20 de janeiro de 2020

Toutinegra. André Oliveira e Bernardo Majer (Polvo)

A noção da é profundamente distinta da do conhecimento. A oposição pistis e gnosis é um pilar histórico no crescimento da filosofia da igreja cristã, e se ambos os conceitos indicam uma aceitação de ua lição como verdadeira, os modos de aceder a essa verdade são diferentes, distinguindo-se uma dimensão emotiva de uma outra racional. 


A razão pela qual arrolamos essa discussão filosófica, ainda que não a aprofundemos, é porque nos parece estar subjacente, de forma inconsciente, na matéria debatida pela intriga de Toutinegra, o mais recente livro escrito por André Oliveira, desenhado por Bernado Majer. Penso que não será ofensivo para com o artista assumir que este é um volume que à continuidade a muitas das preocupações e assinaturas temáticas de Oliveira, mas que queiramos acreditar que existirá aqui frutos de discussões entre os dois autores e contrintuso equilibrados. Um dos recorrentes temas do argumentista é a importância da dinâmica familiar, seja esta composta por que elementos forem. E é quando essa unidade social se rompe, está à beira da ruptura ou numa tensão significativa, que as suas narrativas se tecem. Oliveira encontra aqui uma maneira naturalista de escrever os diálogos, que com pouco caracterizam de forma magistral as relações entre as personagens e as suas inscrições sociais. (Mais)

17 de janeiro de 2020

Parícutin. Gonçalo Duarte (Chili Com Carne)


Pequena obra de estreia do jovem autor para além da sua produção fanzinística, Parícutin é um objecto invulgar e que dificilmente se poderá categorizar. Depois dos vários trabalhos curtos pela Lobijovem, Dor de Cotovelo e vários títulos colectivos da Chili Com Carne, Gonçalo Duarte aventura-se numa narrativa mais alargada, cuja coesão se encontrará mais numa veia poética e impressionista do que propriamente pela organização de elementos concretos e cartografáveis. (Mais)

5 de janeiro de 2020

Blake & Mortimer: Le Dernier Pharaon. François Schuiten, Thomas Gunzig, Jaco Van Dormael e Laurent Durieux (Blake et Mortimer)


Confessemos que não somos alheios a todo um complexo de nostalgia, que muitas vezes suspende a razão, a aprendizagem e o desenvolvimento dos conhecimentos, e se prende tão-somente a memórias de um tempo diverso, protegido, de regressão infantil, no qual apenas os prazeres epidérmicos e imediatos contavam. A banda desenhada, sendo uma linguagem ou forma artística cuja presença era garantida desde um primeiro momento, teve um papel absoluta e naturalmente fundamental. Ora, dessas leituras primárias, existirão muitos textos que foram sendo abandonados, esquecidos ou apagados precisamente pela maturação cultural e intelectual, mas outros deixaram os seus fantasmas. E a série Blake & Mortimer faz parte do pequeno grupo de fantasmas que sobrevivem. (Mais)