Diana Tamblyn é uma autora canadiana de fanzines relativamente (in)acessíveis, sendo este o mais recente. Com a excepção de uma longa e palavrosa biografia do descobridor da insulina (banda desenhada com a qual participou na antologia da SPX 2002), os seus curtos trabalhos incidem sobre personagens, ainda que possuindo aquilo a que se dá o nome de “carisma” ou “características de inveja social”, ou por essa mesma razão, não são capazes de lidar com as obrigatoriedades sociais da forma mais natural. Tamblyn coloca-as em situações que as obrigarão a sair dessa modorra habitual. O facto de que consegue fazer isso em poucas páginas – dar-nos o retrato psicológico completo dessa personagem e o abalo em que a lança – é notável. Os expedientes dessa “saída de si” não são, porém, nada espectaculares e bombásticos, tratando-se antes de uma curiosa coincidência, um pequeno confronto com um amigo, um familiar, um colega de trabalho, e uma breve decisão que coloca a personagem num novo caminho de sociabilização. Ou até algo mais, como uma eventual relação amorosa, como parece acontecer com Josie, de There you were.
Esta protagonista, jovem mulher empregada nos escritórios de um banco, vive à margem dos restantes colegas, que se dedicam muito mais à discussão das novidades (ou, conforme a perspectiva e participação, “conversa de chacha”). Essas duas situações “marginais” – trabalho de escritório, à margem dos colegas – podem ser vistas como “claustrofóbicas”, e levam a que a autora utilize vinhetas ainda mais pequenas e mais centradas nos rostos das personagens, diferentemente de outros trabalhos.
O seu estilo, que se pode definir por uma rendição naturalista dos corpos humanos, mas com ligeiras imprecisões – “erros” anatómicos, pequenos desequilíbrios, perfis inusitados, gestos identificáveis mais pela sua posição dramática e simbólica do que pela expressividade, etc. – garantem-lhe um charme geral muito próprio e pouco comum, ainda que não de uma consensual “beleza”. Recorda-me, em larga medida, esse tipo de emprego de um estilo “industrial” para pequenas porções da vida quotidiana, tal como Françoise Mouly intentara na Raw, ou Pekar consegue que os seus colaboradores vários sigam em American Splendor (como, por exemplo, Gerry Shamray, Joe Zabel e Gary Dumm).
“There you were” (traduzível por “então é aí que estavas”) parece ser um título perfeito para este pequeno (e os outros) volume de Diana Tamblyn: não se dá por ele à primeira nem às segunda vista, mas no momento em que se nos permite a felicidade de olhar o seu interior livre, descobrimos algo/alguém que se pode tornar parte das nossas vidas, nem que pelo mais breve momento...
Nota: mais informações e compras: www.speedlines.com
22 de fevereiro de 2006
There you were. Diana Tamblyn (Speedlines)
Publicada por Pedro Moura à(s) 11:20 da manhã
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