10 de abril de 2005

Gilgamesh. Gwen de Bonneval & Frantz Duchazeau (Poisson Pilote). Voltar à Grande Aventura 2.


As ligações entre textos pode ser feita da mais variadas maneiras: por autor, série, personagem, género... E porque não por colecção, quando é claro que essa colecção se constrói com um ou mais critérios relativamente visíveis? Quando falei em "Voltar à Grande Aventura" abaixo, e agora a ela retorno, é porque vejo aqui alguns princípios coordenativos das obras que se repetem. Mais uma vez, também aqui se revisita um bloco essencial da construção da Civilização Humana, que é o texto mais antigo da humanidade, a Epopeia de Gilgamesh (traduzida parcialmente em Portugal, ainda que não do original acádio, por Pedro Tamen, na Vega), mas para poder transmitir-lhe uma nova vida entre nós. Aliás, essa é uma muitas fórmulas de "clássico" que Italo Calvino usa no seu Porquê Ler os Clássicos?, a da vida perene que eles permitem não só a nós mesmos, nem apenas a si próprios como ao mundo inteiro que a ambos nos circunda...
A imagem da capa deste primeiro volume é muito bem escolhida. Retratando o primeiro e único embate inimistoso entre o rei de Uruk, Gilgamesh, e o Homem Selvagem Enkidu, criado para o derrotar, eis que se congelam nesta posição durante dias, num impasse que os demonstra verdadeiramente iguais. Este impasse entre criaturas diferentes mas de igual valor seria e será um dos mais antigos temas repetidos nas culturas do homem, sendo um outro exemplo do tema o embate entre Yahweh e Jacob (mas que o primeiro trapaceia para "vencer"), e que Delacroix pintou de uma forma idêntica à destes autores (basear-se-iam em Delacroix?).
Como ainda estamos no princípio da adaptação, não poderemos ver como os autores desenvolverão a morte dramática de Enkidu e os lamentos de Gilgamesh, episódios magníficos também da emoção humana que pelos vistos se mantém inalterada apesar de milénios passados... O épico original consiste em 11 tabuletas "oficiais" e uma outra, mais tardia, mas que ilumina questões das versões (perdidas) mais antigas, nomeadamente a homossexualidade entre os dois heróis (que deve ser entendida diferentemente da homossexualidade dos nossos dias). Mas isso são questões a aguardar... com ansiedade. Posted by Hello

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