Notas de Verão 4. Este livro é composto por três partes, três capítulos que e centram em três personagens diferentes: aquela que dá, enviesadamente, o nome ao livro, um Marco que acaba vítima de experiências estranhíssimas sobre o seu membro viril, Freaky Fred, cujo rosto está na capa, uma espécie de cultor de BDSM de cabaret, mas uma alma simples e romântica no fundo, e Óstro, misto de Conan o Bárbaro e Conan o homem-rã… Penso que a simples contagem destas personagens, e sua mínima descrição, molda de imediato a natureza humorística e subversiva de Março Anormal.
Na apresentação do livro no Festival de Beja, o autor mostrou concordar em parte com quem descreveu este livro como um corolário da adolescência, uma mescla bombástica de referências herdadas desses anos, provavelmente continuada nesta bola de humor, boa disposição, nostalgia e pura e simplesmente um desejo de não ter quaisquer tipo de vacas sagradas, ou então tê-las para que possam melhor ser conspurcadas. É certo que algum do humor é relativamente banal e taberneiro, mas é como se fosse um gesto de exorcismo contra as expectativas de uma abordagem bem-comportada e, enfim, é esse o métier a que a El Pep nos tem habituada: ser “suja” para que outros não o tenham de ser. A “ligne crasse” tem aqui os seus cultores.
Dessas referências apontadas, talvez algumas mais ou menos óbvias sejam as dos autores brasileiros Angeli e Laerte, entre uma mão-cheia de outros (o que prova que a passagem da Chiclete com Banana e outras revistas associadas fez mossa entre os autores portugueses, e ainda bem, já que os Piratas do Tietê é uma obra-prima desses tempos). Quer pela dimensão gráfica, com figurações das personagens lembrando a mais moldável das borrachas, um dinamismo hiperbólico, e cuja coloração ajuda a essa ilusão de textura e volume, quer pela trama alucinada e bebendo de todas as referências da cultura popular possível, aproxima o trabalho de Tércio de Vina dessa veia iconoclasta. Aliás, se olharmos com atenção a última vinheta, aqui mostrada, poderemos pensar tratar-se de uma homenagem desviante aos banquetes da aldeia de Astérix, sim?
Nota: agradecimentos ao editor, pela oferta do livro.
8 de julho de 2010
Março Anormal. Tércio de Vina (El Pep)
Publicada por Pedro Moura à(s) 12:19 da tarde
Etiquetas: Portugal
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1 comentário:
(a melhor bd nacional deste ano)
Caro Pedro, não tem um email de contacto que possa disponibilizar aqui, ou enviando para ospositivos@gmail.com ?
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