19 de maio de 2023

3 Graus de Carequice - Episódio 71 - SENDAI


O ponto de partida deste programa é o trabalho que tem sido desenvolvido nos últimos tempos pela relativamente nova editora Sendai, especializada em banda desenhada japonesa, de um cariz mais alternativo, adulto, underground, ou outros adjectivos que a destacam de uma escolha mais usual (shonen, aventura, adolescente, etc.). Estamos num momento em que temos algumas editoras, especializadas (e.g., Devir, A Seita) ou não, com uma oferta variada, mas essa diversidade é multiplicada exponencialmente pela Sendai. A partir daí, podemos falar da presença da mangá, a aprendizagem da sua produção diversa, um pouco da história do seu acesso, e importância de estar atento a outros mercados, etc. Genki des!

13 de maio de 2023

Como flutuam as pedras - Pedro Moura & João Sequeira


Booktrailer para Como flutuam as pedras, um romance gráfico de Pedro Moura e João Sequeira, publicado pela A Seita/montesinos, com lançamento oficial previsto para o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, no primeiro fim-de-semana de Junho (e na semana seguinte, no MaiaBD 2023). Neste mesmo certame, encontrarão a exposição dos originais deste projecto, e outros materiais, assim como os autores, em sessões de apresentação, conversa e autógrafos. Como flutuam as pedras é uma viagem de Constança a um local misterioso (uma cidade, uma ilha, um outro local?), para um encontro que pode significar um reencontro ainda maior, entre a comunidade humana. Este booktrailer foi tornado possível graças ao trabalho de animação, e consequente montagem, da arte original de João Sequeira feito por Tomás Casanova Pereira. O som foi criado por Carlos Neves, Cristiana Serra, Diogo Silva, Guilherme Lameira, Miguel Valentim, José Bragança e Gonçalo Vidigal (compositor e intérprete da música original), todos alunos de Design de Som, com o Professor João Cordeiro, do Instituto Politécnico de Portalegre. Fica aqui o sentido agradecimento a todos, por esta trabalho magnífico. Design da capa provisório, por Playground.

8 de maio de 2023

Estátuas vivas. Samuel Jarimba e Magda Pereira (Cadmus)

Fruto de uma encomenda da parte do festival Madeira Street Arts, cuja primeira edição foi dedicada à prática de “estátuas vivas” (pessoas imobilizadas durante um determinado período e incorporando elementos que as transformam em personagens teatrais), este pequeno livro de 23-25 pranchas de banda desenhada, mais material extra, é um ponto de encontro entre a banda desenhada enquanto estrutura comunicativa, passível de ser empregue em relações pedagógicas, de divulgação, de publicitação até, e palco próprio de transformações poéticas e expressivas. Samuel Jarimba, com o apoio de Magda Pereira na parte conceptual e da lavra das palavras, parte de uma situação real – um “retrato” do festival e dos seus intervenientes – para criar uma espécie de poema gráfico sobre a convergência de mundos narrativos paralelos, os quais espelham os intervenientes.

29 de abril de 2023

Anguesângue. Daniel Lima (Chili Com Carne)

Vou fazer três coisas durante esta apresentação.*

A primeira é irritante, que é falar da minha própria tarefa, mais do que do livro em si. Só aos poucos nos aproximaremos da sombra de Anguesângue. Não subiremos ao seu cume, pois estou preso nas lamas cá em baixo. Para isso, terão de ter paciência, talvez recompense.

A segunda é estranha, que é chamar o Daniel Lima de alpinista, e um alpinista ao avesso. Para isso, terão de calçar botas de montanha.

A terceira é chamar-vos a atenção de que Anguesângue pode ser antes, não um livro, mas um espelho, e um espelho que devolve algo que possivelmente preferíamos não ver devolvido. Para isso, serão temerários.

Isto não é uma parábola, mas desenharemos uma curva parabólica.

12 de abril de 2023

Mar Negro. Ana Pessoa e Bernardo Carvalho (Planeta Tangerina)

O novo livro e parceria entre Pessoa e Carvalho retoma alguns dos ingredientes básicos de Desvio, mas relança-os de um modo distinto. Também aqui temos uma história concentrada num período curto, o “fim do Verão”, que em si mesmo serve de sinal a uma transição temporal a vários títulos. Também temos, como protagonistas, naturalmente, adolescentes, na recta final e difícil da primeira idade adulta, cujo cruzamento os obriga a procurar, através de acções e de diálogo, o que existirá em comum que os aproxime de alguma maneira, e o que essa mesma aproximação dirá de forma a acentuar e consolidar as suas próprias individualidades.

