Esta relativamente jovem autora japonesa não é muito famosa no seu país, e talvez o seja mais em França (e leitores de edições francesas), graças à sua colaboração com Frédéric Boilet em Mariko Parade (Casterman).
Esta é a edição francesa de uma colecção de histórias curtas que publicara em várias revistas, incluindo a Garo. A edição original, japonesa, pouco diferente (a última história na japonesa foi substituída por três novas na francesa) chamava-se Yellowbacks, apontando para aqueles romances baratuchos que se compram por tuta e meia. Isso é confirmado pelo teor das curtíssimas "histórias" em prosa incluidas no livro, das pessoas "pouco vulgares" e pelas personagens das bds. De facto, estamos perante um catálogo de pessoas vulgares, fazendo a sua vida vulgar e sendo confrontadas com situações vulgares, mas é o tratamento de Takahama dessas mesmas vidas que nos fazem descobrir que nada nunca é vulgar na vida de todos os dias. Por várias razões, as leves influências de um certo “gosto” europeu são mais que óbvias, mas ainda assim permite-se um olhar sobre pequenos gestos que não nos pertencem, ao princípio, mas dos quais nos apropriaremos, depois da sua leitura.
O estilo gráfico da autora dá uso a imagens dos corpos como uma espécie de fotografia contornada nos seus traços mais simples, com gradações de cinzentos e sombras. Quanto aos diálogos, estes surgem numa catadupa que não parecem seguir-se uns aos outros - aumentando à confusão de ler no sentido japonês -, mas antes retratando de próximo a forma fragmentária como falamos uns com os outros. Ora, tudo isso faz com que as situações que retrata não tenham nada de espectacular (ainda que o glamour esteja presente em certas referências) e, por isso mesmo, possam ser apelidadas de "realistas" sem com isso caír na esparrela mais corriqueira dos géneros.
17 de junho de 2005
Kinderbook. Kan Takahama (Kodansha/Casterman)
Publicada por Pedro Moura à(s) 1:10 da tarde
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