9 de setembro de 2018

Livro sagrado. Santo (Edições Milagre)


Esta pequena edição de autor reúne toda uma série de histórias curtas que estão associadas entre si por uma vontade comum, a de alcançar e transformar, através de várias estratégias, um fundo dos contos e tradições folclóricas portuguesas – o que não impede de arrolar a literatura, com Alexandre Herculano, Jorge de Sena e Zeca Afonso –, com várias roupagens. Tendo acompanhado o trabalho do autor há muitos anos, desde os seus primeiros trabalhos em fanzines no final dos anos 1990, fomos acompanhando estes trabalhos à medida que foram surgindo, inclusive tendo nós próprios colaborado, tendo incluído uma das histórias (“A Dama Pé de Cabra”), em inglês e a duas cores, na nossa própria publicação Quireward. (Mais)

6 de setembro de 2018

Jardim dos Espectros. Fábio Veras (Escorpião Azul)

Há 20 anos sucedeu algo nas paragens de Núvia que amaldiçoaria os seus jardins. Um segredo, talvez, cuja insatisfatória conclusão lançaria um fel venenoso que transformaria a terra numa sombra fraca de si mesma, azedando tudo à sua volta, desde a vida dos vivos até mesmo ao descanso dos mortos. Tornando-se um famoso enigma nestas terras, Núvia parece ter passado a ser um desafio àqueles que se julgam capazes de o desvendar, aspirante a Édipo. Porém, ao contrário deste, sem ter pago o óbulo de um verdadeiro sentimento de perda e desenraizamento, terão falhado essa suposta “missão”, deixando o caminho aberto sempre para quem de direito. Este livro abre-se para o dia em que quem de direito finalmente atinge os limites dos jardins de Núvia, disposto a atravessá-los, para buscar o seu coração e, talvez, feri-lo de morte. (Mais) 

4 de setembro de 2018

Dragomante: Fogo de Dragão. Filipe Faria e Manuel Morgado (Comic Heart/G. Floy)


Há algo de libertador quando somos confrontados com um objecto cuja clareza é patente e genuína. Uma capa apelativa, clara nos seus propósitos, apresentando objectos cujo sentidos não exigem uma interpretação secundária, mas vivem quase de uma presença denotativa absoluta. Uma mulher guerreira, ostentando duas espadas longas, seguras de forma marcante, com uma armadura total e, junto a si, um imenso dragão, de dentes de diamante, ameaçando os seus inimigos fora de campo. Uma única palavra como título, concentrado e icónico, com um sub-título que pouco parece adiantar à promessa feita já por tudo o resto. Sabemos o que nos espera. Aventura de género de alta-octanagem. (Mais)

2 de setembro de 2018

Cinco Mil Quilómetros por Segundo. Manuele Fior (Devir)


Como saberão os leitores deste espaço, a leitura é feita sobre livros lidos. Este é um local para leitores, não para promessas de leitores, pelo que não nos coibimos de tratar as narrativas pelos seus fins, resoluções ou enigmas desvendados. Não é que o livro de Manuele Fior se apresente como um enigma, ou algo oculto que se revele no fim, reescrevendo toda a narrativa tecida até esse momento, mas há um efeito de organização que permite criar uma história linear por sobre a história cronológica que se desenvolve por trechos isolados. Manuele Fior parte de um ponto de partida clássico, para não dizer cliché – o do triângulo amoroso – para o explodir pelo tempo, a vida real, o afastamento, formando uma pequena pérola de estrutura narrativa com os seus elementos. (Mais) 

1 de setembro de 2018

Pescadores de medianoche. Yoshihiro Tatsumi (Gallo Nero)


Entre 1972 e 1973, Tatsumi criou cem histórias curtas, oscilando entre as 15 e as 20 e poucas páginas para uma panóplia de revistas diferentes, cada qual com o seu espectro de géneros, atitudes sociais, e níveis de maturidade. Logo à partida, essa mera informação aponta para o tipo de entrega assombrosa à sua arte, impulsionada sem dúvida por uma ética e desejo artístico, mas igualmente por necessidade, como os leitores de A Drifting Life poderão facilmente contextualizar. Todavia, mais importante é parecer-nos que o autor se mantinha numa mesma veia nessas mesmas diferentes histórias, que o tornara afinal o pai da gekiga, ou uma tendência de empregar a banda desenhada num tom mais atento à realidade do Japão seu contemporâneo. Mesmo que não abandonasse algumas estruturas de géneros – o policial, a ficção científica, a narrativa histórica, o conto tradicional (estes últimos agregados num volume me inglês, Fallen Words) –, elas seriam empregues não para a titilação mais comum desse mesmo género, mas para desvendarem um desses cantos obscuros que o país, na sua senda de desenvolvimento material do pós-guerra, quereria esquecer ou pelo menos não revelar à luz do dia. (Mais)