Este novo projecto de Juscelino Neco
partilha muitos elementos comuns com o seu anterior Parafusos,zumbis e monstros do espaço, na medida em que a acção se
desenvolve em torno de princípios de abandono em episódios de uma
grande violência física, mortandade e cinismo, mas de tal forma
exagerado que não é propriamente o terror o efeito que se
desenvolve no leitor. Todavia, estamos algo afastados da leveza e
humor desse outro livro, encontrando-se em Matadouro de unicórnios
um tom mais grave. Não nos enganemos, o cinismo está lá, e em
grande medida todo o livro é uma espécie de gozo directo com várias
modas e tendências de alguma cultura popular, mas ao mesmo
tempo busca-se seriedade nesse tratamento. (Mais)
30 de setembro de 2016
Matadouro de unicórnios. Juscelino Neco (Veneta)
Publicada por Pedro Moura à(s) 3:24 da tarde 0 comentários
Etiquetas: Brasil
27 de setembro de 2016
Afrodite, quadrinhos eróticos. Alice Ruiz, Paulo Leminski et al. (Veneta)
Esta é uma antologia de várias
histórias curtas que foram criadas ao longo dos últimos anos da
década de 1970, no Brasil, numa série de revistas mais ou menos
irmanadas num mesmo selo editorial (a Grafipar, de Curitiba), e que
haviam sido criadas por ímpeto e trabalho da dupla de argumentistas
que se encontram na capa. Quer Ruiz e Leminski são respeitáveis
escritores, poetas e agentes da cena intelectual brasileira do tempo
da ditadura e, como oficiais da palavra, lavraram-na para as mais
diversas disciplinas. Ora, é no seio da vida diária e alimentícia,
digamos assim, que Ruiz se viu envolvida em algumas das novas
revistas que pretendiam abrir novos caminhos feministas por entre as
publicações da época. Por instância do autor Cláudio Seto, ogrande “samurai” dos quadrinhos brasileiros, Ruiz começou a
escrever roteiros (eróticos e de terror para diversos projectos)
para pequenas bandas desenhadas, sendo seguida pelo seu companheiro e
vida e letras, Leminski, nessa tarefa. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 4:45 da tarde 0 comentários
Etiquetas: Brasil
16 de setembro de 2016
Ye. Guilherme Petreca (Veneta).
Este parece ser o maior livro do autor,
terceiro a solo. Ye é um volume que quer abraçar de forma
directa e concisa um género determinado, que englobará a fantasia,
a aventura clássica (no sentido de movimento do herói), todo um
percorrer por paisagens mais ou menos familiares por territórios
consabidos da banda desenhada, a fábula antiga e, quem sabe, um
entendimento contemporâneo de que não é sempre necessária a maior
gravidade para conseguir tecer uma narrativa com um contorno de
grande lição a um público mais jovem. Apesar da sua leveza,
mesmo no sentido de Italo Calvino, no sentido em que opõe ao peso da
vida a possibilidade de reflectir através de elementos oníricos e
imaginativos, Ye é um livro que dispõe das suas estratégias
expressivas da forma mais determinada e pensada possível. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 6:26 da tarde 0 comentários
Etiquetas: Brasil
14 de setembro de 2016
Carolina. Sirlene Barbosa e João Pinheiro (Veneta)
Este livro não tem como seus autores
somente a investigadora e argumentista Barbosa e o artista Pinheiro.
Sendo um livro que coloca a vida e a obra da escritora Carolina Maria
de Jesus na superfície de um novo papel, conta em primeiro lugar com
a autoria dela mesma, mas também de todos os factores que foram
necessários para que a sua obra se formasse e ganhasse corpo
público, sobretudo com o seu primeiro livro, Quarto de despejo,
lançado em 1960 com projecção e sucesso nacional e, depois,
internacional. A um só tempo biografia, exploração das condições
de produção e auscultação da literatura de Carolina, o livro em
si é uma pesquisa, (re)descoberta e interrogação, assim como uma
possibilidade de colocar novas perguntas no tempo presente. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 6:32 da tarde 2 comentários
Etiquetas: Brasil
9 de setembro de 2016
Sequência mínima: exposição de Filipe Abranches (e texto)
É amanhã a vernissage de uma exposição de desenhos de Filipe Abranches, todos eles provenientes de projectos de banda desenhada, alguns deles "completos", outros "fatiados" de algo maior.
