A propósito da divulgação dos nomeados para as várias categorias dos Prémios Eisner deste ano, os promotores de The Comics Alternative, Derek Royal, Andy Kunka e Gene Kannenberg, para além do seu costumeiro podcast ("Two Guys with PhDs Talking about Comics"), convidaram uma série de pessoas para tecer comentários, criticar escolhas e integrações nas categorias, etc. (mais)
Tive o grato prazer de ser convidado e, apesar de ter explicado que não acompanhei nem sequer metade dos títulos indicados, quanto menos aqueles que não foram considerados, ainda assim arrisquei algumas palavras, baseadas, evidentemente, na minha percepção (limitada) e acompanhamento (restrito), assim como interesses particulares (como não?). Poderão ler tudo aqui. Seja como for, haverá dois ou três pontos de interesse.
O primeiro está naturalmente nas outras participações, bem mais informadas e contudentes. As considerações de Andy Wolverton e Tok Eklund sobre March ser visto como um livro "para adolescentes" é muito pertinente. Fiquei feliz de ter seguido uma preocupação similar em relação ao novo livro das Tamaki (de que darei conta em breve quando o texto for publicado no du9), mas no caso de March há uma dimensão política muito mais vincada, sobretudo se tivermos em conta o potencial peso dos prémios em escolhas oficiais escolares, algo de que estamos a anos-luz em Portugal, primeiro por uma ausência de diversidade editorial (temos uma oferta pobre, imputável sobretudo à inércia dos maiores grupos editoriais, cegos, ou às más políticas editoriais das plataformas comerciais generalistas, já que as representantes de marcas internacionais e as editoras menores cumprem, e bem, o seu papel), e depois pela santa ignorância de todos os outros agentes mediadores (crítica, educadores, políticos, etc.).
Em segundo lugar, está a revelação de aspectos muito específicos da política de distribuição e categorização numa verdadeira indústria da banda desenhada (uma das três mais fortes do mundo) - mas repare-se como, ao contrário de "popular belief", o género dos super-heróis não tem um lugar proeminente (o que não quer dizer que não haja trabalho de qualidade a todos os níveis), e reflicta-se no que Shea Hennum ou Bob Bretall dizem nos seus contrastes com os prémios da indústria cinematográfica e televisiva.
Em terceiro lugar, e para mim o mais importante, está a maneira como se procuram discutir todas estas dimensões. É evidente que há outros espaços e intervenientes a discutir cada ponto, mas é salutar ver como há uma multiplicidade de posições, cada qual argumentada a seu modo...
São sobretudo estes dois últimos pontos que deveriam surtir o seu efeito no nosso pequeno canto. Não tanto como obstáculo ao surgimento ou desenvolvimento de certames e prémios e eventos e plataformas digitais, mas que fossem conducentes a uma verdadeira discussão e diálogo. Infelizmente, o jogo do toque-e-foge continua a ser o preferido.
Se há uma última nota, é a de que desejaria ter uma versão em inglês da edição do Príncipe Valente do Manuel Caldas, de forma a rebentar as costuras na categoria "Best Archival Project"...
Nota final: agradecimento aos promotores, pelo convite.
7 de maio de 2014
Comentário ([não]breve) em torno dos Eisner Awards 2014.
Publicada por Pedro Moura à(s) 8:47 da manhã
Etiquetas: Colaborações, EUA
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
Boas,
Mas o Principe Valente do Manuel Caldas não está editado pela Fantagraphics?
O Príncipe Valente do Hal Foster está editado, o do Caldas é que não é a chamada descriminação lusa... :)
Conceito de Comentário Breve para Pedro Moura: 2600 caracteres sem espaços (desculpe lá mas não resisti:)
Caro Luís,
Não, de maneira alguma. Apesar do meu conhecimento técnico ser fraco, e outras pessoas estarem mais aptas a informá-lo de pormenores dessa natureza, posso dizer que a edição da Fantagraphics é a cores e que a recuperação dos pretos (a linha) não é fastidiosa e gloriosa como a da do Manuel Caldas. Duvido, porém, que alguma vez haja uma possibilidade de a ver a circular em inglês, se bem que seria uma das primeiras pessoas a defendê-lo. E para ser claro, eu sei que os Eisner são prémios americanos, portanto a minha frase é uma boutade ou brincadeira...
Caro Sidyn,
Ha! Ha! Apanhado!
Pedro
Olá Pedro,
Cadê o resto do comentário e as ligações aos comentários para podermos comentar? Valerá uma pequena provocação :-) o desaparecimento do teu manifesto internacional pelos produtores de bd nos países periféricos? Bravo, Bravíssimo pelas tuas palavras! Alguém que recorde a essas academias das grandes potências da indústria cómica que abusam da sua posição de domínio, elevando a génios maiores autores de obras da prima pela simples acção de imprimir livros em quantidades que ignoram os modelos de distribuição perfeita que veneram, algo que noutro país qualquer desvalorizaria a Banda Desenhada ao ponto dela ser erradicada a só voltar cunhada em nonagésima arte. Ainda hoje perguntarão: " - Quem és tu Joaquín Salvador Lavado Tejón?"
Brincadeirinha...
Abraço,
José
P.S. : Fabulosa a sugestão provocada “dans ma maison de papier”. Confesso que o meu francês (a língua escrita ) não chegará para redacções mais subtis. Será que a academia poderá empurrar este livro para uma edição em inglês, sendo que em português seria pedir muito?
Obrigao, Abraço
José
Oi Pedro,
Só agora percebi que as entradas já não aparecem na totalidade ao abrir o blogue como anteriormente. Só agora é que me deu (dei) o clique. Por favor ignora o disparate inicial da primeira frase do comentário anterior e depois ignora as frases seguintes :-DDD.
Outro Abraço,
José
Caro José,
Sim, seguindo um conselho de quem percebe mais da poda, segui esta forma de "diminuir" o que se vê na página principal, mas não sei como fazer para "expandir" com o (mais) que acrescentei, e tem que se clicar no título... Mais uma experiência.
Quanto às restantes questões: bom, pelo que se entende do texto todo, não faria qualquer sentido criticar os Eisner por não incluírem edições internacionais; afinal, não é esse o seu fito, e não existe ainda, infelizmente uma circulação que levasse a uns prémios como os que têm lugar em Cannes ou Berlim, para o cinema.
Quanto à edição do Duba... Penso que não. Enquanto houver prioridades de editar todo o "Michel Vaillant" ou o "XIII", e termos de ficar contentes com os "Simpsons" ou o "Dilbert", editar essas macacadas poéticas que ninguém entende não têm lugar...
Pedro
Oi Pedro,
Vá lá, não podes negar que do teu discurso mentalidades mais "sinistras" (queria por em italico para a ironia poder resultar :-)poderão extrapolar uma rétorica de pregão aos peixes. A Academia deve ter feito uma leitura do que escreveste e que seria bem diferente se fosses americano. Conheces aquele livro do angolano Nástio Mosquito "Se eu fosse angolano"? Para poder falar da sua terra teve que usar um título que o afastasse do "sindroma da legitimidade".
Abraço
José
"aquele álbum do angolano Nástio Mosquito" eheheh...
José
Enviar um comentário