Tendo já antes falado do Venham + 5, o fanzine-plataforma dos trabalhos desenvolvidos nos ateliers Toupeira de banda desenhada da Bedeteca de Beja, esta colecção Toupeira destina-se à publicação monográfica dos autores que pertencem ao grupo de trabalho e que desejem apresentar uma narrativa ou um trabalho de banda desenhada maior, estabelecendo-se assim alguma comparação com a colecção LX Comics da Bedeteca de Lisboa, mas associado mais intimamente (mas não fechado) aos artistas com que costuma colaborar.
O primeiro foi reservado ao artista Véte, com Bófias, e o de Lam é dedicado às “viagens siderais de um intrépido cosmonauta. Intrépido? Nem tanto.” O que está entre aspas é dessas fórmulas herdadas da revista Tintin (e outras) que servem para colocar o leitor de imediato num corpus determinado em relação ao qual se pauta o trabalho presente. O de Lam inscreve-se precisamente numa longa linha de trabalhos humorísticos, em que a sucessão rápida de situações ridículas em que o (anti-)herói se encontra leva à ascensão de um ritmo de risos e surpresas. O pequeno cosmonauta de Lam, e o modo como as páginas estão construídas (pequenas vinhetas regulares - 12 - por prancha, a tentativa de apresentar uma unidade narrativa por página, ou “episódio”), farão recordar os leitores de muitas experiências análogas, sobretudo as mais recentes de Trondheim, com o qual estabelece também o elemento de proximidade de não utilizar textos (ou pelos menos, verdadeiros diálogos) para fazer desenvolver os acontecimentos. É óbvio que um artista, seja este mais velho e experienciado ou mais novo, não se pauta pelos trabalhos de outro; no entanto, é também mito difícil não ter uma perspectiva relativamente histórica e de continuidade de certas técnicas, linguagens, estratégias, escolhas. Nesse sentido, o livro de Lam mostra-se com o desejo de precisamente criar um rol de episódios - ainda que organizados em duas "narrativas", identificáveis pela cor do fundo das páginas - do cosmonauta de uma forma ritmada, rápida, e com uma diversidade de criaturas e piscares de olhos a toda uma cultura (os filmes E.T., Alien, a série Star Trek, etc.) para criar um humor de sacões de capa a capa. No entanto, há momentos em que esse ritmo não se apresenta do melhor modo, com “piadas” como que inacabadas, ou que se encaixam demasiado rapidamente no evento seguinte, perdendo-se o ímpeto anterior, o que não abona para o tal ritmo que formal e aparentemente tem.
Como disse, o livro não tem propriamente texto, mas há muitas instâncias em que surgem onomatopeias, sinais musicais ou mesmo balões preenchidos ora icónica ora verbalmente (mesmo que seja apenas uma palavrita em inglês, em francês, números...). Esta diversidade torna-se curiosa até de um ponto de vista pedagógico, digamos que se torna uma espécie de compêndio sucinto daquilo que também se poderia aprender com o Comix 2000. Não é que a “função” de Space & Co. Seja pedagógica, mas este papel pode sempre surgir em qualquer obra dependendo do uso que um pedagogo fizer dele. No entanto, tendo em conta das associações com um atelier e imaginando as respostas possíveis aos exercícios, a preponderância da variedade da relação entre “texto” e “imagem” nesta publicação é muito clara.
Nota: agradecimentos ao Paulo Monteiro, director da Bedeteca de Beja, por me ofertar (entre outras) esta publicação.
4 de novembro de 2006
Space & Co. Lam (Bedeteca de Beja)
Publicada por Pedro Moura à(s) 11:38 da manhã
Etiquetas: Portugal
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