A ideia de
que toda uma sociedade sacrifique parte da sua felicidade momentânea
e sempre imperfeita em nome de uma fortuna consequente, e por isso
sempre “melhor”, não é de todo nova. Ainda que o famoso conto
de Shirley Jackson, “The Lottery”, de 1946, se centre mais na
ideia do bode expiatório, conta-se aí igualmente na ideia do preço,
que se encontra no coração deste livro. Mas o bode expiatório
convidaria à ideia de um pecado original e de uma forma de o expiar.
Em Bruxas, explora-se antes a entrega total a um crime em nome
de um ganho egoísta.
Como todo
e qualquer bom projecto, e que permita com efeito leituras
múltiplas a partir dos seus elementos (não basta dizer, contra a
ideia popular, que qualquer obra de arte tem sentidos múltiplos, é
preciso identificá-los e explicá-los), Bruxas pode ser lido,
em vez de uma simples e empolgante novela em torno de uma família e
o seu confronto com criaturas primais, como um livro sobre desejos,
promessas e a capacidade dos seres humanos viverem com as suas
fantasias mais negras. Mas também coloca o amor filial, a
paternidade, a superação de obstáculos pessoais, na linha da
frente. (Mais)