A Flexágono
é uma faceta já consolidada do Festival Literário Fólio, ainda
que se apresente de forma mutável em todas as suas edições.
Enquanto espaço de divulgação e reflexão sobre a criação de
banda desenhada e outros objectos de narrativas gráficas e
territórios contíguos, o seu propósito será sempre o de chamar a
atenção para com uma produção contemporânea, cuidada, que
responde a muitos dos desafios formais e conceptuais destas artes
perante o mundo.
A
banda desenhada é não apenas uma arte com uma história social e
estética próprias, como tem uma natureza viva que se vai
transformando, mesmo que isso nem sempre seja acompanhado por um
número de pessoas que as mereceria, e são muitas as surpresas que
esperam os novos leitores, se estes apenas se prenderem às
expectativas do que conhecem da sua infância ou das esferas do
entretenimento. O ensaio, a autobiografia, o desenho de campo, a
exploração da memória, o gesto de resistência, a refabricação
das tradições ou até de identidades são todos campos passíveis
de visitação desta tarefa artística.
Sempre
tivemos oportunidade de, nas edições anteriores, criar um distinto
e específico diálogo com os espaços onde nos apresentamos, e este
ano não é excepção. O Museu Abílio de Mattos e Silva alberga não
apenas o espólio de um artista multifacetado, que se expressou nas
ditas Belas-Artes mas igualmente em variados campos das artes
aplicadas, e em materialidades múltiplas, como também demonstra a
vontade da designer
Maria José Salavisa, que foi uma pioneira no entendimento e
cruzamentos entre os espaços interiores e a luz, a vivência
quotidiana informada pela beleza e o conceito, o equilíbrio entre as
formas. Todos esses princípios presidiram à selecção de um grupo
de artistas, entre veteranos e novos valores, que precisamente
colocam em acção essas potencialidades do desenho, da narrativa
visual, da expressão gráfica ao serviço da ideia.
Jan
e Aleida Assman consideram que “cada geração transmite cultura à
próxima, não através de um legado genético, mas antes pela
conservação e repetido reexame ou reutilização de objectos
culturais e rituais – formações culturais (textos, ritos,
monumentos) e comunicação institucional (recitação, prática,
observância) – que constituem a cultura objectivizada de uma
sociedade”. Os diálogos entre o fundo do Museu, os artistas de
várias gerações, e um público diversificado, mas também entre o
gesto monumentalizador de um museu e alguma natureza de efemeridade
de uma exposição temporária de objectos gráficos de uma
temporalidade e de um espaço de atenção frágeis, entre substratos
que se vão mantendo e consolidam uma identidade cultural (nacional?,
internacional?, artística?, linguística?, humana?) e de textos de
uma magnífica diversidade de assinaturas e expressões, são apenas
algumas das facetas deste cristal que poderá ser lido de formas
distintas e todas estimulantes, como espalhar de maneira diversa as
práticas da nossa própria leitura.
Organizaram-se duas mesas-redondas, que terão lugar nestes dois próximos dias.
Hoje, dia 19, pelas 16h00, terá lugar o painel Como as imagens leem: relações entre imagens e narrativas, com Daniel
Lima, ilustrador e autor
de banda desenhada, e Catarina Alfaro, coordenadora
da Programação e Conservação da Casa das Histórias Paula Rego
/Fundação D. Luís I.
E amanhã, às 15h30, é a vez de Como
as imagens pensam:
materialidade, forma e presença, com os artistas e autores Lord Mantraste, Maria João Worm e Biakosta.
Ambas têm lugar no mesmo museu.
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