23 de janeiro de 2006

Dossier Bedeteca de Lisboa 2006. Crítica.


Deixo aqui o link directo ao texto que escrevi, mais uma vez a convite da Bedeteca de Lisboa, sobre o panorama da crítica de banda desenhada em Portugal, e que tenta fazer o balanço, pela minha perspectiva pessoal, do ano passado. Dão-se alvíssaras por contínuos debates. Posted by Picasa

6 comentários:

Ferrão disse...

Como faço parte das "Várias pessoas [que] criaram pequenos blogs" no ano de 2005, acho que estou no direito de comentar o quarto ponto do teu balanço pessoal. Como sempre, presenteias o leitor com um texto muito bem escrito onde fundamentas perfeitamente a tua poinião. No entanto, julgo que é bastante injusto, e redutor, dizer que "pouco se tem visto de francamente interessante do ponto de vista crítico (que não de outro, pois lá têm o seu valor enquanto divulgação, troca de informações, “olha aqui está”, “eu gramei de bué” e outras inanidades do género)". Que não seja interessante do ponto de vista crítico aceito, pois compreendo que muito poucos textos se enquadrem na tua acepção de crítica. Agora dizer que os textos, que se querem críticas, se limitam ao " "eu gramei bué" e outras inanidades do género" é muito injusto. Só me lembro de UM blog em que esse tipo de vocabulário seja empregue, portanto não percebo a necessidade de generalizar esta afirmação para o resto dos blogs que se interessam por BD (e não estou aqui apenas a defender o blog da utopia...).
Pessoalmente, tenho feito um esforço para que as minhas críticas (ou resenhas, se preferires) não sejam um mero apanhado de informações e tento sempre procurar "a instauração de ligações", dentro dos meus limites intelectuais. Pois não é toda a gente que possui uma bagagem cultural idêntica à tua, e é esse o único defeito que aponto a alguns dos teus textos. De tão eruditos que são acabam por deixar de fora a grande maioria dos leitores. Imagimo que a maioria não faça como eu, e vá pesquisar as referências que utilizas e desconheço...

Acabei o meu desabafo. Continua o bom trabalho!

Pedro Moura disse...

Olá, Ferrão,
Não deixas de ter razão em quase todos os pontos que fazes, e não era minha intenção ofender ninguém por atacado - por isso, prefiro não ser directo em nomes, pois não gosto de ataques pessoais, como ninguém de seu juízo. E não acho nada que o teu blog seja do grupo dos "inanes". Jamais diria isso. No entanto, é verdade que a minha maneira de entender a "crítica" - precisamente uma crítica que não cai nos facilitismos da opinião, da obediência a critérios formais, etc. - parece ser talhada de uma forma a ser ocupada por poucos, mas não posso escapar da minha visão que, acredita, é bem ponderada. Mas nunca disse, (e se as minhas palavras soam a isso, mais uma vez devo pedir perdão) que a criação de um espaço de opinião ou de notícias ou de divulgação ou seja qualquer outra a atitude apresentada sejam acções inválidas. Pois o não são. Tudo é válido ao homem, como a sua própria vida. No entanto, no balanço da Bedeteca, desde há três anos, faço uma aproximação à Crítica, e não a qualquer outro tipo de texto – se bem que tenha de me coordenar pelos espaços que passam por crítica, não o sendo. Verás mesmo que mantenho, na medida do possível, contactos directos com as pessoas e que não “falo bem” dos amigos – com quem por vezes discordo – nem “falo mal” dos desconhecidos – com quem por vezes aprendo. No entanto, e eis aqui o grande valor de nos lançarmos em polémicas, se estes pequenos contributos levam a discussões sobre os possíveis caminhos, então penso estar no bom caminho.
Quanto à “instauração de ligações”, mais uma vez tens razão. Cada um faz as suas e não é por mais ninguém entender, como eu, de música feita em sintetizadores moog 45TGH para bandas sonoras de filmes pornográficos italianos dos anos 78 a 83, que todos os outros “falham” nas suas próprias conclusões, discussões, ideias... Essa é a atitude do mau crítico, ou do mau pedagogo, mau comunicador, etc.: a de julgar que “se não sabe, porque é que pergunta?” ou “ou sabes o mesmo que eu ou não te ensino nada”. Cresci rodeado de gente assim, e é uma chatice. Cada um tem os seus conhecimentos, cada um faz as suas associações. Em nem sequer tenho muitos, sou péssimo em datas, nomes e memória em geral. Nem sou particularmente interessante na criação de novos conceitos. Digamos que sou é aplicadinho, como bom estudante, e tento aplicar os conhecimentos que vou tendo em instrumentos de análise. Talvez alguns funcionem, outros... Bom, é isso o que gostaria de ver discutido, zonas concretas de ideias que tenham falhado. Ou não.
Mais uma vez, não fiz nenhum ataque pessoal, não era minha intenção fazer “enxurradas”, e estava a falar sobretudo de uma camada demasiado jovem (ou melhor, pueril) da população nas lides da net. Pessoas que notarás não terem quaisquer hábitos amplos culturais, e que se aferrolham nos seus mundos próprios com os seus “gostos”, surdos ao resto. Não tenho nada contra a juventude, nem contra a impetuosidade de tudo quererem no mundo. É assim e é assim que é belo. Nós, os mais barbudos e sisudos, estamos cá para outras danças...
Abraços e obrigado pelas palavras! Feedback é sempre excelente!