Fomos convidados a escrever um texto que acompanhasse essa exposição, apanhado quase superficial de algumas reflexões debatidas e partilhadas com o autor, de quem somos colegas enquanto docentes e parceiros em projectos criativos, e que de certa forma teriam levado à selecção e baptismo desta mostra.
Apresentamo-lo aqui, com algumas alterações de pouca monta, apenas com o intuito de prendre date, uma vez que não terá o valor que poderia ter caso fosse reforçado com os instrumentos de maior precisão académica que estão ausentes. (Mais)
Fomos convidados a escrever um texto que acompanhasse essa exposição, apanhado quase superficial de algumas reflexões debatidas e partilhadas com o autor, de quem somos colegas enquanto docentes e parceiros em projectos criativos, e que de certa forma teriam levado à selecção e baptismo desta mostra.
Apresentamo-lo aqui, com algumas alterações de pouca monta, apenas com o intuito de prendre date, uma vez que não terá o valor que poderia ter caso fosse reforçado com os instrumentos de maior precisão académica que estão ausentes. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 10:57 da manhã 0 comentários
Etiquetas: Academia, Colaborações, Exposições
8 de setembro de 2016
Hinário Nacional. Marcello Quintanilha (Veneta)
Os leitores de Tungsténio e de
Talco de Vidro encontrarão neste novo pequeno volume um
exercício de contenção em termos de diegese, mas não de
intensidade. Os anteriores livros estariam próximos do género
literário da novela, ou do romance até, sobretudo pela sofisticação
e complexa rede que estabeleciam
entre as linhas temporais e a as percepções, sensações e vida
íntima das personagens. Hinário Nacional apresenta
seis histórias, quase todas curtas (apenas uma passando largamente
das 20 páginas), logo, necessariamente reduzidas em termos de
eventos relatados, número de personagens, intervalo temporal,
espaços, etc. Mas nada disso significa que muitas das outras
características que tornam o trabalho de Quintanilha intenso estejam
ausentes. Aliás, há antes uma espécie de transformação maximal
dessas mesmas características em tão curtas histórias. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 11:19 da manhã 0 comentários
Etiquetas: Brasil
2 de setembro de 2016
Topografias. AAVV (Piqui)
Se há pouco mencionámos, de passagem,
a discussão desencadeada pela ausência de mais nomes femininos da
antologia de banda desenhada contemporânea brasileira, eis uma
publicação, já deste ano, que demonstra a capacidade organizativa
de um colectivo feminino. É verdade que se se tratasse de uma
publicação em que todos os autores fossem homens, à partida
tratar-se-ia desse título tão-somente como tal, e não pautado por
quaisquer características que se soltassem do seu sexo (a menos que
mergulhassem de forma directa e sublinhada dessa mesma
circunstância). O mesmo não ocorre de forma gratuita ou forçada
com publicações “de mulheres”, mas a verdade é que aqueles
títulos caracterizados por essa circunstância as mais das vezes
demonstram elementos que se revelam claros nas suas intenções de
identidade sexual, política e de diferenciação contra uma certa
visão hegemónica e normativa. Se nos recordarmos de algumas
experiências portuguesas, desde Weavers of Speech a Rata,
encontraremos experiências análogas em que a oportunidade de
publicar em ensemble leva a que se sublinhem essas tais
características, mas sem jamais as arvorar de forma reificadora ou
absoluta. Haverá outros momentos de junção de autoras de banda
desenhada, mas onde essas características não ganham essa
proeminência, como é o caso de Allgirlz ou QDCA, o
que bem ao contrário de um problema é uma conquista. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 3:29 da tarde 0 comentários
Etiquetas: Antologias, Brasil
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