A capa que aí está é de uma edição coreana, mas serve de ponto de partida para a cada vez maior obra de Junji Ito, cujo Uzumaki deve ser a obra mais conhecida e mais bem conseguida. Porém, quase todas as suas histórias, das mais curtas e soltas (as que aqui se reúnem, por exemplo) até às curtas mas associadas entre si (a série Tomie) até outras mais alargadas (Gyo), e que se vão descobrindo em traduções acessíveis (inglês, francês, espanhol) apalpam o mesmo terreno, as mais das vezes feitas de corpos humanos sempre no limite de se tornarem outra coisa...
Se bem que não estamos perante uma obra-prima do maior requinte, dados os seus objectivos, também não estamos perante um crasso aproveitamento vazio de uma "moda". Isto é, as minhas preferências recaem noutro tipo de livros, mais complexos e que assistem mais intimamente com a nossa vivência humana, mas nada disso me impede de entrar em leituras mais "escapatórias". Mas o escape a que Junji Ito nos convida é bem estranho, porque escapamos para dentro, para a visibilidade total dos nossos corpos, e isso é incómodo. Estas são mesmo histórias arrepiantes, com um ritmo desconcertante (os painéis silenciosos, as onomatopeias quase exageradas) e sobretudo com uma atenção revoltante aos limites do corpo humano.
Como David Soares disse tão bem em Ler Bd (ver abaixo), a propósito de Uzumaki e a abjecta visibilidade dos corpos horrificados de Junji Ito, "O terror não deve ser confortável".
(Para os curiosos, o título desta artigo é a tradução da antologia coreana retratada).
10 de abril de 2005
A Voz da Escuridão. Junji Ito (várias edições)
Publicada por Pedro Moura à(s) 5:53 da tarde
Etiquetas: Japão
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1 comentário:
Pedro, eu tenho o filme UZUMAKI em dvd se estiveres interessado.
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