Notas de verão 3. Esta é a edição de uma das primeiras novelas de longo fôlego de Tatsumi, criada e desenhada (de acordo com o próprio, em apenas vinte dias – mas, diga-se de passagem, nota-se; estamos longe do estilo maduro de Tatsumi, com as suas figuras bem delineadas e arredondadas, estranhamente cândidas para o tipo de histórias que constrói) em 1956, precisamente um dos períodos visitados pelo autor na sua autobiografia, A Drifting Life, de que falámos aqui. Este livro jamais tinha sido republicado, inclusive no Japão, pelo que é mais uma forma de entendermos o tipo, natureza e valor do trabalho recuperativo que Adrien Tomine, editor específico dos livros de Tatsumi para a a D&Q, assume.
A história é devedora da cultura cinematográfica norte-americana, não só em termos da trama em si e as suas referências, que de tão diluídas e gerais tanto se poderiam passar no Japão de então como nos Estados Unidos (ou noutros locais?), mas também em termos de perspectivas e ângulos das vinhetas, que tiram partido de um cardápio extremamente amplo (recordando algumas das experiências apontadas por Dan Nadel no seu Art in Time). Numa breve entrevista ao autor no final deste volume, há ainda outras pistas apontadas, como o Conde de Monte-Cristo de Dumas e uma história obscura e esquecida de um romance pulp.
Se bem que não se trate de um volume particularmente forte e interessante para quem procure uma obra acabada, totalmente desassociada de outras áreas artísticas, e que procure no interior da banda desenhada a exploração das formas que a existência humana assume (e as facetas da angústia, da solidão, da incompreensão, temas favoritos de Tatsumi), a verdade é que este é um objecto que nos ajuda sobremaneira a inteirarmo-nos do que significou a emergência e a evolução da gekiga no Japão, e a lenta modelagem do seu mercado. Ainda devedor a Hollywood está o seu ”final feliz”, mecanismo o qual o autor parece ter abandonado nas obras que se seguiriam e que o tornam um autor fundamental para o panorama da banda desenhada adulta do seu país.
8 de julho de 2010
Black Blizzard. Yoshihiro Tatsumi (Drawn & Quarterly)
Publicada por Pedro Moura à(s) 1:15 da tarde
Etiquetas: Japão
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