2 de abril de 2015

Colecção Novela Gráfica: os títulos individuais. (Levoir/Público).

Como se imagina, cada um destes livros mereceria uma nota maior, uma leitura individualizada, que não apenas desse conta do papel que historicamente têm na banda desenhada dos seus países respectivos mas até além deles (sobretudo os casos de Eisner, Crumb, Tardi, Baudoin), mas igualmente o que significaram nas transformações internas da obra desses artistas em particular (Eisner, Toppi, Osterheld-Breccia, Cosey), ou que papel têm no panorama actual em que emergiram (Beyruth, Altarriba-Kim). No entanto, as notas seguintes serão apenas curtos parágrafos sobre cada título e que servem antes de convite não apenas à leitura dos volumes em si, como a descobrir as relações que estabelecem com outras linhas de inquirição. Não pode haver dúvida, porém, que leitores interessados em acompanhar a maturidade contemporânea e a efectiva diversidade de géneros desta disciplina artística particular tem aqui reunidos alguns gestos extremamente significativos, e que contribuirão decisivamente para uma aprendizagem alargada. (Mais) 

Um contrato com Deus. Will Eisner. De todos os livros desta colecção, e suspendendo uma questão de gostos e ou juízos de valor particulares, é inegável que este título veio a ocupar um papel fulcral na história da banda desenhada contemporânea. Mesmo que se saiba que não é aqui que o termo “graphic novel” foi fundado, é nele que acabou por escapar a uma certa invisibilidade e, em retrospectiva, que se consolidaram nele os desejos de conquista de um papel que apenas mais tarde seria assegurado. Originalmente publicado num só volume em 1978, esta foi a primeira vez que Eisner resolveu publicar de uma vez só uma obra que equivalesse a um livro. Ele faria o mesmo com obras posteriores, mas que sairiam em pré-publicação episódica. Pintadas a um ligeiro dourado, estas quatro histórias sobre personagens vivendo num bairro pobre de Nova Iorque bebem, da estranha colisão entre o melodrama e o humor judaico, em que nenhum dos protagonistas sai bem. Ou é “podre” por dentro, ou é fraco demais, e pairando sobre todos o Deus vindicativo do Velho Testamento...

A louca do Sacré-Coeur. Alejandro Jodorowski e Moebius. Segunda colaboração dos dois autores do mítico e extremamente influente Incal, quando do lançamento do primeiro volume, em 1992, esta obra surpreendeu alguns dos seus leitores, já que parecia ancorada totalmente na realidade mais banal da existência humana. Um professor de filosofia, boémio judeu parisiense cuja chama “já havia passado”, tudo parecia longe das fantasias tecidas por Jodorowki em todas as suas obras. Mas esta era a que mais bebia da sua experiência real, do seu papel de “guru” na sua técnica que mistura o Teatro Pânico, por si fundado nos anos 1960 com Topor e Arrabal, o psicoteatro, e todas as lições que o autor foi angariando ao longo da sua vida em torno da magia e espiritualidade. Essa matéria transforma-se numa mole que lançará o professor numa terrível curva de aprendizagem, bem clássica: descendendo até literalmente vomitar as tripas para renascer. Moebius, também adepto de algumas das disciplinas aqui exploradas, seria o companheiro ideal, mas se os dois primeiros volumes têm uma abordagem límpida e sossegada, os atropelos rocambolescos do terceiro tomo são servidos por um trabalho de composição algo encavalitado, que o tornam um pouco mais pobre. Resta-nos indicar igualmente que o prefácio da presente edição foi por nós escrito.

A Viagem. Edmond Baudoin. Extensão do livro anterior que seria rebaptizado Le premier voyage, esta obra havia sido construída de propósito para o mercado japonês, na revista Morning, que desejava apresentar conteúdos informados pelas tendências contemporâneas, “literárias” se assim o desejarem, da banda desenhada ocidental. Retomando a mesma personagem do livro anterior, mas inflectindo-lhe um novo percurso, em que a irresolução se transforma numa galeria de encontros, e que acaba por se revelar uma recompensa, de alguma forma, da questão colocada no primeiro livro. Podemos considerar que este livro está ligeiramente fora do seu Poema Contínuo, como sempre repetimos, a agregação a par e passo das pessoas e acontecimentos que compõem a sua vida, mas sendo a sua obra parte integral e indelével da sua pessoa, estará isso correcto?

