17 de abril de 2024

O ofício dos ossos. Miguel Carneiro (Magma Bruta)

Esta nova publicação do autor vem directamente na esteira dos Ex-votos para o século XXI, para cujo texto remeto, por força desta nova leva de desenhos ser uma variação daqueles temas e, consequentemente, também as nossas palavras se poderem dedicar a variações. Essa irmandade é mais que natural, uma vez que o “fundo” empregue são uma série de pinturas desenvolvidas por Miguel Carneiro entre 2020 e 2023, e que aqui ganham corpo através das alquimias de risografia exploradas pelo estúdio Magma Bruta.

Algumas imagens, e os anexins ou legendas que as acompanham, repetem-se, enquanto outros elementos ou são inéditos ou não haviam encontrando ainda oportunidade de companheirismo nas páginas. Todavia, as variações e recombinações a que se entregam aqui ganham uma nova roupagem, dada as vivíssimas cores com que surgem, brilhantes vivas, eléctricas, quase psicadélicas. Assim, os esqueletos, diabos, funerais, a Morte, aranhas e escorpiões vêm criar novas procissões macabras e humoradas, recordando como face á transitoriedade e ao destino mais certeiro, mais vale um abandono hedonista no sarcasmo. Existem também algumas imagens mostrando bruxas e banquetes, num registo mais solto, de desenho a traço célere, e com uma maior densidade de dramatismo ou narrativa, que podem criar uma espécie de contexto novelesco às outras imagens mais icónicas (os tais ex-votos). Até certo ponto, portanto, poderíamos tentar adivinhar uma espécie de drama familiar, um romance de antanho, de um mundo ruralmente desértico, habitado por avantesmas e o medo do dianho, mas no qual a morte, quando surge, vem bêbada, e há-de enganar-se na sua missão.

11 de abril de 2024

Entrevista em As Leituras do Pedro.


Serve este post para vos indicar a entrevista do Pedro Cleto, a propósito do Sermão, que adaptei com o Bernardo Majer. Aqui.

10 de abril de 2024

Bandas Desenhadas: Lupin III: O Castelo de Cagliostro, de Myazaki


Fui convidado a estrear a nova cópia remasterizada do filme de animação Lupin III: O Castelo de Cagliostro, a primeira longa-metragem realizada e escrita por Hideo Miyazaki, de 1979. O convite foi-me estendido pelo site Bandas Desenhadas, para quem escrevi uma resenha. Podem aceder a ela aqui.

8 de abril de 2024

Mukanda Tiodora. Marcelo D'Salete (Veneta)


O título, como está, poderia ser traduzido para “português contemporâneo”, ou normativo, de “cartas escritas por Tiodora”. Poderia. Mas ao fazê-lo estar-se-ia precisamente a “normalizar” para uma mesmidade que apagaria em larga medida os traços individuais, culturais e, por isso, politicamente significativos, daquilo que o título escolhido por D'Salete quer construir em nós. Dando uso às suas pesquisas e aplicação do fundo linguístico que preside à historicização da identidade de descendência africana no Brasil, o autor recupera e reintensifica o termo bantu “mukanda” que, como se explica no dicionário Kimbundu-Português, de A. de Assis Junior, já empregue em projectos anteriores (Cumbe e AngolaJanga), significa “missiva” ou “carta”. As cartas de Tiodora são o fundo atravessado do qual emerge a narrativa deste livro.

4 de abril de 2024

Buala: El Cielo en la Cabeza. António Altarriba e Sergio García (Normal)


Serve o presente post para indicar a crítica a El Cielo en la Cabeza, último livro escrito por Antonio Altarriba, e que poderão ler no site da Buala, aqui. Agradecimentos à redação da publicação por albergarem o artigo.


19 de março de 2024

3 Graus de Carequice - Episódio 78 - CIÊNCIA


Neste programa, dedicámos algum tempo a debater alguns livros, projectos, textos que empregam a banda desenhada ao serviço da ciência, da sua comunicação, divulgação, ensino, ou debate. Categorias, especificidades, tentámos ser claros, mas é questionável a nossa metodologia, como sempre. Por razões técnicas, o careca Gabriel estancava na imagem, mas não na presença ou ideias.

18 de março de 2024

O Caminho do Oriente. Raul Correia e Edeardo Teixeira Coelho (Libri Impressi)

Mais uma vez, o trabalho de Manuel Caldas merece ser celebrado pela sua incansável dedicação ao restauro (literal) da arte de grandes autores de banda desenhada e (mais metafórico) da memória dessas mesmas obras nos nossos dias. Este post curto servirá apenas para alertar da edição d'O Caminho do Oriente, uma série que foi publicada na revista portuguesa de banda desenhada O Mosquito, um dos títulos mais importantes e de sucesso num tempo áureo, em termos comerciais, na sua primeira série. Surge agora em formato livro, em capa brochada, completa, ainda que num formato menor do que o original, dificultando para alguns leitores míopes (wink, wink) a sua leitura mais fluida. Mais, há aqui uma recepção muito pessoal, dado o trabalho em curso em torno da adaptação de Os Lusíadas para banda desenhada sob a minha responsabilidade. (Mais) 

8 de março de 2024

Fernando Pessoa para todas as Pessoas - "MENSAGEM"


Entrevista no programa de webrádio de Ricardo Belo de Morais​ , Fernando Pessoa para todas as pessoas, com a Susa Monteiro e comigo, a propósito da adaptação da Mensagem ( Levoir​ ). 

5 de março de 2024

Sunny, vols 1 e 2. Taiyo Matsumoto (Devir)

Há um livro bastante influente, da área das Ciências Sociais da Ciência e Tecnologia, de Sherry Turkle, que cunhou uma expressão, ou melhor, um descritivo de um determinado tipo de obectos, a que ela chamou “evocativos”. São estes objectos a que uma pessoa, de um modo quase singular, muito pessoal, mas perfeitamente familiar para quase todos nós, atribui uma tal significância cultural que espoletará respostas emocionais, de memórias ou reflexões particularmente fortes. Um papel, foto, bilhete, cartão que temos sempre na carteira, uma concha ou bugiganga qualquer que temos sempre connosco, um objecto foleiro que dispomos em casa, uma relíquia que estimamos. Seja o que for, esse objecto existe não apenas como âncora de algo do nosso passado, ou que reclamamos para nós, mas que se torna igualmente um veículo das nossas próprias (auto-)narrativas ou de conexões emocionais.

27 de fevereiro de 2024

3 Graus de Carequice - Episódio 78 - ESTANTES


Um programa sugerido por um dos nossos espectadores/ouvintes, falamos, de uma maneira menos controlada, sobre que livros desapareceram da nossa estante por os termos "emprestadado" a alguém, e que papel isso tem no nosso imaginário e forma de nos relacionarmos com as posses terrenas, para mais ditadas pela banda desenhada... Simples, né?