1 de julho de 2004

Journal de Mon Père. Jirô Taniguchi (Casterman)


A Casterman acaba de editar num só volume, e num formato e design bem mais atraente, todo Le Journal de Mon Pére (O diário do meu pai), uma das obras mais marcantes de Taniguchi, autor de O Homem que Caminha e Bairro Longínquo. Nenhuma das obras está traduzida para português, que eu saiba. A editora francesa já o tinha editado em três álbuns, e apesar da edição original também ter sido seriada, esta parece-me a melhor forma de a ler. Taniguchi inscreve-se na tradição que o Ocidente chama de "auto-ficção", utilizando um ponto de partida autobiográfico para contar uma história de uma outra personagem, ou antes, contando a história de uma personagem que não o autor, aproveita para revisitar temas muito próximos de si-mesmo. Superficialmente, este é um livro em que um filho visita a terra natal para o enterro do pai e, atravé das suas conversas com outras pessoas e as suas memórias (e o repetido recurso aos seus "silêncios respondentes"), constrói uma imagem diferente de um homem que afinal mal conhecia. Porém, é sobretudo um belíssimo livro sobre a memória e as partidas que ela nos prega. Taniguchi demonstra ser capaz de levar o modo da bd ao apogeu, especialmente no que diz respeito ao tratamento do tempo e na construção morosa mas concertada da dimensão psicológica de uma personagem.
Casterman: Paris Junho 2004. 15,50 Euros.
(artigo publicado em Mondo Bizarre 19, Junho de 2004)
Posted by Hello