Pedro Moura disse...

Olá, Ena, olá a todos.
Bom, talvez o meu problema esteja em ter-me cingido a falar de blogs (sobre os quais concordo em serem, tal como os fanzines, um espaço de liberdade total, logo, podendo-se dizer o que se bem entender, incluindo "curto bués", "isto é uma trampa", e "esse livro é azul" - claro!), ao invés de ter explicitado que falava de comentários, textos, e até algumas discussões mantidas na net. Por isso, mais uma vez repito que não é na verificação do número - reduzido, de facto - de blogs sobre bd que se deve entender se quero meter todos no mesmo saco, etc. Mais, notarão que nomeio muitas vezes alguns nomes directamente e que não me coíbo de fazer críticas (ditas "negativas") sobre trabalhos que me parecem ser inconsequentes, mal-aproveitados, contra-producentes ou simplesmente gratuitos... Mas sabendo que muitas vezes as pessoas não são capazes de enfrentar esses comentários e levam à esfera pessoal qualquer afirmação, prefiro calar-me nalguns casos.
Avançando... Eu espero nunca ter dado o ar de que venho dar o mote e que todos os possíveis críticos devam seguir o que eu entendo como crítica. Não é esse o meu propósito. Aliás, eu faço uma escrita mais esteticizante do que qualquer outra coisa, e ligo pouco a aspectos sociológicos, não me interessam taxologias historicizantes, dou mais importância a aspectos narrativos do que a aspectos visuais (defeito de profissão), etc. Quer dizer, tenho as minhas fragilidades. Mas gostaria de ver mais escrita analítica (sobre a bd), cujos autores em Portugal existem, sim, mas poucos. Por isso, até fico feliz que estas minhas diatribes levem a estas discussões... Desde que se continuem e num tom adulto.
Em todo o caso, uma defesa, mas que poderá passar por presunção e água benta. É que eu não escrevo com o (único ou primeiro) intuito de divulgar, mas sim de lançar o que me parecem ser possíveis bases de análise e discussão. Não me entendas ou entendam mal: a divulgação é extremamente importante, mas esse não é o meu papel. É louvável a existência de uma multiplicidade de formas de falar da bd, de a divulgar, de a tornar acessível, mas esse não é o meu jogo. O meu jogo é pensá-la, tal como se o faz em todas as outras áreas da criação artística (a mal ou a bem, esse é outro assunto). Logo, escrevo para um público que já tem algum traquejo não só em leituras (de bd, e o que mais entenderem) mas também na capacidade de exercerem o seu próprio juízo, o qual, quanto mais balizado for, melhor. Tenho escrito para outras publicações e tenho desenvolvido o meu percurso académico com a banda desenhada, pois penso continuar neste caminho preciso: académico, ensaístico, aberto e ligado à História da Cultura em geral. Isso é arrogante? Penso que não, pois não fecho a porta a ninguém: simplesmente estabeleço que a plataforma de discussão é mais complexa, mais intelectual se preferirem (e não tem nada de mal essa palavra, que podem, se for mais confortável, confundir com "intelectualóide", mas digo-vos ser um erro), de uma necessária ponderação aturada, pausada, longa. E que pode, ou melhor, deve ser sempre revista através da discussão (troca de argumentos literal: toma este, eu fico com esse, uma pedagogia mútua). Talvez, portanto, o público geral não seja o meu público. Apesar de não ser necessário atravessarem uma espécie de "autoridades" (citações, bibliografia, academias) para poderem discutir dado assunto, a verdade é que muitas vezes as disciplinas a que me dedico ao estudo me ajudam a "ler melhor" a banda desenhada que mais me interessa (mas os interesses e os gostos são territórios que não podemos usufruir da mesma forma entre nós, pois são intimidades não-partilháveis, ao contrário do pensamento intelectual - passo a redundância). Mas era só o que faltava se eu achasse que se deveria passar pelas "minhas" (curtas) referências para se poder estabelecer um diálogo sobre bd; os outros, tu, vocês, terão as vossas formações, conhecimentos, referências que vos ajudarão certamente a fazer escolhas e a tomar juízos sobre essas mesmas escolhas. São todos mais que bem-vindos a discutir e pôr em causa qualquer afirmação que eu faça a propósito de seja o que for. Se houver algo com o qual não concordas nada, fá-lo, não me fará mal, seguramente... E nunca apago comentários, só o tendo feito às publicidades que nada têm a ver ou a insultos a terceiros.
Só uma palavrinha em relação a links, que não tenho. Começou por se tratar de azelhice, e não saber mexer no blog, depois em calonice, tendo agora atingido um estado que não tem nome. Mas não é devido a desejar "esconder" o que existe.
Em suma: não preciso de fazer elogios mais do que os que desejei fazer no texto da Bedeteca, pois todos saberão o valor, a importância e o objectivo do seu trabalho. Não se enganem a pensar que eu não conheço os meus, tal como conheço os meus limites. Mas este meu espaço e o espaço do meu pensamento é, acima de tudo, meu, e por isso só posso trabalhar nele, esperando que se expanda com estes saudáveis "embates". Por isso, admito que tenha sido redutor por não querer ser mais directo em relação ao trabalho dos outros (jornalistas, bloguistas, netistas, fanzinistas, historicistas, etceteristas). Admito que uso um conceito de crítica estreito que coloca de fora um outro tipo de trabalho (precisamente de divulgação ou de jornalismo). Admito que não procuro converter ninguém. Mas admito também que este é um caminho válido, precioso, difícil, (não totalmente, mas) um pouco solitário, e que se fere alguém é para os acordar. E convidá-los a se juntarem à discussão.
Peço, por isso, agradeço até, que façam todos os comentários que bem desejarem em todos e quaisquer posts. Nunca deixo ninguém sem resposta.
Mais uma vez, e acredita que com a máxima sinceridade (pois além de o teres lido, ao texto da Bedeteca, confronta-lo e isso é um elogio muito agradável), obrigado!
Um abraço,
Pedro