29 de março de 2023

3 Graus de Carequice - Episódio 70 - ÓSCARES 2023


Quem não tem nada para falar, fala p'raí. Como se não tivesse bastado a conversa ininteligível sobre o Tenet e depois a algaraviada sobre o Decisão de Partir, eis que nos pomos a esmiufrar todos os Óscares deste ano e mais um par de botas. A ocasião era falar de The Whale e de Ice Merchants, mas perdemo-nos na estrada da Bobadela. Bem-hajam, por ouvirem.

28 de fevereiro de 2023

3 Graus de Carequice - Episódio 69 - PET PEEVES


E pronto. Chegámos ao fim. Ao fim da macacad... da carequice. Sem tema, sem energia, lá nos reduzimos a três marretas a queixarem-se de uma série de maleitas. É a idade. Começámos por falar de "mitos", mas são queixas, e depois lá me lembrei que o Domingos Isabelinho já lhes chamava "pet peeves". Ora, arejemos as nossas.

2 de fevereiro de 2023

3 Graus de Carequice - Episódio 68 - DECISÃO DE PARTIR


Este episódio, mais moroso mas igualmente mais interrompido e incompetente tecnicamente, é dedicado a um filme. "Decisão de partir", de Park Chan-Wook (2022). Mais uma vez, oportunidade para falarmos de cinema, narratividade, construções emotivas e os melhores momentos para se usarem luvas de malha de aço. Não passamos da cepa torta.

24 de janeiro de 2023

The End of Madoka Machina. André Pereira (Massacre)

Provavelmente será o proverbial “fugir com o rabo à seringa”, mas uma vez que havia discutido este título anteriormente, sob forma de série, sinto-me perfeitamente no direito de me abster de considerações mais alargadas sobre o “conteúdo” deste volume. Falámos de Madoka Machina mal foi lançada no final de 2015, alertando sobretudo para os modos formais e heteróclitos com que se propunha contar a história, e depois no seutérmino, em 2018, já nos abalizando das formas como aborda assuntos das relações entre labor e capitalismo, a (falsa) desmaterialização dos meios digitais e a sacralização/tribalização da sociedade pelas suas inscrições sociais. Este volume, intitulado The End of Madoka Machina, colige todos os seis números originais dos comics, então publicados pela Polvo, com algumas alterações cosméticas, textuais e de menor monta sobre o material édito, e agrega-lhe a curta que havia saído na colectiva All Watched Over By Machines of Loving Grace, sobre a qual conduzimos uma entrevista com os editores, e ainda mais umas 30 e tal páginas inéditas, intercaladas ao longo da narrativa. E ainda contém um largo posfácio do autor, que se reveste de uma importância crítica substancial, já que tem laivos de ensaio e reflexão sobre a própria matéria abordada no livro. Nesse texto, explicam-se raízes, influências, contextos, escolhas, progressos e retrocessos.

21 de janeiro de 2023

Ex-Votos para o século XXI. Miguel Carneiro (Matrijarsija)

O termo “ex-voto” é a versão coloquial, objectificada, de uma expressão latina mais longa: ex voto suscepto, “em busca de um voto”. Esta última palavra descende de votum, que pode ser interpretada como “aquilo que é prometido”, usualmente a uma figura divina, em benesse de algo que se procura adquirir, ou como gratulação de algo já alcançado. É portanto um movimento paradoxal, centrífugo e centrípeto, de dar e receber, para fora e para dentro, estabelecendo um elo, uma liga, uma ligação (uma religião) entre aquele que pede e a entidade a quem é pedido. Acto solene, mescla dádiva e desejo. Se num momento poderia estar associado a um acto verbal – ode, dedicação, prece, canto –, estes votos ganhariam corpo material sob as mais diversas formas em objectos tornados ex-votos. Estes não têm necessariamente que surgir ou “nascer” como tal, podendo ser capturados do mundo ordinário e transformados, ou ressignificados, através da dedicação e/ou sacrifício dele mesmo à divindade em questão. Existem, todavia, objectos materiais criados como tal.