Foi assim a guerra das trincheiras. Jacques Tardi. A apresentação de Tardi não deveria ser necessária, tendo em conta a sua presença contínua num certo imaginário e até mesmo maturação desta arte. Precisamente como um dos autores-chave da (A Suivre), é natural que o seu nome ocupe um dos lugares de destaque. Cultor de um estilo que parece distorcer os princípios perenes da linha clara clássica franco-belga, estão ainda lá os fundamentos realistas dos espaços e objectos para colocar personagens desenhadas com linhas fluidas e nervosas. Em parte, são essas as características que o tornaram um dos autores principais da tendência dos anos 1970 a que os críticos Bruno Lecigne e Jean-Pierre Tamine apelidariam de “Novo Realismo”, que Ann Miller sintetiza como sendo uma “abordagem crítica não apenas com o realismo mas também com temas políticos contemporâneos”. Nesse sentido, e revisitando um dos seus temas de obsessão, a 1ª Grande Guerra, esta obra endereça-se igualmente ao público contemporâneo para repensar a sua identidade, e os mitos tecidos pelas malhas políticas de hoje. Reunindo na verdade dois trabalhos distintos, temática, estrutural e narrativamente, cada qual do seu modo surge como um dedo em riste acusando a inépcia e a estupidez dos “líderes natos”, ainda que sempre a medo que se lhe rebente. “Gigantesco e anónimo grito de agonia”, escreve o autor no seu prefácio, e cumpre-o com estas páginas.

Beterraba: A vida numa colher. Miguel Rocha. Este autor português é multifacetado mesmo somente no interior da banda desenhada, tendo criado livros a solo como trabalhando com argumentistas, em graus bem diversos de colaboração. De todos os seus livros a solo, e sem desprezar quer os anteriores esforços quer os que se seguiriam, Beterraba ocupa um lugar particularmente distinto, por razões visuais e de escrita. Visualmente, Beterraba é um magnífico caso de uma banda pintada, já que as imagens são criadas com acrílicos sobre cartão colorido, levando a efeitos de brilho e esquemas cromáticos. Se já antes Março, criado com Alex Gozblau, tinha “soltado” Rocha para a pesquisa das cores, é este livro, de 2003, que faz explodir essa dimensão de uma forma a um só tempo expressiva, poética e profundamente aliada aos propósitos narrativos. No que diz respeito à intriga, estamos perante um encontro magistral entre um olhar apaixonado e implicado sobre um certo estado da história do país, olhando para um mítico ruralismo passado, e um nível de fantasia que desloca essa pesquisa para territórios quase mágicos. Centrando-se na vida de uma família que parece saída dos universos circenses de Fellini ou de Erice, com contornos oníricos, Beterraba acaba por ser um retrato de um país muito real, cruel e brutal, que ainda sobrevive. Ocupando um lugar raro na maturidade da escrita da banda desenhada contemporânea portuguesa, este título ocupa um lugar justíssimo nesta selecção.

A arte de voar. Antonio Altarriba e Kim. Publicado em 2009, este livro angariaria uma atenção crítica incrível no seu país, e não só, assim como prémios, inclusive o Premio Nacional Del Comic. Um livro denso, complexo, numa rede multifacetada de memórias próprias, memórias alheias e memórias colectivas, este é um retrato da vontade de um homem face ao edifício da história e da vida. Se essa vontade é indómita ou vencida, caberá ao leitor descortinar. Tendo escrito largamente sobre o mesmo quando da sua edição espanhola, assim como prefácio da edição portuguesa, remetemos os leitores a esses textos.

