com" divulguei e aderi à iniciativa joãobragantina de criar o "Dia Mundial dos Fanzines" no dia 29 de Abril.
E convoquei para o encontro da Tertúlia Lisboa dos Fanzines, que se iria realizar no dia 16 de Maio, uma reunião de fanzinistas (faneditores e autores-colaboradores de zines) para falarmos do assunto.
Como as reuniões mensais desta tertúlia lisboeta, dedicada em exclusivo aos fanzines se realiza mensalmente no bar "Estádio" (rua S. Pedro de Alcântara, ali na fronteira do BA), julgo que está encontrado um local apropriado para se debaterem formas de solidificar a excelente ideia.
Infelizmente, não pude lá estar, por razões existenciais (ando a treinar para as Olimpíadas do Eremita 2007), mas é sempre bom ver que estas iniciativas podem crescer... Não tive foi notícias internacionais... Sacristas!
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