Uma das formas de
respondermos a este livro seria analisar quais são os pontos de
desenvolvimento aproveitados por Daniel Lima no seu próprio diálogo
com o filme de Robert Bresson, Le diable probablement (1977),
do qual aproveitou algumas cenas para a construção deste diálogo
entre duas personagens que preenchem as páginas. Uma pesquisa que
superficialmente parece ser a de um suicido ou assassinato banal (?)
desemboca numa análise lenta, dura e pesada sobre o estado de
espírito de uma sociedade desencantada, o que poderia servir de,
talvez, descrição de toda a cinematografia (ou será antes a de uma
pesquisa que tenta descobrir ainda os últimos laivos de encantamento
que nela sobrevivem?) do autor. Lima, todavia, transforma essa
ocasião para reconstruir uma espécie de ambiente artificial e
mágico no qual a distância entre os corpos (dos “modelos” e não
“actores”, para seguir a nomenclatura de Bresson) dos
protagonistas e as metamorfoses dos objectos e espaços em torno tem
de ser compreendida menos como momentos para criar redes simbólicas,
passíveis de uma ulterior apresentação de significados do que uma
plataforma para sensações ambivalentes e ainda mais distanciadoras
da própria matéria de expressão. (Mais)
23 de fevereiro de 2017
Sutrama. Daniel Lima (kuš!)
Publicada por Pedro Moura à(s) 3:56 da tarde 0 comentários
Etiquetas: Adaptação, Experimental, Portugal
21 de fevereiro de 2017
Três títulos da colecção Écritures (Casterman)
Como manda a lei das editoras
comerciais, chegará um momento em que se faz não apenas uma
reestruturação gráfica e formal das suas colecções, como um
balanço interno da sua produção. A colecção Écritures foi alvo
precisamente de um redesign, em que as capas passam a ser
tratadas a preto com uma segunda cor e os títulos a dourado, criando
uma coerência gráfica distinta daquela verificada até agora. Não
só foram relançados alguns títulos antigos neste packaging
como os novos seguem agora esta linha. Além disso, há um lançamento
e abertura de vários novos gestos criativos que estendem os supostos
objectivos originais da colecção. Não é que não houvesse
colaborações anteriormente, mas o lançamento de La cire
moderne, colaboração entre o escritor Vincent Cuvellier e o
artista Max Radiguès, e Je viens de m'échapper du ciel,
adaptação das novelas policiais coordenadas de Carlos Salem por
Laureline Mattiussi parecem confirmar a insistência desse tipo de
possibilidades “literárias”. Adicionalmente, o lançamento de
Salles d'attente, de Charles Masson, que recupera Soupe
Froide e outros relatos, mostra a possibilidade dos tais balanços
internos. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 11:24 da manhã 0 comentários
Etiquetas: Adaptação, França-Bélgica
9 de fevereiro de 2017
15 de Fevereiro: Seminário Banda Desenhada e Pensamento Político: Sessão 4
O Seminário indicado antes continua.
Estão convidados a aparecer e participar na próxima (4ª) sessão, desta vez sob a forma de um pequeno debate com dois artistas de banda desenhada contemporânea portuguesa, Marco Mendes (Diário rasgado) e Tiago Baptista (Fábricas, baldios, etc.).
O tema-chave é o "desencanto" e tentaremos falar em torno de questões sobre a representação social que emerge das obras destes dois artistas, o alcance da leitura política que elas permitem, e em que medida é que funcionam os afectos na banda desenhada como espelho da situação actual.
Apareçam!
Estão convidados a aparecer e participar na próxima (4ª) sessão, desta vez sob a forma de um pequeno debate com dois artistas de banda desenhada contemporânea portuguesa, Marco Mendes (Diário rasgado) e Tiago Baptista (Fábricas, baldios, etc.).
O tema-chave é o "desencanto" e tentaremos falar em torno de questões sobre a representação social que emerge das obras destes dois artistas, o alcance da leitura política que elas permitem, e em que medida é que funcionam os afectos na banda desenhada como espelho da situação actual.
Apareçam!
Publicada por Pedro Moura à(s) 4:40 da tarde 0 comentários
Etiquetas: Academia, Colaborações, Portugal
3 de fevereiro de 2017
A minha casa não tem dentro. António Jorge Gonçalves (Abysmo)
No final do
volume, o autor explica como o título deste livro é retirado de uma “estiga”,
que neste caso se refere a uma forma ritualística e lúdica de Luanda de criar
narrativas trocadas com interlocutores, com direito a resposta. Usualmente, e
mesmo em Portugal, são jogos de insultos mútuos, com ataques e ripostas, uma
espécie de rap battle, mas onde o objectivo é o divertimento de todos
(às custas dos que se propõem a jogar). É portanto uma forma de exposição,
franca, directa, bruta, e em grande medida é isso o que se passa neste livro.
Mas é no início que está a nota que explica a razão de ser deste projecto.
António Jorge Gonçalves teve um acidente gravíssimo médico que o colocou à
beira da morte, ou mesmo para além dessa hipotética fronteira (ele escreve
“morri e regressei à vida”). E este acto criativo é uma resposta. Se essa
reposta é à aproximação dessa fronteira, à sua travessia, ou ao seu regresso,
não sabemos. Sabemos é que deve ser lido. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 7:44 da tarde 0 comentários
Etiquetas: Autobiografia, Ilustração, Portugal, Territórios contíguos
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