O livro do Mr. Natural. Robert Crumb. Ainda que não seja a personagem mais famosa de Crumb, nem a única que se tornaria recorrente ao longo dos anos, é Mr. Natural aquela que melhor sobreviveria às transformações sociais e históricas na cultura dos Estados Unidos, desde os anos 1960 – é por demais evidente que esta personagem é uma concatenação e redução das centenas de “gurus” surgidos nas eras beat, hippy e as que se seguiriam – até à actualidade. Mestre zen como manda a lei, a espiritualidade de Mr. Natural encontra-se sobretudo na sua capacidade em abraças a mais básica das materialidades da existência, não ter medo da banalidade e, claro está, na sua vontade férrea, absolutamente invencível. Neste sentido, é esta personagem aquela que melhor cumpre o papel do Super-homem anunciado pelo Zaratustra de Nietzsche (e não aquele de cuecas vermelhas, o qual, bem pelo contrário, é quase uma personificação, ainda que energética, do homem mole) e Flakey, tal como o nome indica, o espelho em que nos olhamos no confronto com ele.

Em busca de Peter Pan. Cosey. Escapando da gravidade da sua série mais conhecida, Jonathan, que é uma espécie de variação de Tintin mas a partir de uma perspectiva hippie globetrotter, este trabalho do famoso autor suíço procurou, no interior da sua produção individual, inflectir-se na direcção do “literário”. Não sendo de forma alguma a sua obra mais conseguida em termos de aliança entre a expressão e o tema (somos parciais em relação a Viagem a Itália, Orchidea ou Saigão, por exemplo), há aqui um desejo em criar uma estrutura centralizada e até metatextual, já que a intriga versa sobre um criador (literário), em crise e em busca de solucionar essa crise. Os laivos de sentimentalismo estão presentes, assim como o desejo em garantir momentos de contemplação e espiritualidade através da contemplação e o silêncio, mas a história de amor passional leva a sua avante. Publicado a partir de 1984 e 1985 em dois volumes, dever-se-á absorver esta obra como uma negociação de um território no qual o autor desejava entrar, e conseguiria no futuro. Dada a presença de outros títulos em português, esta é uma correcção necessária.

Sharaz-De: Contos das mil e uma noites. Sergio Toppi. Obra tardia do mestre italiano, o que salta à vista nesta obra é o uso da prancha inteira como superfície de inscrição das suas imagens, num daqueles usos a que B. Peeters chamaria de “decorativo”, ainda que esse termo pareça ter um juízo valorativo algo negativo. As histórias dividem-se de um modo mais claro do que na estrutura literária, já que os vários níveis hipodiegéticos são aqui mais “arrumados”, até visualmente, com o rosto de Sharaz-De como que enquadrando cada novo conto. Criadas a meados dos anos 1980, pela colaboração de Toppi com a Linus, a fabricação de cada um dos contos foi obedecendo a circunstâncias cambiáveis, mas sente-se desde logo o ensejo em conquistar um espaço que, à época, talvez não fosse totalmente imediato, apesar das experiências de muitos outros autores, mais jovens alguns. Se narrativamente Sharaz-De não é, quiçá, a sua maior conquista, este é uma das peças que torna Toppi num vocábulo que deveria significar imediato reconhecimento.

O diário do meu pai. Jiro Taniguchi. De uma forma ou outra, e com a excepção de Love Harbour Hotel, foi este livro que deu início a uma aturada travessia da obra deste autor maior japonês para as terra do Ocidente. Se se o pode irmanar a Quartier Lontain, a ausência da dimensão fantástica no volume agora publicado torna-o mais ao “rés da vida”, e às experiências reais e tangíveis que se podem atingir no interior das nossas emoções e pensamentos. A fantasia de voltar no tempo e seguir um caminho alternativo toca a todos, mas a mudança efectiva dos nossos corações é possível a todos, e é esse o objecto de O diário. Tendo escrito sobre a sua edição francesa, assim como o prefácio deste volume, a ambos remetemos.

Mort Cinder. Héctor Gérman Oesterheld e Alberto Breccia. Os episódios que compõem a estranha saga do homem que “salta no tempo” havia saído na revista Misterix ao longo de uns dois anos (Agosto de 1962 a Março de 1964), e constrói uma paisagem humana e política em que os posicionamentos dos autores face às injustiças, abusos do poder, e às crueldades perpetradas pelos seres humanos entre si se torna a matéria plástica directamente enfrentada pelos protagonistas, que poderiam ser vistos como dois graus da réstia da bondade e coragem humana. Tendo já saído em Portugal numa edição parcial, pela Asa, a presente edição é completa e restaurada (possivelmente seguindo os passos daquela da Planeta DeAgostini, em espanhol, de 2002) em que a convivência dos formatos oblongos e vertical espelham a mudança da própria Misterix, temos agora a oportunidade de integrar este volume no nosso conhecimento mais alargado da produção da banda desenhada mundial, tal como ocorre em relação a muitos dos outros títulos reunidos.

