Trump Card ganha uma
desenvoltura diferente, para começo graças ao seu tamanho, com
quase 80 páginas, o que demonstra outro fôlego mas também um
compromisso com fórmulas mais organizadas de narrativas ou
centralização da atenção. Tendo em conta que o autor declara,
numa nota inicial, que foi totalmente improvisado na sua “escrita”
e “desenho preparatório” – para ser claro, não só não
existiram como são mandados àquela banda -, e entre os anos de 2014
e 2017, notar-se-ão certamente transformações internas na
assinatura gráfica do autor, e até nalguns aspectos de
desenvolvimento de acção ou de desenvolvimento da(s)
personagem(ns). Ou, bem lido e visto, nem por isso, como se se
pretendesse precisamente evitar qualquer ideia de arco organizado, e
houvesse maior prazer em demonstrar uma espécie de expressividade
selvagem, genuidade na criação, mas sempre sem passar uma linha de
domesticação ou normalização.
Musclechoo encontra uma raça de
alienígenas mutantes poderossíssimos, os Zartrarian, e que vivem
numa base submarítima, mas não entra em imediato conflito com ela,
o que permite aos seus aliados juntarem as suas forças para uma
batalha épica. E nesse entretanto, descobre o plano dos aliens em
invadir a Terra com um novo tipo de jogo de cartas de realidade
aumentada, uma espécie de mistura de Magic the Gathering,
Pokemon, MMORPGs e sabe Deus Nosso Senhor mais o quê numa
sopa tão pouco credível como certamente satírica. Com efeito, é
difícil não ver em Trump Card um exercício de
deboche sarcástico em torno de toda uma linha de cultura popular, de
Star Trek a novos jogos digitais, mas ao mesmo tempo
mostrando algum gosto por essa mesma cultura. Pois nada do que foi
dito é claro, e novos jogos de alianças e surpresas surgem, sem que
se abandone a possibilidade da explosão juvenil dos conflitos mais
que esperados. E há pistas para o que poderá ocorrer no futuro…
Apesar do título ter tudo a ver como o jogo de cartas, e aparecer
uma espécie de “tirano sapo” obcecado com sexo, não deixa de
haver uma ideia de explorar a actualidade política internacional.
Mas ir por aí é como patinar num sabão em chão de mármore. Todo
o cuidado é pouco e equilíbrio, nenhum.
Uma espécie de Image dos pobres, em
que a verve daquela editora norte-americana em revisitar e
revitalizar toda uma série de géneros clássicos, mas com os
instrumentos imediatos e de pêlo da venta do punk (8-bit breakcore,
entenda-se) zinesco, Musclechoo deve estar mesmo para ficar.
Deus nos acuda.
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