Depois das conversas sobre géneros, em tantos dos títulos ou autores aqui indicados (Junko Mizuno e John Porcellino, Lincoln e La Mort rôde ici), eis um outro exemplo de “amálgama”. Não se tratará de uma fusão, pois o objectivo é mesmo a confusão, o bouleversement total das convenções, um contínuo acumular de peripécias que se vão desdobrando. Supermurgeman (de que a capa representa o segundo de três títulos) traz à baila nas suas páginas toda uma tradição de banda desenhada. Mas ao passo que Art Spiegelman, em ...Torres..., procurava achar um sentido entre a memória da banda desenhada e a sua experiência pessoal enquanto ser histórico, Sapin atira com tudo para um caldeirão na esperança de que nasça algo... anómalo. Superhomem, o Fantasma-que-caminha, Kazar, Popeye, o teatro do absurdo e piadas de cocó-xixi, a crítica social e uma inclinação para o obsceno (vejam as guardas do livro e procurem um certo ramo de árvore... ilusão minha ou artifício pouco subtil?). Se isso não cria certamente uma obra acabada, coesa, equilibrada e, assim, angariadora de um gosto mais ou menos consensual, pelo menos titilará as mentes dos que procuram às vezes algum permanente desequilíbrio, quase no auge da ilegibilidade ou irresolubilidade... Perto de Malus, se bem que os materiais e as estratégias, os campos atravessados, sejam muito diversos...
Nota: livro pertencente (note-se no autocolante com o código de barras) à Medieteca do Instituto Franco-Português.
30 de janeiro de 2006
Supermurgeman. Mathieu Sapin (Dargaud)
Publicada por Pedro Moura à(s) 11:40 da manhã
Etiquetas: França-Bélgica
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