Na sua prolífera produção de projectos de banda desenhada, de ilustração e musicais, André Coelho cria como que metástases desses mesmos gestos e que, com a sua alquimia e ciência (difícil de destrinçar uma da outra), expugna, mantém vivas e cultiva para que se desenvolvam em novos organismos autónomos, mas que transportam a mesma contaminação. Se bem que uma grande parte do público dedique maior atenção a objectos maiores do ponto de vista comercial, genérico e de circulação capitalista - “novelas gráficas” e “álbuns” -, seguirmos os pequenos passos expressivos levam à manutenção dos modos como um artista vai pesquisando, burilando, interrogando, esses tais gestos contínuos.
Estas três publicações saíram, desde final de 2023 até há recente, pelo próprio selo do artista, ΧΘΩΝ, ou “Khthon”, que lhe serve de plataforma de auto-edição editorial e musical, sendo neste último caso acessíveis via Bandcamp as produções que mesclam música electrónica, noise, soundwalks, colagem, found footage, ambientes negros, criando paisagens sonoras muito próximas, precisamente, do que o autor tenta capturar através dos seus desenhos e colaborações: um retrato das ruínas do futuro que fazem sentir a sua sombra já hoje. (Mais)