Sfar é formado em filosofia, e isso nota-se numa série de detalhes de algumas das suas obras, mas algumas delas estão mais cheias que outras. E há quase como que um eco de cada um dos seus livros nos restantes. É impossível não querer fazer uma imediata comparação entre o "gato do Rabi" e o "cão de Hércules", e tudo o que daí pode advir: a visão do mundo hebraica versus a grega, a displicência e superioridade de um gato versus a servilidade e justificação permanente do cão face ao amor irracional que sente pelo dono, mas também os aspectos que aproximam ambas as personagens, especialmente um certo "deixar andar". Apesar de eu falar de "grande aventura", não estamos perante nem os relatos heróicos de uma certa banda desenhada nostálgica, nem as viagens aventurosas da família Donald de um Barks, ou a pequena epopeia de um Bone (J. Smith)... Afinal Sócrates, o cão, pouco faz senão acompanhar e ver o que Hércules faz, comentar com o leitor e com outras personagens que atravessam o caminho - sobretudo as mulheres, num curioso diálogo entre dois dos "underdogs" da sociedade helénica. Não se esqueçam que a palavra grega para "cão" deu origem a uma palavra que também remete a uma atitude filosófica, os Cínicos (Diógenes é o mais famoso), e estaremos talez próximo do programa destas histórias que não só recontam os mitos e certos príncipios, como os recriam e mais!, os fazem viver de novo pois ainda nos ajudam a viver mais vida.
10 de abril de 2005
Socrate Le demi-Chien. Joann Sfar & Christophe Blain (Poisson Pilote). Voltar à Grande Aventura 1.
Publicada por Pedro Moura à(s) 5:13 da tarde
Etiquetas: França-Bélgica
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