30 de julho de 2023

O mangusto. Joana Mosi (Comic Heart/A Seita)

Por mais que Júlia, a protagonista deste livro, insista e google, o mangusto não é um mamífero da família dos herpestidae, ordem dos carnívoros, cujo habitat se espalha por várias zonas temperadas e tropicais do planeta, e que em particular na Península Ibérica podem representar uma peste e dor-de-cabeça para criadores de galináceos ou pequenos agricultores. Os mais populares “saca-rabos” têm uma vida perene e consequente em Portugal, fora das zonas mais urbanas, mas o mangusto é de uma outra ordem de existência na vida de Júlia. Não é que ela não o saiba. Mas Júlia move-se numa proverbial “fuga para a frente” para que essa mesma consciência não a alcance.

28 de julho de 2023

Sonhonauta. Shun Izumi (Conrad)

Este é um projecto narrativa, temática e simbolicamente ambicioso. Com mais de 300 páginas, com uma trama densa, Sonhonauta recupera um tema antigo da literatura ocidental (e outras), com novas roupagens gráficas, para nos ofertar uma obra que revela mais do seu autor do que de uma centralidade da própria história. Originalment
e publicada online, cuja estrutura episódica se mantém visível em mais que um nível, a sua publicação em papel vem confirmar uma ideia constante – a de que muitos ditos “webcomics” necessitam ainda da cultura do impresso para uma mais longa e substanciada sobrevivência –, além de que uma leitura completa pode insuflar uma dinâmica distinta daquela que os leitores de então experimentaram. 

26 de julho de 2023

Porra... voltei! Álvaro (Insonia)

A fantasia central não é nova. Jesus Cristo, que os cristãos acreditam ser o Messias, Filho de Deus, e sacrifício pelos nossos pecados, não está morto, pois ressuscitou, mas na Ascensão deixou de pertencer ao plano terreno e o seu regresso fica prometido, no momento de maior justiça sobre a Terra. Mas são aqueles outros, menos crentes e fiéis de igrejas em particular, inclusive ateus, que testemunhando a iniquidade das próprias instituições religiosas, nutrem os sonhos, de tantas variações, de que, regressasse o Cristo, ele voltaria a expulsar os vendilhões do Templo, e descobrir-se-ia então que eram as próprias igrejas os saduceus a serem castigados. No fundo, são como os antigos “Tementes a Deus”, os quais, não participando dos rituais ou de certas pertenças comportamentais-culturais daqueles inscritos formalmente na religião, sentiam um profundo apreço e interesse pelo entendimento de que os ensinamentos de Cristo, e o amor paternal de Deus, poderiam ser distribuídos livre, universal e desinteressadamente.

14 de julho de 2023

Louca-A-Deus. Miguel Carneiro (Oficina Arara/Gabinete Paratextual)

Depois de termos falado dos ex-votos de Miguel Carneiro numa ocasião anterior, eis que nos chega às mãos uma colecção de outros tantos contributos a essa tipologia imagética, pelo mesmo autor, numa estratégia diferente. Este é um conjunto do que poderemos chamar de oito “postais”, os quais imaginaremos poderiam ser colocados num lugar propício e dedicado nas nossas casas, junto à estatueta do Santo Padre Cruz, um crucifixo de plástico ou num plinto decorado com uma renda macramé com o cálice ou a hóstia sacramental. Para além do formato da impressão, a diferença está na feitura das imagens, que utiliza a colagem, relativamente simples, no sentido em procurar menos um efeito de ilusão realista do que uma forte impressão gráfica de sobreposição simbolicamente verosímil, para as quais as cores, por vezes berrantes, e a qualidade de impressão, granulosa, contribui sobremaneira.

Rui Cardoso Martins sobre "Como flutuam as pedras", de Pedro Moura e Joã...


A propósito do lançamento em Lisboa de Como Flutuam as Pedras, romance gráfico de Pedro Moura e João Sequeira (A Seita/montesinos: 2023), o escritor Rui Cardoso Martins deu-nos a honra de um pequeno depoimento por vídeo. Tínhamos previsto um encontro presencial na livraria Palavra de Viajante, em Lisboa, no dia 15 de Julho, mas por força das circunstâncias isso não se tornou possível, daí o vídeo. Os nossos agradecimentos ao Rui e à Palavra de Viajante, pela simpatia e amizade.