20 de fevereiro de 2019

Adeus, Geraldes Lino.


É com imenso pesar e choque que fico a saber da morte do amigo Geraldes Lino. A ideia de um "amigo pela bd" poderá ser estranha, mas todos os que com ele se cruzaram sabem que estes elogios não são em vão. De uma maneira ou outra, muitos sabem que ele foi cicerone a tanta, tanta gente, fossem aspirantes a artista ou fossem intensos leitores.

Não fui amigo íntimo do Lino. É verdade. Mas muitos sabem que mesmo não sendo amigos íntimos, quando se falava com ele, era como se fosse.

Deve ter sido no final dos anos 1980 que me cruzei com o Geraldes Lino pela primeira vez, ainda eu não fizera 20 aninhos, dando-me as boas vindas a exposições no Palácio da Independência. Eu era tímido e não conhecia ninguém. Era apenas um puto que gostava de bêdê. Demoraria algum tempo a conhecer o meio. Mas sempre teve uma boa palavra, uma dica para onde encontrar coisas raras, a loja certa. Em 1994, organizou um encontro com o Will Eisner na Amadora, e entraram algumas poucas pessoas numa sala. Por alguma razão, eu sentei-me a essa mesa, mas caladinho que nem um rato.

Depois lá fui aprendendo, conhecendo pessoas, escrevendo. E o Lino sempre a apoiar, a relembrar uma referência, a partilhar um contacto. Sempre nos tratámos pela terceira pessoa. Sou de trato fácil, entro logo no “tu”. Mas com o Geraldes, havia sempre uma ideia de que era necessária deferência. Os que o conhecem sabem que é mentira, não era preciso. Mas era assim connosco. Falávamos com franqueza, por vezes combatíamos ideias distintas, mas sempre com amizade e rigor. E deu-me tanta coisa. Material, também, nas poucas vezes que fui à tertúlia, e noutras ocasiões. Mas sobretudo noutras dimensões. O que é que eu terei feito, ao longo destes anos, que não tivesse tido algum apoio, ajuda directa, um ouvido atento, no Lino? Eu digo-vos: nada. Mesmo que não falasse directamente com ele, mesmo que não tivesse oportunidade de lhe perguntar, escutava-lhe a voz roufenha, “Ó, Ó Pedro Moura, não seja assim! Já quando o vi na Bedeteca lhe tinha dito...”

O Geraldes Lino era um daqueles “leitores ideais” que estava sempre na minha mente.
Sabem que mais? Não vai deixar de o estar.

16 de fevereiro de 2019

Participação em "Todas as Palavras"


Olá a todo@s.

Serve o presente post para vos informar que esta manhã, às 10h00, na RTP3, no programa Todas as Palavras, de Inês Fonseca Santos, participarei numa curta conversa, focando-nos em Os Regressos, co-autorado com Marta Teives. Disponível posteriormente no RTP Play.
Agradecimentos à Inês Fonseca Santos, pelo convite, que muito nos honra. 

1 de fevereiro de 2019

Estamos todas bien. Ana Penyas (Salamandra)


Vivemos num tempo em que, afortunadamente, se discutem muitas questões de representação e sub-representação sócio-cultural, em todas as dimensões da esfera pública, na qual se destaca, por razões óbvias, textos de cariz artístico e produções da cultural popular. Mas se existem cada vez mais discursos permeáveis e reequilibrados em relação a toda uma série de categorias e sub-culturas, a velhice continua a ser uma espécie de tabu.

Velhos são os trapos, como se costuma dizer, e parece que passado um determinado limita, as pessoas deixam de ter préstimo, como se a acumulação das suas experiências não fossem, só por si, uma muito provável fonte frutífera de aprendizagem aos que se seguem, sejam essas experiências felizes ou infelizes, de glória ou infortúnio, boas ou más. A falta de diálogo intergeracional é, na verdade, uma das dimensões que caracteriza o ensimesmamento actual nas identidades, estas reduzidas aos seus mais superficiais traços, sem quaisquer auto-interrogações, dúvidas ou gestos de aproximação a outras esferas. (Mais)