28 de fevereiro de 2020

Mar de Aral. José Carlos Fernandes e Roberto Gomes (Comic Heart/G. Floy)


Este livro é, de uma certa forma, a continuidade do plano interrompido das Black Box Stories de José Carlos Fernandes, um conjunto de histórias curtas, talvez em forma de argumento ou talvez de outline, que seriam desenhadas por uma série de artistas. A maior fortuna dessas relações foi aquela alimentada pelos desenhos de Luís Henriques, que dariam três livros bem distintos (Umbrografia, Metrópole, Estrelas). A série acabou por não ter continuação. José Carlos Fernandes abandonou o mundo da criação de banda desenhada, Luís Henriques também. Consta que existiram outras “stories” começadas, mas nenhuma viu o lume da impressão. Até este título. (Mais) 

25 de fevereiro de 2020

Filhos do Rato. Luís Zhang e Fábio Veras (Comic Heart/G. Floy)


À medida que o tempo avançar e a esmagadora maioria dos protagonistas da guerra colonial começarem a deixar este mundo, o processo da sua memória vai dando cada vez mais frutos, e poderá mesmo chegar ao espaço público. É algo que se tem verificado, como um padrão, noutras circunstâncias históricas. Se quase se pode falar de um “pacto de silêncio” feito por essa geração em relação àquela que imediatamente gerou, o tempo aproxima-se em que também os objectos da cultura popular – no caso, a banda desenhada -, começará a responder. Não vamos fazer aqui o enésimo exercício de listar os trabalhos desta disciplina que versaram este conflito. Nos últimos anos, OsVampiros teve algum impacto, se bem que escolheu um caminho da narrativa de género; Filhos do Rato afasta-se dessa abordagem mais espectacularizante, validando porém elementos fantásticos. (Mais) 

3 de fevereiro de 2020

Maximum Troll On. Benjamin Bergman (Mmmnnnrrrg)


A convergência da cada vez mais forte da capitalização de tudo, inclusive as culturas populares, que inclui as sub-cultura infanto-juvenil, geek, e high fantasy, e os modos como criam zonas de intersecção, levam a que seja sempre particularmente complicado conseguir escapar a certas fórmulas e tropos associados a géneros determinados. Este minúsculo livro, que junta quatro aventuras de dois aparentes cavaleiros de ar medieval, e cuja continuidade entre si é discutível mas uma clara possibilidade, cria elos mais o que óbvios com sagas como O Senhor dos anéis, e todos os textos derivados, da obra de R. E. Howard (Conan e Kull) e, mais recente, A Guerra dos Tronos

Porém, o autor está menos interessado em criar uma variação sobre esses temas, ainda assim contribuindo para esse edifício, no típico exercício de “resposta literária” que constitui os próprios campos temáticos, do que transformá-lo num quase independente exercício de retórica livre, experimental e alucinada. (Mais)