Bando de dois. Danilo Beyruth. Depois de ter “treinado”, digamos assim, com os seus dois volumes de Necronauta, a fórmula de histórias curtas para se centrar numa só acção e emoções das personagens, Beyruth foi convidado para a colecção MSP Graphic com o seu livro dedicado ao Astronauta, onde estendeu esses mesmos instrumentos: apesar da sua extensão, Magnetar não deixava igualmente ser concentrado (como uma novela, precisamente). Bando de dois é um seu esforço mais desenvolto no que diz respeito às geometrias entre as relações das personagens, e a estruturação das acções, mas mantém-se numa mesma linha de pesquisa dos géneros populares. O seu sucesso levou-o a angariar muitos dos principais prémios do Brasil no ano do seu lançamento, em 2010. Como é apontado por todos, Bando de dois é uma espécie de “western spaghetti” mas transplantado para a realidade histórica brasileira (não sem alguns laivos de fantasia). Moldando essa matéria crua através de estruturas marinadas em variadíssimos géneros cinematográficos e banda desenhísticos, os cangaceiros fazem as vezes dos justiceiros do Oeste americano. Austero, brutal, trágico, bebendo do horror igualmente mas sem menosprezar o humor (negro), esta é uma aventura desabrida dos dois protagonistas, cujos nomes prometem desarranjos frenéticos: Caveira de Boi e Tinhoso. O traço de Beyruth, a um só tempo naturalista e com excrescências nervosas, reminiscentes de alguns autores italianos dos anos 1980 (Pazienza, Scòzzari), e com composições sóbrias, apresenta-nos um sertão desolado e seco, onde estranhas honras são a única moeda que constroem a espinha de um homem. 
Nota final: Agradecimentos a José de Freitas, pelo envio das imagens das capas. 
Raramente ou nunca nos referimos aos preços dos livros, pois eles não pode ser factor de uma leitura crítica, mas se se pensar bem no assunto, o preço individual de cada um destes livros, que ficará disponível durante algum tempo primeiro através do jornal Público, depois nas livrarias, é uma benesse à construção de uma atenta compreensão da banda desenhada, como indicado no texto anterior.

6 comentários:

Hunter disse...

Uma pequena correção. Não existe "Love Harbour Hotel", deve estar a pensar na obra Hotel Harbour View, que penso ter sido a primeira BD do Taniguchi publicada no ocidente, e confundido com Love Hotel de Benoît Peeters e Frédéric Boilet.

JML disse...

Olá Pedro. Belo texto! só duas correcções.
A Louca... não é a segunda colaboração entre Moebius e Jodorowsky. É a terceira. Esqueceste-te do Les Yeux du Chat.
O Sharaz-De foi publicado na revista Alter Alter, não na Linus.
Abraço

José Sá disse...

Oi outra vez,
Só pra dizer que esta colecção, se não fora também por todos os outros méritos, já valeria pela presença do "Mort Cinder" do Oesterheld. Alguns autores de literatura ficaram famosos na história por desafiarem regimes ditatoriais escrevendo romances que defendem o direito à igualdade e à dignidade humanas. Oesterheld fê-lo pela e para a banda desenhada e morreu por isso. Merece que o conheçamos por esse feito e que o reconheçamos também pela enorme qualidade da sua escrita. Diz quem o lê pela primeira vez que a partir daí nunca mais deixa de sentir a presença do "Eternauta". É mesmo assim, há sempre a presença de um espírito em Oesterheld e Mort Cinder é o prolongamento desse espírito de combate e de sobrevivência humano. Como já veio escrito numa edição estrangeira dessa "novela gráfica", este é mais um grande exemplo daquilo a que se referia Italo Calvino quando afirmava que os clássicos são obras que nunca acabam de dizer o que têm a dizer.

