27 de fevereiro de 2014

La bédé-réalité. Julie Delporte (Colosse)

Este pequenino livro é a adaptação da tese de mestrado da autora, em História da Arte e Estudos Cinematográficos, sendo Delporte igualmente artista de banda desenhada, tendo publicado uma espécie de diário “solto” no seu blog, Le Dernier kilomètre, e, mais recentemente, pela Koyama, no ano de 2013, um colorido e livre Journal

Querendo apenas fazer uma breve apresentação do volume e contestar uma sua metodologia, seremos relativamente breves. O advento de toda uma série de ferramentas e plataformas digitais implicaram, desde logo (e como em qualquer momento de novo advento tecnológico, da escrita à imprensa, passando pelo rádio e cinema), um processo de remediação. A autora emprega este conceito de modo directo, a partir de uma famosa obra de J. D. Bolter e R. Grusin, Remediation: Understanding New Media, no qual os autores formulam esse novo conceito, ou uma nova maneira de entender um conceito herdado de McLuhan como “a lógica formal através da qual novas tecnologias mediáticas refabricam formas mediáticas anteriores”. Isso permite uma análise de qualquer nova tecnologia a partir da perspectiva de entender como é que ela negoceia uma qualquer forma anterior. No caso presente, esse é desde logo um problema de partida. A autora não é suficientemente flexível na consideração das categorias que indica e pretende analisar, criando, por um lado, considerações de géneros literários (a “autobiografia”), e por outro, de suportes tecnológicos (“álbum”, “graphic novel”, “blog”, etc.). Ainda que a autora compreenda que não segue uma ideia desincorporada de “conteúdos” e “formas”, ainda assim ela acaba por abrir espaço a alguns mal-entendidos nesse sentido. (Mais) 

25 de fevereiro de 2014

Dois títulos. Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso/Bernardo Carvalho (Planeta Tangerina)

A magnífica e regular produção de livros desta editora impede-nos de fazer uma leitura igualmente regular a atenciosa dos seus livros. Na verdade, a excelência material dos volumes, a plena liberdade criativa a que a pequena constelação de autores se entrega, a variedade de instrumentos narrativos, imagéticos, técnicos que perseguem, e acima de tudo, a verdadeira exploração profunda de uma liberdade humana e de temas torna esta uma plataforma não apenas digna de ser lida pelo mais vasto público possível, sobretudo o primeiríssimo, o infantil (dentro daquela noção da “dieta correcta de leitura” de que já havíamos falado), como por qualquer disciplina que se preze atenta à cultura visual, às relações texto-imagem, à própria ideia de ilustração, literatura infantil, etc. (Mais) 

23 de fevereiro de 2014

Iron: Or, the War After. Shane-Michael Vidaurri (Archaia)

Na cada vez mais diversa economia de géneros contemporânea, sobretudo na banda desenhada norte-americana, é por vezes uma acção complexa compreender até que medida um qualquer gesto aparentemente consensual e vulgar pode esconder desenvolvimentos inusitados e surpreendentes, ou até que ponto é que algo que visualmente possa parecer sofisticado na verdade apenas pressupõe um efeito superficial de um gesto mais banal. Estamos em crer que Iron: Or, The War After pertencerá ao segundo grupo.

O livro lança-nos de imediato no interior de uma confluência de géneros, por um lado um género narrativo, o da histórias de guerra, espionagem e traição, e os preços “humanos” a pagar nesse conflito, por outro um de género-estilo, uma vez que temos animais antropomorfizados no centro das acções. Mas se não cremos na equação separável de uma forma e de um conteúdo, este é um daqueles casos em que a conjunção não funciona, a um grau tal que mostra a distância entre uma e outro. (Mais) 

21 de fevereiro de 2014

Zoom. Istvan Banyai (Kalandraka).

Esta é uma daquelas instâncias em que a abdicação da narrativa não significa uma falha na possibilidade de construção de mundos ficcionais, ou de um texto capaz de criar elos empáticos muito fortes com os seus leitores. Sobretudo pela sua qualidade lúdica, de surpresa, jogos de expectativas, mas também pela sua qualidade gráfica muito vincada, Zoom é um livro eficaz no seu propósito de divertimento. (Mais) 

16 de fevereiro de 2014

How to Look. Ad Reinhardt (David Zwirner/Hatje Cantz)