Os Positivos disse...

É um exercício curioso ler comentários como estes e os de 2007 ( http://goo.gl/0yMzH ). Foram anos formativos para o flashfinger? Refiro-me apenas e tão só à necessidade de justificação dos actos. Por demasiadas vezes se diz "não era minha intenção" isto ou aquilo e li por ali algures um pedido de desculpa…? Nigger please: come out guns blazing, a razão ou falta dela encarrega-se o tempo da mostrar… E mudando de assunto, o link para a BEDETECA não está a funcionar, o que faz com que nessa situação específica, o tempo tenha tirado a razão ao Pedro...

Pedro Moura disse...

Obrigado por fazeres arqueologia, mas a verdade é que sim, são momentos de formação (ainda não terminados, obviamente), e a procura de instrumentos pedagógicos que pudessem ser seguidos por outros, ou colocados em questão com alternativas fortes. Não retiro o que escrevi, e o que escrevi deve ser visto no seio do seu contexto da altura, em que existiam menos vozes diversas das habituais (à época); passados estes anos, apesar de tudo, ainda existem poucas pessoas a fazer crítica sustentada e menos que epidérmica.
Quanto aos links, não posso fazer nada, o site foi desmantelado e não tenho oportunidade de fazer sempre updates. Há o Santo Google.
Obrigado,
até breve.
Pedro

Os Positivos disse...

Arqueologia: nada de pessoal, foi o santo G que aqui me trouxe para começar: o mínimo de investigação para justificar uma tese mas não falta de fontes mais viáveis e consistentes preguicei e fiquei-me pelo óbvio: http://goo.gl/dvz9r;