Não compreendo a razão do Mort Cinder ser lançado um dia antes do último livro desta colecção e de vir divulgado no jornal "Público" que "parte da história" não tem de ser adquirida juntamente com a compra do jornal. No entanto, fiquei mais aliviado por vires aqui dizer que a edição que vai sair é completa e restaurada. O resto deve ter alguma explicação...
Abraço e obrigado.
José

Pedro Moura disse...

João Miguel,
Já não é a primeira vez que indico este título. Cá para mim, ando a misturar memórias de um mês passado sob nuvens de ópio na Tailândia como título do Taniguchi... Vou já corrigir!
E por que estranha razão me esqueci do "Olhos de gato", que tanto prezo? Essa foi uma distracção mais básica, mas a outra... ui, se fosse falar. Era um blog mais lido!
Caro José,
Isso dava pano para mangas. Sendo um fã do Oesterheld - e tendo no João Miguel Lameiras e no Domingos Isabelinho dois leitores e investigadores intensos desse autor em Portugal -, tenho algumas reservas em criar essa linha de causalidade directa. O Oesterheld foi "castigado" politicamente pelo seu envolvimento directo em movimentos de esquerda no seu país (os Montaneros),através das suas filhas. É verdade que o "Che" não ajudaria ao CV sob a ditadura, mas querer transformá-lo num "mártir da bd" é um desserviço à sua vida, ao envolvimento político efectivo, e até mesmo uma construção desnecessária ao mito. Mas é um tema apaixonante, sem dúvida... A continuar?
Abraços,
pedro

José Sá disse...

Relativamente ao envolvimento político de autores de BD durante a vigência de regimes fascistas, talvez a minha intuição se alimento do mito. Só costumo ter reservas em relação ao "período nazi" do "Hergè do Congo" e dou de barato que somos seres humanos que por vezes não estaremos à altura moral dos heróis que criamos e do grande trabalho que desenvolvemos, apesar desse desnível. Nem todos os autores podem produzir heróis à sua imagem como o Hugo Pratt. No caso do Oesterheld temos um ser humano que vivia a bd bem antes de se envolver politicamente contra o regime militar argentino. Não é um caso diferente de muitos miúdos que começam desde sempre a ter como modelos os heróis das histórias aos quadradinhos e que prolongam esses valores de justiça e de defesa dos mais fracos muito além na sua vida adulta. Esse saudável complexo messiânico, quero crer, resulta da paixão pela BD que muitas vezes conseguimos identificar em certo tipo de autores, que sem dúvida é o caso do Oesterheld. Como modesto apreciador de BD também o sinto e muitas vezes sou impelido por ele em batalhas contra moinhos de vento. Oesterheld, como um Cervantes, a seu modo leu e escreveu sobre contos de cavalaria e também conduziu a sua vida debaixo desses princípios. Não consegues ver o nexo de causalidade entre "a vida e os tempos de Oesterheld" e o facto dele ser um grande autor de bd? Pois eu do outro lado também não consigo encontrar o "nexo de casualidade" :-). Da mesma forma eu interpreto uma pessoa como tu quando penso nas horas que gastarás de dedicação a este blogue (principalmente) e a todos os outros suportes para divulgares a bd junto dos seres humanos comuns :-). Complexo de super-herói? Bem-hajas por isso.
Obrigado, Abraço,
José

Pedro Moura disse...

O único elo de causalidade que colocaria em causa é o da lógica, "foi por causa da bd x que Oesterheld foi 'desaparecido'". Isso é pura e simplesmente falso. Não ponho em causa, de forma alguma, que os autores, quando são movidos por seja que causa social for, e a expressam nas suas obras criadas, e o humanismo profundo, a empatia pelo sofrimento humano, a compreensão de que numa guerra todo e qualquer ser humano pode ser um cobarde, um herói, um carrasco, um santo, enfim, um ser humano, está em todas as páginas. Terá sido isso o que o impeliu a lutar contra o fascismo? Poderíamos dizer que ele sempre o fizera, e a banda desenhada não é senão uma outra frente dessa batalha. Aí concordo.
E os mitos são também necessários. Pelos vistos, acreditas no de Hugo Pratt. Eu, por exemplo, gosto do de Charles Schulz, morrendo com a sua obra. Quanto ao "collabo" Georges Rémi... ih, não vamos abrir a tampa!
Pedro