"Que significa ser comunista hoje?" era a pergunta que Nanni Moretti se fazia em Palombella Rossa. A importância estava na absoluta necessidade em revermos quem somos e porque lutamos a cada nova etapa. Igualmente, "quem é Pasolini?" não se trata de uma pergunta a uma ignorância, mas sim a uma intensidade. Toffolo é músico e autor de bandas desenhadas famosas em Itália para um público alargado (Animali, Fragoli, Fandango), e este é talvez o seu trabalho mais pessoal. Autoretratando-se, é contactado por um Sr. Pasolini, que nunca se entende se é o verdadeiro ou se um sósia ou se um fantasma (o site indicado no livro existe, tal como o sósia). Através de uma série de entrevistas a esse misterioso alter-ego, constrói-se um mapa do pensamento do poeta, realizador e, acima de tudo, livre-pensador. Homenagem, revisão de um espírito, o contrário de uma hagiografia, este é um objecto estranho que desafia a catalogação. Não cai nos termos simples de uma biografia, nem tampouco de adaptação, mas antes de um verdadeiro exercício de cidadania cultural ao apropriar-se das forças e do significado pessoal de Pasolini para si-mesmo, para no-lo ofertar com a maior das generosidades. Na capa, esconde-se uma caveira espreitando. Porque também a morte é uma personagem sempre presente neste livro.
(publicado em Mondo Bizarre no. 20)
17 de setembro de 2004
Pasolini – Une Recontre. Davide Toffolo (Casterman)
Publicada por Pedro Moura à(s) 6:39 da tarde
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