Em 1990, o MoMA apresentou uma exposição comissariada por Kurt Varnadoe, um dos curadores de pintura do museu, e Adam Gopnik, jornalista e crítico de arte (e estudante de Varnadoe) da The New Yorker. Essa exposição visava explorar alguns dos modos de comunicação entre as “belas artes” e as suas supostas fontes populares ou idiolectos demóticos, desde os cartoons dos jornais aos graffiti. Essa exposição chamava-se High & Low, Modern Art and Popular Culture, deu origem a um livro monumental e ainda hoje precioso, mas ao mesmo tempo criou toda uma série de controvérsias, mal-entendidos e até mesmo um posicionamento demasiado polarizado (começando pela assunção da designação “high” e “low”), sendo atacada quer do lado dos conservadores da sublime estese quer pelos praticantes da viva diversidade das artes “baixas”. Um desses praticantes foi Art Spiegelman, que criou uma pequena peça, chamada “High Art Lowdown,” que servia de comentário, ou mesmo crítica (review) sob a forma de banda desenhada, publicada na revista Artforum(Mais) 

9 de fevereiro de 2014

Dois livros. André Diniz (Desiderata)

A capacidade de produção de André Diniz – assim como a sua possibilidade de edição – não podem deixar de ser fruto de admiração. Em vários domínios, de álbuns infanto-juvenis ilustrados, com mais ou menos propósitos pedagógicos ou de entretenimento, de livros de banda desenhada com temáticas ficcionadas ou exploratórias de um qualquer grau do real histórico do Brasil, em colaborações diversas ou na pesquisa própria do seu trabalho visual, Diniz procura diversificar os seus gestos criativos. Os dois livros que nos trazem ao presente texto são tão diversos entre si como comungam de um tema comum, ou assim nos parece.

Trabalhos a solo, ambos coloridos, com um mesmo formato, Homem de Neandertal e Z de Zelito parecem apenas ter essas características superficiais comuns, uma vez que o primeiro se trata de uma novela mais ou menos concentrada num pequeno grupo de personagens (uma tribo de Neandartais e os breves cruzamentos com outra tribo de Homo Sapiens) e a segunda, ancorada na história do Brasil moderno, espraia-se num retrato social mais complexo. O primeiro é “mudo”, e o segundo usa de basto diálogo e narração. O primeiro parte de uma matéria de grande especulação – a origem da arte, as relações entre as duas espécies de humanóide -, e a segunda tem uma forte inscrição na história.  (Mais) 

7 de fevereiro de 2014

A Kick in the Eye. AAVV (auto-edição)

Este projecto nasceu da vontade de Tim Gaze, de quem já havíamos falado a propósito do seu 100 Scenes, mas vem juntar um conjunto de outros autores, da poesia visual, narrativa experimental, escrita assémica ou outros territórios contíguos, criando-se uma pequena constelação que contribuiu para um “texto” colectivo e colaborativo. Esses autores são, para além de Gaze, Rosaire Appel, Tony Burhouse, Marco Giovenale, Gareth A Hopkins, Satu Kaikkonen, Gary J Shipley, Christopher Skinner, Lin Tarczynski, Orchid Tierney, Sergio Uzal e Nico Vassilakis (que deverão reconhecer como um dos editores de The Last Vispo Anthology). (Mais) 

5 de fevereiro de 2014

Duas peças no The Lisbon Studio Mag #5.

Na continuidade da nossa colaboração com o The Lisbon Studio Mag, gostaríamos de anunciar que já saiu o número 5 dessa publicação online, que conta com dois contributos nossos.

O primeiro é um exercício oulipiano ilustrado por Noémia Neres, e o segundo é uma espécie de sword-and-fantasy com Sérgio Sequeira, e que poderá vir a ser parte de algo ligeiramente maior.

Leiam directamente aqui.

Os nossos sentidos agradecimentos aos editores do TLSMag, assim como à disponibilidade (e paciência) dos artistas.

3 de fevereiro de 2014

978. Pascal Matthey (La cinquième couche)


Pascal Matthey é um autor irrequieto, que não deseja ficar confinado a apenas um território da banda desenhada, experimentando vários caminhos, alguns dos quais podem ser, até certo ponto, entendidos como convencionais e regrados por expectativas mais naturais, como no caso do seu semi-autobiográfico Pascal est enfoncé, mas com muitas linhas de pesquisa gráfica que poderiam ser entendidos como experimentais, como no caso dos trabalhos não assinados no seu fanzine Soap(Mais) 

1 de fevereiro de 2014

Best of 2013: para Paul Gravett.

Como nos anos anteriores, repetimos a experiência (evitada noutras circunstâncias) de participar na lista internacional de Paul Gravett. As desculpas e contextualizações costumeiras repetem-se, servindo as listas para o que for.

Consultem aqui.